quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Ministério da Agricultura podia ser governado pelo Bispo de Fátima

Maria do Céu Antunes pode ficar na história como a pior ministra de um Governo depois de Salazar. A forma como fez a gestão do que se passou em Odemira, aliás, do que ainda se está a passar, e como ignora o que se passa nas explorações agrícolas, que se dedicam à agricultura de estufa, vai causar um desastre ambiental sem precedentes.

António Costa tem o maior Governo do país desde que há democracia em Portugal. Esperava-se por isso que tivéssemos uma governação de maior proximidade e um país com políticos preocupados em mostrar serviço. Nunca como hoje conhecemos tão mal quem nos governa. Dos cerca de setenta membros deste Governo só uma dúzia deles aparecem onde deviam e mostram trabalho; os restantes são figuras anónimas que nem a agência LUSA consegue acompanhar, nem os canais da RTP, suportados pelo dinheiro dos contribuintes, inclui nos seus programas de entrevistas ou comentários. À falta de melhor pretexto para aparecerem em público os ministros andam a inaugurar ecopontos. Como todos sabemos já não há fontanários e coretos para inaugurar e visitar empresas e instituições pode custar os olhos da cara aos governantes porque, nesta altura, só há dinheiro da bazuca e mais uma vez vai todo para os mesmos de sempre.

O MIRANTE descobriu na passada semana que as associações de agricultores não falam com a ministra da Agricultura. Descobrimos porque as associações mais pequenas gritaram por socorro perto das nossas secretárias de trabalho. As grandes associações, como é o caso da CAP, limitaram-se a cortar relações com a ministra e nem precisaram de fazer barulho. António Costa tem tudo controlado; facilmente dispensa uma ministra e aceita ser o interlocutor da associação mais representativa dos agricultores. Para ele o Ministério da Agricultura podia estar nas mãos do Bispo de Fátima que não estaria mal entregue.

A pandemia veio mostrar que a democracia pode ser posta em causa se, em primeiro lugar, estiver o pão para a boca e a satisfação das nossas necessidades essenciais. Talvez por isso os adversários políticos de António Costa estejam cagados de medo de falarem dos assuntos mais ricos da nossa vida política e colectiva porque dá muito trabalho fazer oposição em tempo de vacas magras.

Maria do Céu Antunes pode ficar na história como a pior ministra de um Governo depois de Salazar. A forma como fez a gestão do que se passou em Odemira, aliás, do que ainda se está a passar, e como ignora o que se passa nas explorações agrícolas, que se dedicam à agricultura de estufa, vai causar um desastre ambiental sem precedentes. Há barragens no Alentejo que estão a menos de 50% da sua capacidade máxima depois de termos tido um Inverno dos mais chuvosos dos últimos anos. Se a lógica ainda for uma batata, só daqui a meia dúzia de anos voltaremos a ter um ano de chuva como o do último Inverno. Até lá a barragem de Santa Clara, só para dar um exemplo, vai secar com o fluxo de explorações de agricultura de estufa que continuam a crescer no Alentejo depois da água ter faltado em Espanha e de uma boa parte dos seus territórios terem ficado desertos e ao abandono. JAE.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Correio sentimental do Outono em pleno Verão

A crónica desta semana parece uma despedida mas é só uma forma de apresentação aos leitores mais jovens para me vingar das notícias da Segurança Social que deverão chegar no início do Outono.


Nas conversas solitárias com os botões da minha camisa sempre disse que nunca me reformava; e mantenho a decisão embora travestida, o que não me faz sentir mal; tal como mudo de camisa posso mudar de ideias, sem peso na consciência, se as ideias não são públicas ou publicadas. Estou a poucos meses de me reformar por limite de idade e nem acredito.

Quero voltar a Orlando para viajar nas montanhas russas mas agora sem os meus filhos; quero voltar a fazer trilho nos caminhos virgens da floresta amazónica, mas também na Ilha de Páscoa, onde deixei amigos, ou no deserto de São Pedro de Atacama, onde vivi sem luz e sem água da rede e cuja viagem de avião, para lá, acabou a meio por avaria e aterragem forçada. Quero voltar a viajar de comboio por lugares fantásticos, de navio por mares nunca antes navegados, e de barco para voltar a mergulhar no Índico e voltar a enjoar, ainda que seja a coisa mais terrível que pode acontecer a um ser humano.

Recentemente, depois de meia dúzia de dias de férias cá dentro, saí de um hotel para o caminho de casa como quem sai de casa para ir ali ao campo apanhar laranjas. Para meu espanto foram-se as emoções da partida, do tempo que passou rápido demais, do desespero de não ter feito metade do que estava no programa. Senti ainda mais profundo o que tenho vindo a sentir nos últimos tempos e que talvez tenha começado numa manhã em que saí de uma suíte do Thomar Boutique Hotel para o caminho como se estivesse a sair para o trabalho do primeiro andar de um prédio na Chamusca.

