quinta-feira, 30 de junho de 2022

Um recado para a ERC e os seus 4 reguladores de serviço

ERC arquiva queixa de António Valadas da Silva, dá razão a O MIRANTE, mas os quatro reguladores citados neste artigo não deixaram de dar um “caldinho” aos jornalistas como se vivêssemos no tempo do “respeitinho é muito bonito” e “toma lá que já almoçaste”.


O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social emitiu um parecer com 15 páginas em cima de uma queixa do antigo director do IEFP, António Valadas da Silva, que deita por terra qualquer pretensão do dirigente do Estado em condenar O MIRANTE pelo abuso de liberdade de imprensa. Mesmo assim, os quatros membros da ERC pedem aos jornalistas de O MIRANTE que sejam cautelosos no uso de alguns termos. 

O desplante de Sebastião Póvoas, Francisco Azevedo e Silva, João Pedro Figueiredo e Fátima Resende, os quatro membros do conselho regulador da ERC que assinam o documento, são, no mínimo, caricatos já que ao longo das 15 páginas do parecer fica provado aquilo que um juiz do Tribunal de Santarém decidiu em favor de O MIRANTE. Os membros da ERC até podiam citar as declarações da advogada do IEFP durante o julgamento, que denegriram a imagem de uma instituição do Estado, e de uma empresa que confiou na sua direcção e nos seus funcionários; os membros da ERC podiam até analisar o comportamento de um dirigente de um organismo do Estado que fez terrorismo contra a administração de O MIRANTE, valendo-se das prerrogativas de quem trabalha para o Estado e sabe que tem “a faca e o queijo na mão”. A verdade é que o jurista da ERC só se preocupou em tentar descortinar uma falha dos jornalistas de O MIRANTE, escrutinando da qualidade e da oportunidade do nosso trabalho editorial; e não ficaram dúvidas, acompanhadas pela opinião de ilustres constitucionalistas que o jurista da ERC citou ao longo do texto como Jónatas Machado, Gomes Canotilho, Vital Moreira, Costa Andrade entre outros, de que os jornalistas de O MIRANTE cumpriram a sua missão.



Está no texto, claramente, que O MIRANTE foi vítima das funcionárias do IEFP dirigido pelo bonacheirão do António Valadas da Silva, que durante nove anos se recusou a pagar o que devia, o que obrigou a empresa editora de O MIRANTE a recorrer ao tribunal e a chamar como testemunhas dois anteriores presidentes do IEFP. Para os quatro reguladores, os jornalistas têm razão, mas deveriam ser mais moderados nas palavras que escreveram para evitarem o “sensacionalismo”.

Ficam aqui algumas perguntas para os quatro membros da ERC que assinaram este relatório que deve ter custado uma pipa de massa à instituição: e se elaborassem uma lista de termos a que os jornalistas podem recorrer quando um tipo que domina o maior instituto público do país resolve fazer terrorismo de Estado? E se enviassem uma lista de procedimentos a todos os jornalistas que têm obrigação de escrutinar o poder político com termos que condenem claramente os dirigentes que tratem a generalidade dos cidadãos como ovelhas estúpidas? E se fossem dar uma voltinha aos arquivos da PIDE que censuraram durante meio século da mesma forma que agora nos querem censurar os termos usados nos nossos artigos embora sejam no limite da liberdade de Imprensa? Foi para nos meterem medo Senhores Reguladores? Não há jornalistas por mais injustiçados que sejam que não mereçam um caldinho, é isso? JAE 


Nota: os leitores podem encontrar o texto da decisão no sítio de O MIRANTE onde este artigo também vai ser publicado na quinta-feira, dia em que o jornal vai para a banca e para os assinantes.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Um elogio ao poeta João Rui de Sousa

Morreu João Rui de Sousa, um dos poetas mais importantes da poesia portuguesa das últimas gerações, um ensaísta de excepção e um amigo que publicou em O MIRANTE um dos seus melhores livros de poesia, “Obstinação do Corpo”.

Estava em cima de um telhado quando o telefone tocou a anunciar a morte de um amigo, poeta daqueles que nunca usam o termo da boca para fora se não for a falar dos outros. João Rui de Sousa morreu no passado sábado enquanto eu fazia aquilo que ele mais apreciava, que era sujar as mãos de terra e depois lavá-las na água corrente do rio. Era isso que tinha acabado de fazer horas antes de subir ao telhado para fazer as limpezas de Verão nas árvores do vizinho que caem para cima de um dos meus telhados e as folhas entopem os algerozes. 

