quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A Lídia Jorge, os livros a mais e os juízes corruptos

A Rede Europeia de Conselhos de Justiça fez um inquérito junto de cerca de 16 mil juízes de 27 países.  26% dos 494 magistrados portugueses inquiridos disseram acreditar que durante os últimos três anos houve juízes a aceitar subornos ou a envolverem-se em outras formas de corrupção.


A cultura é tudo o que resta depois de termos esquecido tudo que aprendemos. Relembro esta frase, atribuída a vários autores, porque recentemente reli Gabriel Garcia Marques e constatei a qualidade da escrita e da pontuação do texto. Sei que lhe devo muito do gosto pela escrita e pela literatura, mas à medida que os anos vão passando vamos descobrindo melhor o segredo dessas passagens de testemunho que roubamos aos escritores graças ao trabalho dos editores, distribuidores e livreiros. A economia de palavras neste romance, que conta uma história datada, mas que não deixa de ter ainda a sua beleza, lembra que o que parece fácil demora muitos anos a aprender; e para muitos nunca chega a ser uma lição porque ficam pelo caminho. Recordo duas entrevistas de trabalho que fiz esta semana com jovens licenciados em jornalismo que confirma o que sei há muitos anos: as licenciaturas começam e acabam sem que os alunos saiam da sala de aula; uma gatunice dos gestores das universidades e um mau trabalho ao país que é um dos mais pobres da Europa em literacia. A profissão de jornalista que devia estar em crescendo, é das mais desprestigiadas da actualidade muito por culpa dos gestores das universidades que dão licenciaturas sem ensinarem a prática do jornalismo.


Aproveito o tempo de férias para falar de livros e de autores. Regozijo-me com a tradução para chinês do romance "Os Memoráveis", de Lídia Jorge, uma escritora que conheço bem e com quem cheguei a ter relacionamento pessoal na altura em que fundei O MIRANTE. O “Dia dos Prodígios” foi um dos primeiros que comecei a ler nas viagens intercontinentais que servem para fugir ao trabalho. A notícia obriga-me a trazer aqui a memória de Maria Ondina Braga com quem também aprendi muito no tempo em que era um jovem jornalista e ela uma autora já com obra reconhecida. Maria Ondina Braga foi professora em Goa e Macau, e um dos seus livros mais conhecidos é exactamente “A China Fica ao Lado” (1968). Guardo das nossas conversas e de meia dúzia de cartas que trocámos a imagem de uma mulher que faz lembrar Lídia Jorge em muitas qualidades humanas: serena, culta, disponível para toda a gente que a procurava, reservada qb., trabalhadora incansável da palavra, incapaz do autoelogio, sempre à procura da perfeição na escrita.


A Rede Europeia de Conselhos de Justiça fez um inquérito junto de cerca de 16 mil juízes de 27 países. 26% dos 494 magistrados judiciais portugueses inquiridos disseram acreditar que durante os últimos três anos houve juízes a aceitar subornos ou a envolverem-se em outras formas de corrupção. Na classificação final, Portugal ficou apenas atrás de Itália (36%) e Croácia (30%), igualando a percentagem da Lituânia (26%). O presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP) já pediu uma resposta urgente a esta situação junto do Conselho Superior da Magistratura com o argumento de que se ficarem calados, os cidadãos vão dizer que se os órgãos de gestão das magistraturas não actuam é porque o problema já não está na corrupção, mas nas pessoas que têm a obrigação de a combater e denunciar. 

Sou dos que já sentiu na pele a falta de preparação dos juízes para os assuntos que estavam em tribunal; é verdade que nem todos os juízes são corruptos, felizmente. Também há outros que sabem muito de crime e não percebem nada da lei da liberdade de imprensa mas não se importam de condenar com a mesma facilidade que vão almoçar ao OH! Vargas, em Santarém ou ao Solar dos Presuntos, em Lisboa. JAE.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Estamos entregues a gente má e analfabeta

Há pessoas com doenças cancerosas que não conseguem receitas para aviar os medicamentos que lhes fazem falta para terem uma vida digna e justa. As receitas electrónicas são desconhecidas na maior parte dos centros de saúde; os doentes são obrigados a permanecerem dias inteiros para conseguirem uma receita que podiam receber em casa no telemóvel.


A crônica desta semana é azeda mas eu não tenho culpa. Esta semana publicamos mais um texto sobre a falta de médicos, neste caso no concelho da Chamusca. A posição do presidente da câmara local sobre este problema é uma vergonha, própria de um sujeito que não sabe quem é que lhe fez as orelhas. Sou da terra e converso com muita gente que acha que ainda tem que se curvar perante a importância dos médicos, dos presidentes e dos generais que comandam os interesses instalados, seja nas autarquias, nos Centro de Saúde e por aí fora. Não temos. Vivemos uma época em que os poderes e os seus protagonistas têm que dar conta do serviço público que prestam. Infelizmente a Chamusca é um caso triste de subserviência de uma parte  da sua população a um executivo de políticos abalfabetos, bem na vida, mas que fazem a vida negra aos outros.