Dei por mim a sair da praia, duas horas depois de lá ter chegado, com a sensação que já tinha passado um dia; o meu normal sempre foi ficar por lá o dia todo, fazendo questão de deixar passar a hora do almoço e viver do saco da fruta, de uma côdea de pão com queijo, de amendoins e uma garrafa de água. Acho que cheguei a uma esquina da vida que me impele a mudar de caminho. Sinto cada vez mais que já comprei todas as terras que tinha para comprar, todas as casas e todos os carros; agora o que mais falta fazer é marcar as viagens sonhadas, ler os livros e ver os filmes adiados, aproveitar, até durar, o melhor da minha juventude.

Há 2/3 anos deixei de fazer contas aos negócios dos outros como fazem 99% dos portugueses quando vêm um restaurante cheio ou um comércio que parece rentável. Há falta de assunto, e de projectos de vida consistentes, andamos sempre todos a invejar a galinha da vizinha. Sinto hoje, mais do que nunca, que as minhas vaidades estão satisfeitas, mas as minhas ruínas estão cheias de vida e algumas delas têm uma vista com mais luz que as ruínas da luminosa Itália ou da Grécia. Talvez tenha chegado a hora de viver a minha juventude no sentido em que afirmava Picasso: “é preciso viver muitos anos para nos tornar-nos jovens”.

Como é evidente este texto não é uma despedida; é só uma forma de me apresentar a alguns leitores mais jovens para me vingar das notícias da Segurança Social que deverão chegar no início do Outono. JAE.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Marcelo, o presidente, e Francisco, o seu saudoso sobrinho e afilhado

 


A reinauguração do Museu da Língua Portuguesa é pretexto para falarmos do Brasil mas também de Portugal, de Marcelo Rebelo de Sousa e do seu sobrinho e afilhado, Francisco Themudo de Castro, que morreu tragicamente num acidente de viação e que era uma pessoa notável de quem esperávamos muito, não fosse o trágico e estúpido acidente em que faleceu.

Marcelo Rebelo de Sousa é o melhor Presidente da República pós-25 de Abril. Julgo que ninguém terá dúvidas. O homem fez um percurso notável até chegar a este lugar com larga maioria de votos dos portugueses. Embora seja um constitucionalista e professor universitário reputado, foi como colaborador e director do jornal Expresso durante nove anos que fez um brilharete, depois como candidato à Câmara de Lisboa e mais tarde como presidente do PSD. Ouvi algumas histórias de pessoas próximas que são uma delícia, que mostram a sua capacidade intelectual e de liderança. Curiosamente estou ligado a uma história dramática na vida de Marcelo Rebelo de Sousa. Um dos seus sobrinhos e afilhados, Francisco Themudo de Castro, que morreu no dia 11 de Junho de 2014, num desastre de mota, era um rosto da Associação Portuguesa de Imprensa (API) e tudo indicava que ia ser o novo presidente da associação mais representativa dos patrões da comunicação social em Portugal preparando-se para substituir João Palmeiro que, na altura, já se eternizava no lugar. Marcelo Rebelo de Sousa apoiava o sobrinho e afilhado, tinha interesse em saber do seu trabalho na associação e as pessoas que mexiam os cordelinhos por fora já ligavam a quem tinha opinião, como era o meu caso, sobre o que pensávamos do seu trabalho e da possibilidade de ele assumir a presidência.

Uma morte num acidente estúpido de mota, em Cascais, no dia 14 de Junho de 2014, deixou-nos mais pobres porque o Francisco, para além de um excelente executivo e dirigente, era uma pessoa cheia de virtudes, que faziam dele um homem e um amigo admirável. Com a sua morte a API perdeu a capacidade de se renovar, ficaram, e ainda lá estão os mesmos de sempre, descuidados, desfalcados, um espelho daquilo que a imprensa local, regional e nacional está a passar com a morte de muitos títulos. Como a API não tem solução, e os grandes patrões não se querem zangar no meio da desordem, criaram entretanto a denominada Plataforma de Meios; os cinco grandes grupos de comunicação social juntaram-se e mandaram às urtigas a associação presidida por João Palmeiro.

Resumindo; apesar dos cemitérios estarem cheios de gente insubstituível, a morte de um jovem de 38 anos, cheio de vontade de vencer na vida, preparado para uma missão, pode mudar para pior o mundo de muita gente. Neste caso mudou mesmo. A morte de Francisco Themudo de Castro foi um duro golpe nas aspirações daqueles que ainda acreditam no associativismo e na liderança de uma associação de jornais que defenda em igualdade de circunstâncias os grandes e os pequenos editores. Um homem faz a diferença no mundo e não precisa ser Gandhy, nem Mandela nem José Mujica; pode chamar-se Marcelo Rebelo de Sousa ou Francisco Themudo de Castro.

