Na passada semana voltou a morrer gente no Tejo junto a Santarém e Alhandra. Desta vez calhou a dois rapazes de 15 anos. Ninguém percebe, ninguém nunca vai perceber, como é possível Santarém ter o Tejo a seus pés e não ter meia dúzia de praias fluviais que também regularizassem as suas margens, da Ribeira de Santarém até às Caneiras.
No último fim-de-semana percorri uma boa parte do país para me divertir no rio Paiva a praticar canoagem e a saltar para o rio do cimo das rochas. Arouca é uma vila e um concelho que devia servir de exemplo a todas as vilas e aldeias do país. Apesar da pobreza de maior parte do território, das longas distâncias entre povoados, das estradas estreitas, da distância que separa o concelho de Arouca ao Terreiro do Paço, em Lisboa, a vila é um mimo comparado com aquilo que conhecemos por esse país fora, incluindo muitas vilas da região ribatejana.
Na passada semana voltou a morrer gente no Tejo junto a Santarém e Alhandra. Desta vez calhou a dois rapazes de 15 anos. Ninguém percebe, ninguém nunca vai perceber, como é possível Santarém ter o Tejo a seus pés e não ter meia dúzia de praias fluviais que também regularizassem as suas margens, da Ribeira de Santarém até às Caneiras. Há dinheiro para construir grandes complexos aquáticos e não há dinheiro para gastar no Tejo que é o complexo aquático mais extraordinário que podemos ter à porta da nossa casa, e ao qual também podemos chamar nosso, e onde podemos ser igualmente utentes e guardiões.
O problema não é só em Santarém como todos sabemos. Estamos de cu virado para o rio como se o Tejo fosse a cloaca da Humanidade, o esgoto das fábricas e das pecuárias. A cada dia que passa, devido à luta de alguns, o rio está cada vez mais vivo e presente na nossa vida, nem que seja por aquilo que vamos perdendo e que dantes o rio nos dava sem pedir nada em troca. Aprendi a nadar no Tejo, a mergulhar do cimo dos salgueiros; a usar a corrente do rio para tirar partido das disputas a nadar; tive medo muitas vezes quando me desafiavam para nadar de uma margem até à outra e aprendi a não ter vergonha de me recusar a pôr a vida em risco. Tudo isto foi há muito mais de meio século quando o rio estava muito menos assoreado, muito menos poluído e levava muito mais água no pino do Verão.
Não percebo como é que os autarcas e as autarquias continuam de costas viradas para o rio se o Tejo é o principal responsável pelo pão e pelo vinho que vai à nossa mesa; como é que o Governo não estabelece regras para que o rio tenha uma entidade, ou duas, ou três, que mande e imponha regras na preservação das marachas, das margens, da exploração dos areeiros, enfim, como é que é possível, como acontece na Chamusca, um areeiro tomar de assalto o Porto do Carvão que devia ser um lugar privilegiado para acampar ou gozar o privilégio de termos o rio quase à porta de casa.
Numa altura em que se fala que Lisboa vai ter em 2022, no Parque das Nacões, uma piscina natural, sustentável e totalmente “amiga do ambiente”, com 230 metros quadrados e água tratada do rio Tejo, com capacidade para cerca de 800 a 1100 pessoas, fica a dúvida: os nossos autarcas andam a dormir ou é mesmo verdade que Lisboa é Portugal e o resto é paisagem? Um dia vamos todos viver para Lisboa e deixamos a maioria das aldeias e as cidades do interior só para oficinas, fábricas e escritórios? JAE.
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