O Instituto de Estradas mandou construir separadores na Ponte da Chamusca para salvaguardar a estrutura de ferro que foi inaugurada em 1909. Daí para cá a vida das pessoas que precisam daquele tabuleiro de ferro tornou-se um inferno. Os políticos locais comem e calam e assim contribuem para o país desigual em que vivemos.
A travessia da
Ponte da Chamusca, baptizada com o nome de João Joaquim Isidro dos Reis,
continua a ser um problema quase diário para centenas de pessoas que atravessam
o Tejo nas mais variadas situações, certamente que uma boa parte delas por
compromissos laborais. Na passada semana o telefone da redacção de O MIRANTE
voltou a tocar; do outro lado voltamos a ouvir vozes inconformadas a pedirem
que escrevêssemos sobre o assunto porque a travessia da ponte não pode ser um
problema que estrague a vida às pessoas que compraram casa do lado errado do
rio, ou que, por qualquer outra razão, dependem daquele caminho-de-ferro. A
notícia acabou por não ser publicada, nem sequer na edição online, porque nem
sempre os jornalistas estão atrás de um computador e o assunto é grave demais
para escrevermos sobre ele do jeito em que se vai batendo no ceguinho, o que
não é o caso, como todos sabemos.
Por causa da
falta desse texto na edição online chegou-me também pelo telefone uma história
desse dia que é exemplar e que merece ser contada. Um funcionário da Rodoviária
do Tejo (RT), que mora na Golegã, saiu de casa 30 minutos antes de entrar ao
serviço, na Chamusca, onde deveria conduzir o autocarro da manhã com destino a
Lisboa. A distância entre a Golegã e a Chamusca são cinco quilómetros; se a
ponte da Chamusca estiver interrompida por causa dos mesmos problemas de sempre
pode demorar duas horas. Ao perceber que era isso que lhe ia acontecer na manhã
desse dia o personagem desta história deu meiavolta com o carro, voltou a casa,
pegou na moto e fez-se novamente ao caminho de forma a chegar a tempo e horas
de cumprir os seus horários de trabalho e não deixar pendurados os passageiros
da Rodoviária do Tejo.
Conto esta
história para valorizar o acto de vestir a camisola deste funcionário da RT que
bem podia escrever ao seu administrador a pedir-lhe que fizesse queixa ao
Camões por ele não conseguir chegar a horas ao seu trabalho. Certamente que há
outros exemplos a merecerem elogios; e haverá situações bem mais dramáticas de
pessoas que faltam ao trabalho, e a outros compromissos importantes, por causa
dos impedimentos no trânsito na ponte de ferro inaugurada em 1909, a quem foi
dado o nome de João Joaquim Isidro dos Reis, que fez da sua construção uma das
principais batalhas da sua vida.
Os autarcas da
Chamusca acham que os problemas da Ponte da Chamusca se vão resolver por obra e
graça do Espírito Santo. Imagino o presidente da câmara, Paulo Queimado, a
ligar ao Padre Borga, prior da freguesia, para lhe meter uma cunha
Nenhum sacana que governa a autarquia tem coragem para
marchar até Lisboa e meter pelos olhos dentro dos responsáveis do Instituto de
Estradas que não se mexe na vida das pessoas como se vivêssemos numa anarquia.
Não havendo alternativa aos separadores o IE tem que ter os semáforos a
funcionar; se estão avariados os tribunais podem repor a legalidade; os cidadãos
não são verbos de encher; os políticos de proximidade não podem ser bonecos ao
serviço dos partidos em vez de ao serviço dos interesses dos seus munícipes.
Está na hora do reeleito presidente da câmara, e seus vereadores, se amarrarem
aos ferros da ponte, já que politicamente são invisíveis e ninguém lhes liga. JAE