Quando liguei de volta, uma vez que não é fácil atender um telemóvel ao primeiro toque em cimo de um telhado, tinha uma voz conhecida lá do outro lado a avisar-me que o corpo morto de João Rui de Sousa ia dar entrada no outro dia numa igreja de Lisboa, onde seria velado até ao dia seguinte. Liguei a um dos seus filhos e ele confirmou com uma voz triste e pesarosa.

Desci o telhado e fui escrever uma notícia. O Fábio foi ao arquivo do jornal e encontrou uma foto que não resisti a publicar; João Rui veio ao meu encontro várias vezes a Santarém mas naquele dia estávamos com o Luís de Miranda Rocha e o Pedro da Silveira, o escritor que me deu a oportunidade de conhecer o homem com o pior génio do mundo; no entanto era amigo do João Rui de Sousa, que era a melhor pessoa do mundo e, regra geral, não mostrava o seu mau gênio embora também o tivesse.

Não me lembrava da foto, e no entanto lembro-me de ouvir João Rui de Sousa à beira Tejo, quase por baixo da Ponte D. Luís, a mergulhar as mãos na água corrente dizendo que a poesia muitas vezes está mais nos pequenos gestos do que nos inspirados versos dos poetas.  Não juro que a frase tenha sido exatamente assim: o que sei é que ele me fez um elogio que na altura me encheu a alma. João Rui de Sousa era um poeta premiado, admirado, justamente reconhecido pelos seus pares como um dos maiores e melhores poetas portugueses. O facto de sermos amigos jogava sempre a meu favor. Era eu que aprendia sempre no convívio com ele. João Rui de Sousa era de poucos sorrisos mas era um poeta e um homem que não pedia licença para ser verdadeiro, bom conversador mas de poucas palavras; sempre ia directo ao assunto como só ele sabia, pouco de elogios e muito de abanar a cabeça como quem diz “é isso mesmo”.

Nasci quando ele tinha 27 anos e fundou uma revista literária que lhe havia de dar fama e proveito. Quando nos conhecemos a diferença de idades era menos visível. Editamos em O MIRANTE, em 1996, um dos seus melhores livros e talvez o mais inspirado chamado Obstinação do Corpo. É um livro que entretanto teve continuidade, mas por culpa minha já não foi O MIRANTE que editou. Foi graças a ele que o Pedro da Silveira organizou, também para a colecção de poesia Alma Nova de O MIRANTE, uma antologia do Valadares Gamboa e do Guilherme de Azevedo. Luís de Miranda Rocha era também um amigo dos velhos tempos do “Diário de Lisboa”, onde trabalhou até o jornal fechar. Carrancundo, homem pesado no verdadeiro sentido da palavra, mas um jornalista cultural dos velhos tempos. Nesta foto podia estar também o António Ramos Rosa ou o José do Carmo Francisco que, na altura, também participaram na Alma Nova ou foram testemunhas da partilha e da amizade que a colecção gerou entre muitos de nós. Quanto mais velhos ficamos mais dificuldade temos em fazer amigos; perdê-los, como foi o caso de João Rui de Sousa, é que o custa mais. JAE.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Uma homenagem ao fotojornalista Henrique de Carvalho Dias

Texto de homenagem à arte do fotojornalista Henrique de Carvalho Dias no dia em que inaugurou em Santarém uma exposição de fotos do seu livro sobre os 35 anos de alternativa do cavaleiro Luís Rouxinol.


Identifico-me muito com a pessoa que é o Henrique de Carvalho Dias assim como com o fotojornalista que conheci há muitas décadas quando ele era fotojornalista e eu era apenas um jovem forcado. A memória dele sobre mim é bem mais recente mas, mesmo assim, há aqui muita gente que não era nascida quando nos voltamos a cruzar, ele ainda como fotojornalista e eu já como jornalista. Estamos a falar, num primeiro caso, de há meio século, e no segundo de há 35 anos, mais um menos um.

