Há escritores que me fascinam. Lídia Jorge é um deles. Gosto da autora de O Dia dos Prodígios pela originalidade da sua escrita e pela coerência da sua voz. É dos grandes escritores portugueses vivos que não aceita fretes dos jornais ou das revistas para dizer banalidades como esses escritores da moda analfabetos que devem a venda dos seus livros à propaganda enganadora. No dia em que a autora de O Vale da Paixão esteve em Vila Franca de Xira andei por outros caminhos onde me cruzei com a última edição da Colóquio Letras onde Lídia Jorge fala em entrevista com a jornalista Ana Marques Gastão. Fica aqui um resumo de uma conversa no papel que a meio da tarde me encheu a alma.
“Sinto esperança no colectivo, que nunca me é abstracto. Nesse aspecto pertenço ao grupo dos prostitutos da esperança ( : ) Acho que sou uma pessoa de combate.
Existem degraus imprecisos onde todos os homens se sentam. Por alguma coisa escolhi para epígrafe de um dos meu livros os versos de Dylan Thomas que falam dessa simbiose entre o carrasco e o inocente. “ Eu não tenho jeito para dizer ao homem enforcado/ Como da minha argila é feito o lodo do carrasco”.
Eu não aspiro à paz. Ela não é deste mundo. A menos que nos refiramos ao intervalo de sossego que acontece entre o desassossego. Aí sim, a paz transforma-se num armistício prolongado (:).
É preciso dizer que a felicidade existe. Experimenta-se e é objetiva. Mas não é narrável. Já a infelicidade é narrável (:).
Sei que sou uma caçadora atrás de uma presa inalcançável (:) Quando inicio um livro sou uma descamisada.
Os anos passam, a sociedade moderniza-se, e no entanto continua a existir um país indolente e amedrontado, que não se expressa. Um país que não encontra os gestos certos para acenar na rua, nem a voz própria para dizer o que lhe vai na alma (:) não deixa de ser extraordinário como somos ainda uma sociedade que voltou a ter um medo salazarista quando culturalmente nos tornamos cosmopolitas e modernos (:).
Quero entregar ao leitor o melhor texto possível. Como uma prenda fechada. Por isso ele não me é indiferente, nem está ausente, mas não cedo, nem concedo, porque o respeito. Quero que o nosso jogo seja limpo (:) se não nos entendemos paciência (:) Entre escritor e leitor o texto não é negociável”. JAE
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