O advogado João Correia anda a publicar textos sobre justiça que são de leitura obrigatória. Oportunidade para recordarmos “O Processo”, de Orlando Raimundo, e o último filme do realizador mexicano Carlos Reygadas.
O estado de pandemia em que vivemos também serve para percebermos que o mundo pode voltar ao tempo da pedra lascada em poucos anos se começar a faltar em casa o essencial para nos alimentarmos em família.
No meu bairro, que tem mais população que todas as cidades maiores do Ribatejo, trato por vizinho o sapateiro que tem loja e oficina a 10 minutos a pé de minha casa. Fui lá com umas sandálias para consertar e uma mala com o fecho meio arrombado. Coisa para uma agulha e dois centímetros de linha. “São 20 euros vizinho. Se pagar já, daqui a duas horas pode vir buscar. Tenho muito trabalho mas dou prioridade a quem paga à cabeça”. E assim foi. Sem factura, e sem remorsos, porque os mais ricos têm as empresas nos paraísos fiscais e quando querem lavar dinheiro são mais habilidosos que os traficantes de droga.
Em tempo de Feira do Livro, em Lisboa e no Porto, tiro o chapéu a um filme que ainda está nas salas de cinema: “O nosso tempo”, de Carlos Reygadas; são três horas de rendição absoluta pelo cinema de autor. O filme é quase todo rodado num rancho onde se criam touros bravos, que são parte importante para compreendermos a magnitude da trama do filme.
Por ter mamado nos últimos meses muitos filmes sem qualidade nos canais tradicionais rendi-me à Netflix, embora saiba que há outros bons canais de filmes por assinatura. Nos últimos dias vi dois documentários; um sobre a vida da directora da Vogue italiana, Franca Sozzani, e outro sobre Cuba, que visitei durante quase um mês há 20 anos, do americano Jon Alpert, que me deixaram sem palavras e sem sono. O cinema documental é o meu género preferido; faço jus também à literatura autobiográfica que prefiro a todos os outros géneros, incluindo agora também a poesia.
Quem anda distraído sobre o exercício da Justiça em tempo de pandemia devia estar atento aos textos de opinião que o advogado João Correia escreve no jornal Público. É um sério aviso à navegação. Alguns jornalistas de O MIRANTE sentiram na pele durante sete anos, pelo menos, todos os problemas que ele aflora sobre a Justiça, que “não é a manifestação da vontade dos titulares do direito de decidir”, mas sim “o resultado da actividade de uma comunidade de trabalho reunida em tribunal para obter uma decisão justa e em prazo razoável”. Os jornalistas de O MIRANTE foram vítimas durante sete anos de um advogado da nossa praça, Oliveira Domingos, que respondeu a uma notícia que dava conta do seu pedido de quase meio milhão de euros de indemnização à Câmara de Santarém, com providências cautelares que nos proibiram de escrever sobre ele durante todo o tempo que decorreu o processo, que só acabou no Supremo com a nossa absolvição. Oliveira Domingos gastou uma pipa de massa nos tribunais a acusar os jornalistas de O MIRANTE; mas para quem, aparentemente, ganhou dinheiro fácil da Câmara de Santarém, o que teve de pagar foram trocos. O jornalista Orlando Raimundo conta todo o esquema kafkiano num livro com o título “O Processo”, editado em Setembro de 2018, que pode ser adquirido em qualquer livraria por quem se interessa por estes assuntos. JAE.
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