Houve uma altura em que O MIRANTE ainda crescia a olhos vistos, coisa que agora ainda acontece mas mais devagarinho e discretamente, em que publicávamos regularmente fotos da festa da autoria do Henrique, daquelas que só se conseguem quando se dispara muito e se está no sítio certo à hora certa. Essa colaboração acabou, nem me lembro porquê, mas a amizade manteve-se até hoje e a colaboração entretanto também voltou e a política editorial de O MIRANTE relativamente às corridas de toiros deve-se inteiramente à colaboração do Henrique de Carvalho Dias.

Ao longo deste meio século mudei mais do que o Henrique no amor pela festa brava. Embora ainda tenha o bichinho dos toiros, já não estou apaixonado, aliás, nem sequer vivo um amor quanto mais uma paixão. Mesmo assim sinto-me muito mais emocionado quando me sento numa praça de toiros do que nas bancadas do estádio de Alvalade a ver jogar o meu Sporting. O meu problema com o futebol é civilizacional e cultural. Com a festa brava é cultural e civilizacional. Para mim a festa ainda é uma manifestação cultural, e lúdica também, que as fotos do Henrique de Carvalho Dias dão, aliás, um bom testemunho. Mas o Henrique representa hoje como fotojornalista um pouco daquilo que é o meu desencanto com a festa e com os seus protagonistas. Nos últimos anos o Henrique sofreu na pele situações de discriminação e de falta de respeito; inclusive, se bem me lembro, aqui mesmo nesta praça em Santarém. Felizmente que está aqui e que outras pessoas mais dignas e respeitadas também o reconhecem e respeitam como ele merece.

Nada que me surpreenda quanto ao passado recente. A vida de um fotojornalista não é diferente da vida de um toureiro ou de um escritor, de um cientista ou de um artista plástico. Chega uma altura em que ou somos donos do nosso nariz, do nosso negócio, ou há mil pessoas à nossa volta a quererem ocupar o nosso lugar nem que para isso tenham que passar por cima das nossas bochechas. É a lei da vida. Se se dá o caso de falarmos em armas apontadas ao peito, ou matas ou morres; se se dá o caso de as armas serem máquinas fotográficas, ou canetas que escrevem notícias ou artigos de opinião, ou és muito bom e muito resistente e sobrevives ou se deixas de ter onde publicar de nada te vale seres o melhor de todos.

Há muitos anos que aprendi isso. Os melhores jornalistas ou fotojornalistas são os melhores também porque trabalham nos melhores órgãos de comunicação social. Ontem à noite, a RTP 2 transmitiu um documentário sobre Paulo Cunha e Silva, que conseguiu levar para a Fundação de Serralves uns objectos que pertenceram ao histologista Abel Salazar. Diz ele, nesse documentário, que quem conseguir levar um objecto para um museu o transforma em obra de arte. Nada mais verdadeiro há 20 anos quando se realizou essa exposição e também nos dias de hoje em que se realiza esta mostra da autoria do Henrique de Carvalho Dias.

Curiosamente a festa dos touros está a perder cada vez mais esse estatuto de manifestação cultural porque são cada vez menos os Henriques de Carvalho Dias a defenderem as touradas como uma arte e não apenas como um espectáculo lúdico.

Acho que a festa deve ao fotojornalista Henrique de Carvalho Dias essa homenagem. Um dia que alguém consiga trabalhar em favor de um museu da tauromaquia, que bem podia ser em Santarém, e neste espaço que, como todos sabemos, está sub-aproveitado, muito sub-aproveitado, para falarmos verdade e sem receio e misericórdia. E a homenagem ao Henrique deve-se não só por ser um dos mestres da arte da fotografia taurina mas pelo amor à festa, à paixão que ainda mantém pelos toiros e a admiração pelos toureiros, pelos forcados e pela generalidade das pessoas ligadas às tradições da festa.

Óscar Lopes, um dos críticos mais conhecidos no meio literário dos últimos 100 anos, escreveu um dia que um escritor só se deve considerar escritor depois de 20 anos a escrever ininterruptamente. Acho que se ele falasse de fotojornalistas não diria nada de diferente. O Henrique é um mestre da fotografia e já leva uns bons pares de vinte anos a mostrar o que vale.

Por último; alguém escreveu um dia, não me lembro quem, que a fotografia, a arte da fotografia, precisava de encontrar um Picasso pelo caminho. Gosto de pensar no assunto mas se me perguntassem agora se estou de acordo diria que não. Pelo menos em parte. As fotografias de Henrique de Carvalho Dias são únicas como são as de Eduardo Gageiro, de quem também sou amigo e admirador.

