quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Rui Barreiro é um idiota mas não é por mal

Crónica sobre uma decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem que condenou o Estado português numa decisão infeliz dos tribunais portugueses que condenaram o autor desta coluna a propósito de um texto de 2011 sobre a classe política em geral e Rui Barreiro em particular


O PS de Santarém era um saco de gatos em 2011 (e ainda hoje é, em boa parte) e o maior deles era, e é, Rui Barreiro.

Numa página interior desta edição (página 6) a notícia da semana é a condenação do Estado português pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem em defesa da minha pessoa por ter escrito um artigo de opinião em 31 de Março de 2011 onde, preto no branco, criticava a classe política portuguesa e chamava idiota ao ex-secretário de Estado da Agricultura e Florestas, Rui Barreiro.
O Juiz do Tribunal de Santarém, António Gaspar, não teve dúvidas em me condenar com uma multa e uma indemnização a Rui Barreiro por ofensa da honra. No julgamento, o Juiz Gaspar bem tentou que eu explicasse que motivações tinha para chamar nomes considerados impróprios aos políticos, nomeadamente a Rui Barreiro, mas a resposta nunca variou: um jornalista de opinião escreve em função das suas convicções e da sua coragem para enfrentar os poderosos que detêm o poder e muitas vezes fazem uso dele de forma arbitrária. Como não conseguiu perceber que o meu artigo de opinião era uma crítica a toda a classe política, com destaque para o ex-governante, o mais idiota de todos os políticos que conheci, condenou-me sem apelo nem agravo já que o recurso para o Tribunal da Relação de Évora não surtiu qualquer efeito.

Esta decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem fez de mim um dos cerca de 20 jornalistas portugueses que nos últimos 12 anos foram injustamente condenados por abuso da liberdade de expressão. Neste período, segundo dados do TEDH, Portugal é o país da União Europeia que mais abusa da condenação injusta de jornalistas no exercício da sua profissão.

Rui Barreiro é um político fraco e medroso, vingativo, analfabeto cultural, de mal com a vida, que vê em cada jornalista um inimigo. Durante muitos anos obrigou-nos a correr para o Ministério Público porque cada artigo que escrevíamos sobre ele, que não lhe agradava, era queixa pela certa, que acabava sempre arquivada. Quando ainda não se falava em bullying sobre os jornalistas em Portugal já nós tínhamos este idiota político à perna. E nunca nos queixámos porque ouvimo-lo em tribunal confessar que dormia mal e tinha pesadelos quando era criticado no jornal.

Fica aqui a nota, quanto mais não seja para ele saber, caso ainda leia jornais, que pressentimos que o PS ainda tem para lhe dar muitos cargos políticos onde ele pode continuar a pôr à prova a sua idiotice. JAE

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Somos quase todos frangos de aviário

14 bancos portugueses foram multados pela Autoridade da Concorrência em cerca de 225 milhões de euros. Os crimes foram praticados entre 2002 e 2013. Somos todos vítimas das “acções concertadas” da maioria dos bancos para pagarmos o que eles muito bem entendem.


A Autoridade da Concorrência condenou 14 bancos ao pagamento de coimas no valor global de 225 milhões de euros por prática concertada de informação sensível no crédito entre 2002 e 2013. O caso ficou conhecido como “cartel da banca”. A AdC indica que “os bancos participantes na prática concertada trocaram informação sensível referente à oferta de produtos de crédito na banca de retalho, designadamente crédito habitação, crédito ao consumo e crédito a empresas”.
“Neste esquema, cada banco facultava aos demais, informação sensível sobre as suas ofertas comerciais, indicando, por exemplo, as margens de lucro a aplicar num futuro próximo no crédito à habitação ou os valores do crédito concedido no mês anterior, dados que, de outro modo, não seriam acessíveis aos concorrentes”.
Através desta troca de informações, que durou mais de dez anos, cada banco ficava a par da oferta dos outros, o que “desencorajava os bancos visados” de ofereceram melhores condições aos clientes e impedia os consumidores de beneficiarem do “grau de concorrência que existiria na ausência de tal intercâmbio”.
Esta notícia, e esta condenação, pelo que representa e representou para todos os portugueses que contraíram empréstimos, vai ficar na História da nossa democracia e devia ter consequências a nível político. Não me perguntem quais. Também ainda não sei a quem devo agradecer este castigo aos especuladores e aos homens do dinheiro que fazem do povo, e da grande maioria dos empresários, frangos de aviário.



