O discurso de derrota de Sócrates na noite das eleições é o retrato da maioria dos políticos do nosso regime. Depois de uma campanha eleitoral onde não se cansou de bater no ceguinho, repetindo até à exaustão aquilo que quase todos sabíamos que era mentira, Sócrates despediu-se com um sorriso dizendo que, agora, ia ter mais tempo para os filhos e para a sua vida de cidadão. Nada contra. Mas o orçamento de Estado para 2011, mais as medidas da Troika, que ele já andava a negociar, são as mais duras e penalizadoras de sempre para os portugueses que trabalham. A partir deste ano acabaram-se as devoluções com as despesas de saúde, da educação, da renda da casa, enfim, de todas as despesas que somos obrigados a fazer para não termos uma vida de indigentes.
Nunca ouvi um discurso de derrota tão satisfeito. Só os dirigentes comunistas mais os deputados do partido “Os Verdes”, o partido mais parasita que existe na sociedade portuguesa, foram capazes até agora de imitar Sócrates.
Um dia, numa viagem de trabalho, sentei-me ao lado do socialista José Lello que desancou no seu camarada Manuel Alegre como eu nunca tinha ouvido desancar num político. A conversa não era comigo mas admirador confesso do poeta e escritor saltei em sua defesa. A resposta não se fez esperar. Há mais de 30 anos que ele se senta nas bancadas da Assembleia da República e vive do sistema que tanto critica. E diga-me lá que é mentira, que ele não vive à sombra da bananeira, criticando aquilo em que ele é o maior especialista que é viver à custa do vencimento de deputado?
Manuel Alegre já não é deputado mas a recordação, que não é assim tão antiga, serve de catarse para os tempos que vivemos. Parece que agora é que isto vai mudar. Eu pago para ver. Só espero que valha a pena. Entretanto continuo admirador de Manuel Alegre, poeta e escritor, e muito pouco entusiasta do discurso redondo do ainda deputado José Lello.
Esta edição de O MIRANTE está a ser distribuída aos assinantes, na sua totalidade, pela empresa Pos Contacto. Completa-se assim um ciclo iniciado em Novembro de 2009 data em que começamos a saída do sistema do Porte Pago prescindindo dos apoios do Governo. O MIRANTE é o maior jornal regional português em tiragem e circulação. Em tempos idos fomos um dos maiores beneficiários do sistema. Como não dormimos em serviço não esperamos pelos tempos de crise e partimos para uma aventura que até agora está a resultar. Alguns colegas do sector, do Minho ao Algarve, que tanto criticaram a nossa postura no mercado, continuam presos às amarras dos apoios e estão calados que nem ratos à espera que o dinheiro estique. Beneficiaram dos apoios em igualdade de circunstâncias mas não cresceram, não investiram e não criaram condições para num futuro próximo viverem sem a mãozinha dos subsídios. JAE
Sem comentários:
Enviar um comentário