quinta-feira, 31 de março de 2022

O MIRANTE deve muito do seu êxito aos autarcas que gostam e aos que não gostam da nossa linha editorial

A entrega dos prémios Personalidade do Ano é pretexto para valorizarmos as pessoas e as instituições da região mas também para falarmos do nosso trabalho. O texto que se segue é um resumo do que dissemos na abertura da cerimónia de entrega dos prémios Personalidade do Ano que se realizou em Almeirim e que é notícia nesta edição.


O MIRANTE deve muito do seu êxito editorial aos autarcas que gostam de nós e, em igual dimensão e sentimento, também aos que não gostam; se escrevêssemos e editassemos um jornal diário na internet e semanal no papel, para agradarmos a gregos e troianos, já tínhamos perdido a guerra; a nossa história prova que nem sempre tivemos razão mas, na grande maioria das vezes, fizemos bem o nosso trabalho.

A história de O MIRANTE é uma história de sucesso que se deve a uma equipa que, com os anos de trabalho, amadureceu e aprendeu a sobreviver numa sociedade onde os interesses instalados não perdoam a quem é incómodo.

Nem por isso tememos os pequenos e os grandes poderes. Hoje somos mais vigiados por organismos que aparentemente foram criados para salvaguardar a liberdade de imprensa. Quanto mais o poder político se sente acossado pelo jornalismo mais difícil é o nosso trabalho.

Quanto mais denunciamos a corrupção, o favorecimento e a má gestão da coisa pública, assim como o caciquismo, mais difícil se torna sobreviver entre a missão de mostrar trabalho e de defender o jornalismo nos tribunais ou nas entidades que vigiam o nosso trabalho editorial.

Não podemos medir a importância do nosso trabalho pelo número de vezes que vamos ao Ministério Público responder pelo que escrevemos. Mas é importante falar do assunto porque há uma nova classe política que se queixa mais da comunicação social do que alguns políticos do antes do 25 de Abril. É uma triste realidade que não deve ser ignorada.

Há muitos políticos no activo que não viveram as liberdades conquistadas nos tempos do 25 de Abril de 1974  e, por isso, acham que a liberdade de informação e o direito à crítica é um privilégio só para quem tem o cartão de militante de determinado partido político.


Precisamos de regionalizar ou de descentralizar para acabarmos com a sangria da desertificação; para não destruirmos o interior de um país que é muito mais que a Linha de Sintra ou um paraíso para turistas chamado Algarve. Vivemos num território onde se produz cortiça, produto único no mundo, onde corre um rio que é uma das maiores riquezas do país, onde andam cavalos e bois bravos à solta, onde ainda se plantam batatas à beira da estrada porque a terra é abençoada e até debaixo das pedras e das urzes nascem frutos silvestres.

Não podemos abdicar deste privilégio de sermos os guardiões de um país com quase 900 anos de história que não se resume à cidade de Lisboa e à importância da chamada Linha de Sintra onde o crescimento da população é maior por ser naquelas localidades que se concentram a maior parte das famílias que fogem do interior.


Há cerca de três meses que o sítio de O MIRANTE foi alvo de um ataque terrorista. Estamos a trabalhar desde essa altura num sítio provisório com as dificuldades que se imaginam. O ataque que nos apanhou por tabela é único na tentativa de prejudicar o trabalho dos jornalistas em Portugal e só pode estar ligado a grupos de interesses económicos e políticos a quem não interessa a existência de uma comunicação social que faça o escrutínio do poder.  Mesmo condicionados temos levado a Carta a Garcia. E não desistiremos. JAE.

quinta-feira, 24 de março de 2022

Sua excelência a hipocrisia e os 5 milhões de euros de fundos comunitários que o Ribatejo acaba de perder

 Sua excelência a hipocrisia e os 5 milhões de euros 

de fundos comunitários que o Ribatejo acaba de perder


A instalação da delegação da SEDES em Santarém não pode deixar de ser um sinal dos diabos já que acontece na semana em que O MIRANTE conseguiu confirmar a perda de 5 milhões de euros de fundos comunitários para o projecto do Centro de Excelência para a Agricultura e Agro-Indústria.


