Vivemos tempos novos que é preciso saber entender para não nos perdermos pelo caminho. Há muitos anos tinha como referência nomes cimeiros da vida portuguesa. Lia o Mário Castrim, Fernando Piteira Santos, Baptista-Bastos, Mário Mesquita, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira e muitos outros jornalistas e escritores que considerava meus mestres. Para mim o ofício de jornalista era mais importante que qualquer outro. Mal sabia eu que o ofício é tão exigente: que não se enriquece nesta profissão e que se nos descuidamos acabamos cada dia da nossa vida a dar pau e costas que é a forma mais humilhante de trabalhar.
Há muitos anos que sei que encontrar pelo caminho bons jornalistas é mais difícil que encontrar bons médicos, bons engenheiros, bons escritores e empresários. Encontrar um jornalista com qualidades profissionais e humanas é tão raro como encontrar médicos de família, na verdadeira acepção da palavra, embora a profissão seja cada vez mais exigente e, no caso do jornalista, me pareça, a cada dia que passa, que vai entrar em extinção.
A Internet veio criar a ilusão de que somos todos jornalistas através das redes sociais. Nada mais errado. Já há gente a pagar caro essa exposição e da sua família e dos seus modos de vida. Vai ser ainda pior no futuro.
Nos últimos anos tomei nota de algumas experiências profissionais com jovens jornalistas e posso testemunhar que a grande maioria vai acabar a ganhar a vida noutras profissões. A última experiência foi com um jovem de 30 anos que depois de um dia de trabalho veio dar o dito pelo não dito argumentando que não esperava ser obrigado a tanta exposição na rua. Gosto mais de trabalhar de forma anónima, disse-me o aprendiz de feiticeiro aparentemente encantado com a possibilidade de fazer uma carreira literária tendo o jornalismo como passatempo.
Tenho quase a certeza que a grande maioria das pessoas que borregam quando lhes cheira a trabalho estão no desemprego; se não estão são filhos ou enteados de alguém que ganha dinheiro fácil para os sustentar. O Estado Social que criamos, e que tanto choramos, é injusto para muita gente mas é fantástico para uma boa maioria. Fantástico, repetiria, se pudesse, estalando a língua para que o leitor percebesse o quanto eu acho que a palavra se ajusta ao que quero deixar escrito. JAE
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