A visita do Presidente da República ao Brasil para a reinauguração do Museu de Língua Portuguesa em São Paulo foi um fiasco para a diplomacia portuguesa. A língua portuguesa não se valoriza com museus mas sim com políticas de educação, acordos bilaterais com editoras livreiras e discográficas, com apoios às universidades que tenham protocolos luso-brasileiros. Enfim, o Brasil é só a quinta economia do mundo e Portugal, que lhes empresta a língua, é só o país mais pobre da Europa ocidental, embora tenhamos uma democracia que funciona melhor do que em alguns países de África e da Europa de leste. Mas só às vezes. Ninguém faz nada para mudar o rumo desta relação entre irmãos que se conhecem mas não se falam nem querem saber uns dos outros.

Estive na inauguração do Museu no dia 20 de Março de 2006 e senti orgulho em ser português mas hoje reconheço que foi só um sentimento provocado pela emoção do momento e pela felicidade do reencontro em terras de Vera Cruz. Depois disso já me emocionei muito mais a conviver com brasileiros do Maranhão e do Ceará, mas também do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, alguns tão devotos de Nossa Senhora de Fátima como da memória de Pedro Álvares Cabral. JAE.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Todos os dias ficamos um bocadinho mais pobres

 

Onde é que podemos ler, ou ouvir, um deputado da região a fazer ‘mea culpa’ ou a mobilizar os seus camaradas para que esta sangria no interior do país continue a este ritmo? E os autarcas que perdem 15 por cento da população em 10 anos onde é que vão fazer transfusões de sangue para andarem por aí sem se revoltarem e deitarem mãos à cabeça?

Saiu recentemente uma notícia a dar conta que as crianças já passam mais horas a jogar do que a dormir. Não admira. A internet veio revolucionar as nossas formas de vida.

Nas últimas duas semanas estive em tele-trabalho numa ilha da Grécia. Depois de ter apanhado o espírito do lugar comecei a trabalhar online nos meus projectos pessoais e profissionais como uma criança de volta dos jogos. Mal dava por mim já tinha passado a manhã. Saía de casa a correr para dar um mergulho e, a meio da tarde, quando o calor apertava, lá estava eu outra vez no ar condicionado a trabalhar doidinho pelos resultados que consigo alcançar depois de aprender a mexer em algumas ferramentas que ainda há pouco tempo considerava inacessíveis.

Com a mota à porta, o frigorífico cheio, 40 graus à sombra, o tradutor do telemóvel a provar que já sou um expert em língua inglesa, criei uma ilha dentro da ilha para onde voei que me rejuvenesceu alguns anos.

Foi lá que li a notícia dos resultados dos Censos, que é uma desgraça para todos nós, que não vendemos tudo o que temos nas nossas aldeias e vamos investir para o litoral. Os espertalhões que governam algumas das nossas autarquias não percebem que o absentismo deles é a nossa ruína. Todos os dias ficamos mais pobres com a desvalorização do nosso património (quem ainda tem alguma coisa de seu, como a casa da família, por exemplo), o fecho das colectividades, a falta de médicos, de policiamento, enfim, a falta de massa crítica para o desenvolvimento sócio-económico e cultural das nossas terras. E, acima de tudo, a oportunidade de darmos alternativas de vida aos nossos filhos e netos.

Onde é que podemos ler, ou ouvir, um deputado da região a fazer ‘mea culpa’ ou a mobilizar os seus camaradas para que esta sangria no interior do país continue a este ritmo? E os autarcas que perdem 15 por cento da população em 10 anos onde é que vão fazer transfusões de sangue para andarem por aí sem se revoltarem e deitarem mãos à cabeça?



Esta semana O MIRANTE dá mais um passo para consolidar a sua liderança na região e conquistar mais leitores. Acabamos de implementar um novo serviço de assinaturas, uma nova política de trabalho a nível editorial, e reforçamos, e vamos continuar a reforçar, a redacção e o sector comercial.

As nossas melhores histórias, as melhores entrevistas e reportagens continuam a fazer a programação de muitas televisões. É evidente que trabalhamos para os leitores mas não deixa de ser recompensador ver a concorrência atrás da nossa matéria editorial valorizando também as nossas escolhas e os protagonistas dos nossos trabalhos editoriais. As televisões fazem hoje um mau jornalismo, com algumas excepções, como é o caso da SIC e da RTP. Podermos contribuir para uma televisão de maior proximidade com o país real é um privilégio e não uma forma de sermos uma agência de notícias. Devemos parte desta postura de há mais de 20 anos no mercado ao antigo director de programas da SIC, Alcides Vieira, que esteve com a equipa de O MIRANTE em Tomar, num dos nossos aniversários, a falar do mercado das empresas de comunicação e da forma como cada profissional deve olhar para o meio em que vive e trabalha. Bons tempos! JAE.