Na semana em que o poder político na região deu sinal de vida, com a instalação de uma delegação da SEDES, em Santarém, confirma-se que se perderam definitivamente os mais de 5 milhões de euros de fundos comunitários para um Centro de Excelência para a Agricultura e Agro Indústria, previsto para a antiga Estação Zootécnica Nacional. O projecto envolve os dois politécnicos da região, a Nersant, a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo e as universidades de Lisboa e Évora. O INIAVE - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária - era o parceiro principal e, segundo tudo leva a crer, o primeiro responsável pelo facto do projecto ter ficado pelo caminho.

A instalação de uma delegação da SEDES, em Santarém, não pode deixar de ser um sinal dos diabos já que acontece na semana em que O MIRANTE conseguiu, depois de meses de insistência, a confirmação da perda dos milhões dos fundos comunitários, situação que, afinal, pela ausência de respostas às nossas perguntas, já se adivinhava. A confirmação da falência deste projecto, sete anos depois de ter sido apresentado, foi confirmada agora por várias fontes, mas continua a ser segredo para o director do INIAVE, sua excelência Nuno Canada, que não respondeu nos últimos meses às perguntas de O MIRANTE, certamente convencido que a capa de presidente de um instituto público o protege da incompetência que também deve ter tido na condução deste projecto falhado, que é mais uma derrota para a economia ribatejana e para a cidade de Santarém.

Volto à instalação da delegação da SEDES, em Santarém, porque fui lá, e encontrei felizes e engravatados muitos dos dirigentes políticos da região que são responsáveis por mais esta bordoada na nossa economia e um sinal mais do que evidente da fraca capacidade de influência dos dirigentes políticos e empresariais ribatejanos nos gabinetes dos governantes de Lisboa. Em vez de se ouvirem as vozes roucas dos protestos contra o Governo, ali representado pela ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, ficaram registados rasgados elogios, como se ela não fosse mais uma daquelas que vem à região caçar o voto e a simpatia para, logo a seguir, correr para o Terreiro do Paço onde tem os grandes assuntos por resolver. Se as palavras de elogio fossem colo a ministra Alexandra Leitão tinha regressado a Lisboa, na tarde do dia 21 de Março, mais consolada que uma pomba, daquelas que vivem no melhor dos mundos nas casas abandonadas do centro histórico de Santarém.

Pedro Ribeiro, o presidente da Câmara de Almeirim e da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, salvou a sessão da instalação da delegação da SEDES, em Santarém; meteu a boca no trombone e falou em nome de todos aqueles que estão fartos de hipocrisias, jogos de bastidores e cedências ao facilitismo. JAE.

quinta-feira, 17 de março de 2022

“Cidadãos por Abrantes” era caso único nas redes sociais

Morreu Henrique Falcão Estrada, o autor do blog “Cidadão por Abrantes”. Embora fosse um cidadão que fazia tremer os políticos locais, com as suas cacetadas, não houve notícia da sua morte e da suspensão do blog.

Deixamos morrer o autor e criador do blog “Cidadãos por Abrantes” sem anunciar a sua morte ou dar-lhe duas linhas de jornal. Henrique Falcão Estrada, que não conhecia nem nunca vi mais gordo ou mais magro, era autor de um blog que se dedicava a zurzir nos políticos locais com uma regularidade de jornalista encartado.

O facto de actualizar a leitura do blog com intervalos muito grandes fez com que só há uma semana desse pela sua morte que já foi a 29 de Novembro de 2021. Aqui estou a penitenciar-me e a aproveitar a oportunidade para chamar caciques a todos os jornalistas que não tiveram coragem de escrever uma linha sobre o seu desaparecimento quando há muitos a trabalhar em Abrantes que ele citava e até elogiava. Fica aqui o recado também para os jornalistas da casa que só podem ter andado a tomar comprimidos que os impediram de saber do fim da actualização do Blog e da morte do seu autor.

Henrique Estrada deixa um repositório de textos que podem ser úteis daqui a uns anos quando alguém quiser esconder para sempre o trabalho político do trambolho do Nelson Carvalho que só não levou a Câmara de Abrantes à falência porque as câmaras recebem o dinheiro mais fácil do mundo e muito raramente um acto de gestão ruinoso é castigado com perda de mandato ou sequer com uma condenação ou indemnização pelos estragos causados ao erário público. Henrique Estrada tratava a maioria dos políticos locais por caciques e não fazia concessões. Mas atenção: só tratava assim os políticos do poder (PS) por causa da sua grande inimizade e falta de consideração por Nelson Carvalho e pelos seus apaniguados e servidores como Alves Jana e companhia. Depois Maria do Céu Antunes, e agora Manuel Valamatos, também ganharam o “estatuto”, mas outra coisa não era de esperar tendo em conta que eles próprios assumem a herança de Nelson Carvalho, que saiu do concelho logo que deixou de poder ser candidato à presidência da câmara, mas depressa voltou para se aconchegar na protecção dos seus camaradas.