Esta semana num dos relatórios de trabalho que recebo diariamente tomei boa nota de um apelo de um morador de um conhecido bairro de Santarém para que escrevêssemos sobre a fraca qualidade de vida proporcionada por má vizinhança. As redes sociais vieram revolucionar a comunicação mas infelizmente de pouco servem para denunciarem casos de injustiça ou de uma simples denúncia de má vizinhança. Na maioria das vezes os utilizadores das redes sociais limitam-se a escrever comentários verrinosos sobre a actualidade política, social ou económica, praticando a critica com insultos valendo-se do anonimato ou da condescendência das pessoas ou das instituições visadas. O facebook fez de todos nós jornalistas, mas quando toca a denunciar casos de abuso de poder ou de denúncias que podem meter tribunal o exercício da escrita deixa de ser um acto de cidadania junto de quem de direito para ser um apelo a quem tem o dever de dar a cara pelo serviço público de informação. Não estou a queixar-me do meu/nosso trabalho. Estou só a dar conta que todos os jornais são poucos para que vivamos numa sociedade mais justa e informada que lute pela qualidade de vida das populações e, acima de tudo, pela democracia. JAE

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

A sopa da pedra não engana

Uma viagem com turistas brasileiros pela região ribatejana para confirmarmos que somos muito maus a receber turistas e a promover a nossa terra.

Esta semana desviei para Santarém, Almeirim, Chamusca, Tomar e Constância turistas brasileiros que me pediram para lhes mostrar a região. Não tenho boas notícias. Nem tenho a certeza que a esta altura não esteja a ser amaldiçoado por os ter apressado na visita a Óbidos e desviado de Mafra e Batalha. Só não consegui convencê-los a trocarem a visita às praias fluviais da região pelo banho de mar e de gente na Nazaré.
Senti que só os convenci em Almeirim na hora de comerem a sopa da pedra. No resto vi um brilho nos olhos que me pareceu de espanto por termos encontrado os museus fechados à hora do almoço, por algumas igrejas estarem fechadas e sem visitas, e por as lojinhas abertas em Óbidos serem mais atractivas que o número de todas as outras que fomos encontrando na viagem pelo Ribatejo.
Considero a Igreja da Graça em Santarém, e o túmulo do Pedro Álvares Cabral, o melhor cartão de visita do distrito logo a seguir ao Convento de Cristo em Tomar.  Mas os horários de abertura são insuficientes para motivar esperas. Coração que não vê não sente. Apesar do entusiasmo, e da admiração dos brasileiros pelos portugueses aventureiros que se fizeram ao mar para descobrirem o mundo, quem está de férias quer é fazer caminho e diversificar as actividades.
Tenho números que provam que a região ribatejana perdeu turistas nestes últimos anos. A iniciativa da Região de Turismo do Ribatejo e Alentejo em nomear embaixadores é meritória mas não chega nem parece uma solução que produza grandes efeitos. Está na cara que a solução é uma campanha de promoção da região nos aeroportos e junto dos agentes de turismo. Ninguém apanha moscas com vinagre para citar um ditado popular.
A Chamusca tem uma capela no Outeiro da Senhora do Pranto que é única na região devido aos azulejos muito antigos. A chave está na Santa Casa da Misericórdia mas podia estar na casa de um vizinho da igreja que aceitasse o trabalho voluntário e bairrista de mostrar a capela aos turistas mais bem informados que a procuram. A Chamusca é uma terra de gente boa sempre disponível para se voluntariar em nome do seu bairrismo.
A capela do Senhor do Bonfim, que também é única na região, está fechada e imagino que sem condições de ser visitada. Estivemos por lá a comer figos diretamente da árvore e foi o maior consolo que pudemos levar para a viagem até ao Almourol, que agora tem entrada paga mas que continua a ser um monumento mal aproveitado tendo em conta as exigências do turismo actual.
Estou a tentar enfrentar a página em branco onde escrevo esta crónica sem ter a certeza que vale a pena bater no ceguinho. Metade da crónica da viagem fica no computador porque também sinto pena de mim próprio. Tudo indica que, apesar de andar sempre a mudar de lentes, o maior cego da região sou eu. JAE