Há pessoas com doenças cancerosas que não conseguem receitas para aviar os medicamentos que lhes fazem falta para terem um fim de vida digno e justo. Há bem pouco tempo ouvi de viva voz uma vizinha a contar que por causa da falta dos medicamentos teve que ser assistida no hospital de Santarém onde esteve três dias internada para recuperar. A história é longa e não tem sentido contá-la aqui. O que quero denunciar são estes sacanas dos políticos e dos médicos que sabem que o problema desta gente se resolve com uma receita eletrónica mas não fazem nada para agilizarem os serviços de forma a minorar o sofrimento das pessoas e não as obrigarem a sofrer como cães.

Qualquer serviço de saúde bem organizado consegue dos médicos as receitas que são precisas para as pessoas incapacitadas, cancerosas ou com outras doenças crônicas, ou até que não têm como se deslocarem ao Centro de Saúde. A Câmara Municipal tem dezenas de funcionários que não fazem um corno durante um dia de trabalho. A autarquia, em situação limite como é agora o caso, podia ter um serviço de apoio à sua população, e o presidente da câmara tem que ter capacidade para falar com os responsáveis da saúde para implementarem um serviço de receitas que é comum até em países do terceiro mundo.


Sei que estou a bater no ceguinho; sei que para alguns daqueles que me lêem estou a ser injusto com os rapazolas da política que gerem a autarquia da Chamusca. Mas que se lixe. Tenho idade para dizer o que me vai na alma e estatuto para levar umas ripadas se com isso ajudar aqueles que não têm quem lhes acuda.


Nesta edição damos conta de uma situação que só prova que não podemos dar confiança aos políticos preguiçosos e irresponsáveis. Em julho passado registaram-se em Portugal 1716 mortes em excesso relativamente às últimas décadas e os especialistas alertam para os efeitos socioeconómicos sobretudo entre idosos. A mortalidade em 2022 está a ser comparada à de 1923, a seguir ao surto da gripe espanhola. Especialistas ouvidos pelo jornal Expresso não têm dúvidas que as mortes se devem a razões sócio económicas e falta de cuidados médicos. JAE.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

A chegada da Mercadona e o burburinho que causou em Santarém

A chegada da Mercadona a Santarém obrigou algumas das maiores superfícies comerciais, já instaladas na cidade, a realizar obras e grandes campanhas de desconto, que só favorecem o consumidor.

A chegada da Mercadona a Santarém criou uma pequena revolução no comércio local que merece reflexão. Como todos sabemos, algumas das grandes superfícies instalaram-se em Santarém de uma forma pornográfica, algumas delas quase ocupando a estrada nacional e anunciando a sua presença com publicidade às marcas de uma forma que é um atentado à paisagem, numa cidade que tem orgulho dos seus pergaminhos históricos. Não falo em nomes, pois, cada um que tire as suas conclusões. O que acho digno de notícia, esquecendo por agora os autarcas idiotas que permitiram tal desgoverno na construção desses edifícios, foram as obras que decorreram nos últimos tempos em algumas empresas concorrentes da Mercadona, assim como as campanhas de desconto que começaram, e ainda decorrem, nas maiores superfícies, como a quererem fixar os seus clientes numa estratégia comercial que só beneficia os consumidores.

A ideia de que negócio gera negócio fica provado com o investimento em obras e em descontos ao consumidor que a chegada da Mercadona veio provocar na concorrência. Não sei, nem perguntei, se as obras de renovação dos espaços pagaram licenças como pagam os pobres cidadãos comuns; não sei nem perguntei se o tempo de espera das licenças para as grandes empresas, que representam as grandes marcas foi o mesmo que costuma ser para os munícipes e os pequenos lojistas. Dou de barato essas questões por agora pois o que nos interessa destacar é a chegada a Almeirim e a Santarém de mais uma grande empresa que vem para acrescentar valor e chegou com uma postura de colaboração e proximidade que não é normal nos grandes grupos instalados.


Santarém perdeu nas últimas décadas muito do seu pequeno comércio. O centro histórico, que é a alma da cidade se não é tem que voltar a ser precisa do apoio financeiro que a autarquia tem que cobrar às grandes superfícies que se instalam à beira da estrada. Mais ainda: as grandes superfícies que pintam as suas paredes com as cores e os símbolos das suas marcas deviam pagar taxas de publicidade milionárias de acordo com a poluição visual que causam, já que os estragos na paisagem não têm preço nem podem ser só avaliados em euros. JAE.