Mesmo a citar a imprensa local e regional, ou os jornalistas que trabalham no concelho de Abrantes, Henrique Estrada era uma pessoa tendenciosa, um escriba que raramente elogiava quem não pertencia ao seu grupo de amigos. Serviu-se várias vezes de artigos de O MIRANTE para desancar nos seus caciques preferidos, mas nunca mais do que isso. Só lhe interessavam os textos que ele considerava que batiam no ceguinho. Já não era assim com os camaradinhas do concelho: elogiava os artigos e os jornalistas que assinavam os artigos mas  agora nenhum deles teve coragem para escrever no seu jornal uma linha sobre o desaparecimento do “caceteiro” mais famoso da terra da palha doce. 

Não sou leitor assíduo de redes sociais mas não desprezo o trabalho de cidadãos que resolvem aproveitar as novas tecnologias para exercerem a sua cidadania. Não concordo com quem faz do acto de escrever um acto de guerra como era, muitas vezes, o caso de Henrique Estrada e de quem o ajudava a sustentar o blog “Cidadãos por Abrantes”; mas devemos reconhecer e tirar o chapéu a quem se recusa a dormir o sono dos justos, quem não se deixa amordaçar, quem tem coragem para apontar o dedo aos dirigentes que não suportam a crítica e reagem à liberdade de opinião como os bois reagem ao vermelho do capote. JAE.

quinta-feira, 10 de março de 2022

A falta de jeitinho também esconde muita arrogância

O apoio aos ucranianos que chegam da guerra não está a ser cumprido como anunciado. Na região, a Nersant apressou-se a oferecer ajuda no emprego enquanto por todo o país a prioridade é oferecer abrigo, apoio médico e alimentar.


As últimas semanas de guerra não foram só na Ucrânia: há uma guerra permanente, embora sem armas de fogo, para sustentar a democracia em Portugal onde ainda se vive muito da “cunha” e podemos ser vítimas a qualquer altura e sem aviso prévio de um banco gerido por um qualquer banqueiro sem escrúpulos, que nos vendem gato por lebre, de um bando de gatunos que nos assaltam em plena rua, de um organismo do Estado que se recusa a pagar o que nos deve, de um Hospital que por falta de profissionais nos deixa morrer numa maca.

Esta semana fui constituído arguido, mais uma vez, só porque não temos medo de exercer a profissão. Da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) vão chegando cada vez mais queixinhas por darmos notícia da má gestão das instituições públicas, mas também por denunciarmos os abusos de autoridade. Quem anda nesta vida leva com o mundo em cima porque, apesar de termos de andar sempre a correr para a PSP e a GNR, e agora para a ERC, ainda temos que manter o ritmo de trabalho porque um jornal não se edita com os textos comerciais e políticos que chegam das mais variadas fontes por correio ou por email.

Muitas vezes fazer a diferença custa os olhos da cara. Vou dar um exemplo; em tempo de guerra, quando por todo o lado há instituições a construírem centros de acolhimento a refugiados da guerra na Ucrânia, a NERSANT aparece na comunicação social pela voz do seu presidente, Domingos Chambel, a anunciar que a associação está disponível para ser intermediária na colocação de mão-de-obra ucraniana nas empresas da região que sofrem com falta de pessoal. Só uma pessoa pouco preparada, sem saber muito bem o que é gerir uma associação empresarial, troca a sua disponibilidade solidária com pessoas que estão a fugir de um país em guerra, para oferecer trabalho em vez de oferecer abrigo, apoio médico e alimentar.

Esta posição da NERSANT não é só falta de jeitinho; é também muita arrogância de quem conquistou o poder pelo poder e acha que pode dizer e fazer os maiores disparates que ninguém vai reparar nem criticar.

