quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Património ribatejano é uma boa marca mas há muito trabalho por fazer

Não há cultura sem agentes culturais, e muito menos sem a mobilização das populações locais que não têm hábitos de frequentarem museus, bibliotecas e muito menos exposições ou conferências.

A Chamusca tem à venda um edifício histórico à beira da estrada nacional que atravessa a vila que inclui uma capela  com azulejos do século XVI, que eram parte do património do Convento de São Francisco, situado na freguesia do Pinheiro Grande, fundado em 1519 pelo Rei D. Manuel I. O Convento passou por grandes transformações ao longo dos séculos. O que interessa agora para a crónica é a "época negra de destruição e de delapidação, que começou em 1926, quando a igreja do Convento é profanada, sendo transformada numa estrebaria”, com os seus azulejos retirados e vendidos a José Relvas, juntamente com os da sacristia e do claustro, e também a António Belard da Fonseca, o patriarca da família, “foram vendidos na mesma altura os azulejos e o altar de uma capela que dava para o claustro, que este colocou na capela particular da casa” que agora está à venda por valores que podem ser encontrados na internet (não é texto com o patrocínio da imobiliária, posso garantir, mas não me importava que este texto desse origem à venda, já que a Chamusca bem precisa de ajuda). 

O que não está à venda na Chamusca, mas corre perigo é a Ermida de Nossa Senhora do Pranto, datada dos finais do século XVII, “que constitui um verdadeiro ex-líbris da vila, não só porque guarda no seu interior uma preciosa colecção de azulejos setecentistas, mas também devido à sua situação privilegiada, no cimo de um dos outeiros que rodeiam a vila. O seu interior, em grande contraste com o aspecto modesto do seu exterior, é um verdadeiro museu da arte barroca portuguesa”. Quem quiser saber mais é só procurar de forma virtual. O que não vai achar é o relato do actual estado do telhado da capela, que está cheio de lixo, e precisa urgentemente de conservação e manutenção, de forma a que “a preciosa colecção de azulejos setecentistas” não fique em perigo e depois não haja dinheiro que chegue para os recuperar. A Ermida é património da Misericórdia da Chamusca. Se os políticos locais estão à espera que a Santa Casa da Chamusca vá pedir dinheiro emprestado para fazer obras, fica a pergunta: e depois onde é que vão arranjar dinheiro para o centro de dia, lar e creche, já que é a única instituição na Chamusca que presta este serviço público, em alguns casos já a preços que não servem a todas as bolsas? O mesmo, para não variar, passa-se com a Ermida do Senhor Jesus do Bonfim, mandada construir em 1746, situada no monte mais alto da vila. A igreja sofreu obras de conservação nos mandatos de Sérgio Carrinho, mas é uma Ermida ao abandono, onde deviam estar e não estão numerosos ex-votos, alguns deles já seculares, assim como alguns quadros votivos do século XVIII. Dizem que estão à guarda da Diocese de Santarém, mas é o diz que disse, é na igreja que eles deviam estar para não ficar ao abandono e ter motivos de interesse para ser visitável. A verdade é que a igreja está abandonada, e nem o facto do José Rafael viver paredes meias com a igreja, a salva de ser um templo desprezado.


Abrantes, Santarém e Vila Franca de Xira, só para referir três concelhos importantes do Ribatejo, têm museus e património de nível internacional.  A publicidade e a promoção às iniciativas e aos espaços é quase nula. Não há cultura sem agentes culturais, e muito menos sem a mobilização das populações locais que não têm hábitos de frequentarem museus, bibliotecas e muito menos exposições ou conferências. Não só é preciso dar publicidade à coisa; é preciso mostrar com artigos de opinião e divulgação, dando trabalho, sobretudo aos profissionais da área, assim como aos alunos dos cursos superiores das universidades da região.


No dia em que escrevo esta crónica (10/11/2025) comprei um casaco que posso devolver até 6 de Janeiro de 2026, recomprando-o na hora se estiver em promoção e ficar mais barato do que o preço actual. Foi o empregado da loja na cidade do Porto que me ensinou o truque, sugerindo que comprasse ali mesmo pela internet, e depois o fosse levantar na loja mais perto de casa.
Há uma marca de colchões que aceita devoluções ao fim de três meses se o cliente não estiver satisfeito. Sou um dos clientes da marca e posso dar testemunho da veracidade da campanha que já dura há vários anos. Hoje as marcas fazem tudo para se promoverem, procurando não dar espaço à concorrência. Tomo nota deste assunto em jeito de rodapé, mas não sem me explicar: os dinheiros comunitários para recuperação de património estão a um palmo dos olhos de todos os políticos que ainda vêm um palmo à frente dos olhos. Não há necessidade de lembrar que a desertificação é fruto da falta de políticas de conservação do património, da falta de capacidade dos políticos para contratarem técnicos que estudem candidaturas ao PRR, entre muitos outros programas, que fazem das vilas e aldeias uma marca (Óbidos e Golegã são bons exemplos), melhores lugares para vivermos e convidarmos outros a juntarem-se a nós. JAE .

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