Agora sim, por último: se as touradas não fossem um parente pobre das nossas cada vez mais pobres tradições; se Portugal não fosse um país de invejosos, Henrique de Carvalho Dias já teria direito a uma exposição numa das galerias portuguesas de prestígio, a publicação dos seus livrinhos de forma artesanal já teriam dado lugar a um livro de capa dura e papel couché. Infelizmente para ele e para a festa dos toiros não se adivinham melhores dias. Nada melhor, por agora, que o termos entre nós a trabalhar como só ele sabe, com a paixão que só ele domina e sabe conduzir.

Há um valor humano e uma qualidade estética nas fotografias de Henrique de Carvalho Dias que nenhum jornalista, por mais experimentado e culto que seja, consegue explicar por palavras.

Para mim o Henrique de Carvalho Dias é um ícone dos fotógrafos taurinos.

Longa vida ao Henrique e, já agora, desejos de melhor sorte com os amigos, onde me incluo, onde nos incluímos, para que a sua Obra nunca seja esquecida e possa ser valorizada como merece.

Citando uma frase do trabalho do multifacetado artista, político e fundamentalmente agitador cultural que foi Paulo Cunha e Silva, "o futuro começa agora ou não começará nunca".


NOTA

Um elemento da organização e gestão da "Celestino Graça", cinco minutos depois da leitura do texto, aproveitando um momento a sós, ameaçou o autor com palavras impróprias para reproduzir aqui com o argumento de que o texto é provocador e ofensivo; com os dentes serrados e a cuspir impropérios só faltou usar comigo um ferro daqueles que os toureiros usam nas suas lides. Fica o registo para memória futura. 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Fruta com pesticidas perigosos não preocupam a ministra da Agricultura

Em Maio deste ano um estudo de uma organização internacional anunciou que a Europa, e Portugal em especial, continuam a aumentar a utilização de pesticidas perigosos nos pomares, nomeadamente de pêras, maçãs, cerejas e pêssegos. A ministra da Agricultura disse que era tudo uma grande surpresa e que desmontava a trama em poucos dias. Foi até hoje.


Andamos todos a comer fruta com pesticidas proibidos, ou que deviam ser proibidos, mas entretanto a Feira Nacional de Agricultura dá-nos exactamente aquilo que nos dá a Festa da Ascensão na Chamusca: música e touradas para esquecermos que vivemos à sombra de dirigentes políticos e associativos especialistas em beijinhos na boca e toma lá que já almoçaste.

Não me resigno. Apesar das associações de produtores criticarem a comunicação social por dar mais importância aos estudos internacionais que ao esforço dos agricultores que abastecem o mercado de fruta portuguesa, estou do lado da comida saudável.

Um estudo apresentado recentemente pela rede de organizações não governamentais PAN Europa, diz, claramente, que andamos a comer pêras, maçãs, pêssegos e cerejas com pesticidas que já não deviam ser usados na Europa e que em vez de o seu uso ter diminuído ainda aumentou nos últimos nove anos. Com base na análise de mais de 97 mil amostras de fruta fresca cultivada na Europa, e em dados oficiais dos 27 Estados-membros, o estudo – “Forbidden Fruit” – revela que, em 2019, cerca de um terço da fruta continuava a revelar resíduos de pelo menos um dos 32 piores químicos ainda autorizados na União Europeia, que estudos científicos apontam como sendo desreguladores endócrinos, substâncias persistentes, bioacumuláveis e tóxicas, associados a problemas de fertilidade ou cancerígenos. Entre estes constam o fungicida “Ziram” (associado a disrupções endócrinas); o insecticida “Pirimicarb” (suspeito de efeitos carcinogénicos), o fungicida “Metconazole” (potenciais efeitos no sistema reprodutor humano). A PAN Europa quer que sejam banidos do mercado rapidamente e para isso está agora a iniciar uma nova campanha contra os produtos perigosos na agricultura.

O estudo da PAN Europa está em quase toda a imprensa portuguesa. As más notícias vêm acompanhadas da recordação de um programa denominado “Do Prado ao Prato” que faz parte de um Pacto Ecológico Europeu de reduzir em 50%, até 2030, o uso de pesticidas na agricultura. Ao contrário do que era esperado várias substâncias químicas usadas em pesticidas, herbicidas, insecticidas e fungicidas, que já deveriam ter sido substituídas, continuam a ser usadas na fruta e vegetais que consumimos diariamente.