Vale a pena recordar que Portugal tem actualmente cerca de 30 mil imigrantes ucranianos, mas já teve 60 mil; quase todos os que se foram embora eram mão-de-obra especializada que Portugal não tinha nem tem ainda. Sou testemunha de vários casos de médicos que trabalharam muitos anos em Portugal como serventes de pedreiros, na recolha de lixo, etc, etc, até conseguirem trabalho na sua profissão na Alemanha ou em França e darem o salto. Sou ainda testemunha de ucranianos que só, quase uma década depois de terem chegado a Portugal, conseguiram deixar o trabalho de limpeza, de operários não qualificados, para exercerem a sua verdadeira profissão e vocação em Portugal. E se aguentaram tanta privação e dificuldades, nalguns casos humilhação, nomeadamente no reconhecimento pelas entidades do estado português das suas qualificações, foi por que constituíram família e raízes em terras lusitanas.

Por último: o Governo português anunciou com pompa e circunstância que a entrada de ucranianos em Portugal fica legalizada de forma automática, o que na generalidade é uma grande mentira; na região do Ribatejo há ucranianos que chegaram há uma dezena de dias e que andam de Pôncio para Pilatos sem conseguirem legalizar a sua situação para poderem candidatar-se ao que lhes foi prometido. Caso para dizer que os paquidermes que habitam as instituições públicas não mudam de pele de um dia para o outro nem que a vaca tussa. JAE.

quinta-feira, 3 de março de 2022

A guerra na Ucrânia e as crianças a morrer de fome na Síria

A lição que os ucranianos estão a dar aos russos, defendendo uma pátria antiga e uma independência conquistada há tão pouco tempo, é uma lição que não podemos esquecer.

Esta semana o jornal festeja mais uma etapa parecida com a de um aniversário. Sinto isso todos os momentos do ano em que publicamos cadernos ou suplementos especiais que fazem a diferença e mostram a vitalidade do nosso projecto editorial.

De verdade, o que publicamos esta semana é só mais uma edição especial dedicada às Personalidades do Ano com algumas das 60 páginas dedicadas a duas dúzias de assuntos que fizeram manchete ao longo de 2021. Ficam a faltar outras tantas por falta de espaço e de capacidade técnica e logística para imprimir um jornal acima das 60 páginas.

Esta sensação de festa, sempre que trabalhamos na edição de um suplemento ou caderno especial, é uma marca do tempo em que se trabalhavam suplementos para sobreviver; hoje já não é assim; mas não faz mal que pensemos assim e que trabalhemos todos os dias como se estivéssemos agora a começar; de verdade nada está garantido; nem a própria vida nós temos na nossa mão se formos descuidados e não soubermos e conhecermos bem o chão que pisamos.

A invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia, e a guerra que agora começou na Europa, foi o pretexto para escrever sobre O MIRANTE e a sensação de que os 34 anos que já levamos de trabalho parecem 34 dias. Dos muitos documentos que guardo, de todas as histórias que contei nestas páginas, há vários aerogramas de Angola e Moçambique de jovens militares que morreram a combater por Portugal e por Salazar e pelos interesses mesquinhos de uma elite portuguesa que não soube perceber a mudança dos tempos. Quando os li há muitos anos, e entrevistei as mães desses militares mortos e hoje esquecidos, percebi melhor o que foi a minha sorte em ter atingido a maioridade num tempo em que já não havia guerra do Ultramar.

A lição que os ucranianos estão a dar aos russos, defendendo uma pátria antiga e uma independência conquistada há tão pouco tempo, é uma lição que não podemos esquecer. Ler e ouvir que os políticos suecos e finlandeses estão a apoiar a compra de armas para que os ucranianos se possam defender dos russos é cruel mas, ao mesmo tempo, uma alegria por perceber que afinal a Europa existe e os políticos que nos governam sabem ser solidários nas horas difíceis. Quem sabe esta crise seja um bom pretexto para que a Europa acabe com as políticas que permitem aos oligarcas russos, e a tantos outros fascistas e criminosos, a lavagem de dinheiro e todas as actividades mafiosas que passam pelas offshores e pelas facilidades em movimentarem dinheiro sujo.

Não há nada que justifique o uso das armas e a invasão de um país, depois do Holocausto, depois da guerra do Iraque, num tempo em que os refugiados da Síria morrem como baratas de fome e de frio.

Nestes dias de guerra na Ucrânia a Amnistia Internacional está a pedir ajuda financeira para acudir a 27 mil crianças que foram abandonadas no campo de al-Hol, na Síria, e que ainda sobrevivem com sede, fome e vítimas de discriminação, violência e assassinatos. Crianças estigmatizadas, detidas arbitrariamente e separadas à força das suas famílias. As televisões portuguesas não mostram mas basta desviar os olhos para outras televisões ou abrir a internet e pesquisar sobre estes assuntos. JAE.