O que podemos concluir deste estudo é que o risco de comermos fruta contaminada com pesticidas aumentou dramaticamente, o que contraria tudo aquilo que esperávamos dos produtores e das autoridades que têm obrigação de vigiar a utilização de produtos perigosos na agricultura. 

Uma nota final e um aviso que deixo para eu próprio também não me esquecer: não comer fruta com casca e recorrer cada vez mais à produção biológica.


PS. A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, foi confrontada pela agência Lusa a 25 de Maio, em Bruxelas, onde se encontrava numa reunião de ministros da agricultura, e a sua resposta foi peremptória; não conheço nem acredito nesse estudo. Quando chegar a Portugal vou esclarecer tudo. Foi até hoje. A imprensa nunca mais falou no assunto e a ministra Antunes finge que o estudo nunca existiu nem voltará a ser notícia até saltar para outro qualquer lugar de (i)responsabilidade governativa. 

JAE.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Jornalistas dormem embrulhados em lençóis de papel

Embora escreva às três da matina, e tenha que me levantar bem cedo, ainda vou fumar um cigarro ao quintal para ficar meio bêbado e depois cair na cama com a sensação de que me vou embrulhar em lençóis de papel de jornal.

Não sinto qualquer pressão para alimentar esta coluna semanalmente. Poucas vezes sofri para escrever o texto da praxe. Nem me sinto obrigado a falar de assuntos de proximidade embora seja cauteloso a falar de assuntos pessoais que não sejam a partilha de livros e filmes ou assuntos banais que muitas vezes só servem para encher chouriços. Não me considero obrigado a escrever todas as semanas e também não me sinto figura pública, embora tenha que dar a cara por causas públicas que, isso sim, me impele a escrever quando sinto que mais ninguém o fará por mim ou com a visibilidade que posso dar aos assuntos. É por isso que não conto aqui a aventura recente que me levou a comprar uma caravana vintage, que tardei em comprar e que não evitou que me metesse numa camisa de sete varas; o caso é para rir, embora eu ainda acredite que me vou tornar a médio prazo num autocaravanista de referência.

Enquanto escrevo este texto, trabalhando em três documentos do Word sobre assuntos diversos, dou notas a um jornalista sobre a assembleia-geral da Nersant onde participei ao final da tarde e de onde saí com a sensação que devia emigrar o mais rápido possível. 

Acabei de editar dois artigos de opinião de dois colaboradores regulares da edição online. Em breve vamos publicar um verdadeiro folhetim que vai dar brado a nível nacional e internacional graças à colaboração e ao empenho de um ex-deputado que vai contar a sua história recente nos inquéritos parlamentares que fizeram história e vão ficar para a História. Ajudei a direcção editorial a escolher as duas dezenas de textos que esta semana ficam de fora devido ao fluxo de publicidade e de artigos de economia que enchem mais de metade da edição. Não precisamos de pavilhões na Feira do Ribatejo para vivermos a festa e trabalharmos editorialmente e comercialmente como mais ninguém jamais conseguiu trabalhar com os empresários do sector.

Estamos com um sector comercial reforçado. Vamos mudar de chefias a nível editorial e estamos a contratar jornalistas. Vamos continuar a apostar na edição de outras publicações dirigidas a um público de proximidade.

Mais de metade dos nossos assuntos de sociedade chegam pelo telefone e são de leitores que confiam no nosso trabalho de serviço público. Os números de leitores online continuam a aumentar como se pode confirmar no texto ao lado desta coluna. Em termos de assinaturas da edição em papel estamos a ser mais cautelosos mas depois da crise eis que começamos a aproximarmo-nos das tiragens de outros tempos. Para acabar: não frequento festas nem aceito convites para casamentos. Mas a verdade é que desta vez vou mesmo estrear um fato para ajudar a apadrinhar um casamento de dois jornalistas da equipa editorial. Com a minha idade é mais que certo que será o último. Embora escreva às três da matina, e tenha que me levantar bem cedo, ainda vou fumar um cigarro ao quintal para ficar meio bêbado e depois cair na cama com a sensação de que vou gostar de me embrulhar em lençóis de papel de jornal. JAE.