Uma boa parte dos meus amigos são pessoas mais velhas do que eu. Na minha adolescência e início de idade adulta já era assim. Os meus adversários no bilhar, no ping-pong, nas damas e jogo das cartas eram sempre pessoas mais velhas e mais experientes. E eu tinha orgulho nisso; e aprendi muito com eles nomeadamente a perder que é o exercício mais difícil que os Homens enfrentam ao longo de toda a sua vida.
Hoje, como ontem, mantenho essa tendência de que continuo a orgulhar-me. O jogo agora é outro; as emoções também são bem diferentes; o espírito é que é o mesmo; aproveitar as amizades para tentar dar sempre mais do que aquilo que recebo. Quando sou capaz sinto-me realmente feliz. Mas também há situações em que sou surpreendido. E esta semana tive uma boa surpresa ao conseguir voltar ao contacto com uma pessoa com quem já não falava há duas décadas e reencontrei graças a um desses amigos mais velhos e sábios. Fica aqui o registo porque a edição dos 25 anos de O MIRANTE, a 16 de Novembro, vai registar alguns desses afectos de longa data e também mais recentes.
Para mim viajar é rumar até ao Sul. Mesmo que os caminhos sejam para Norte. Descobri recentemente que vou para Sul sempre que parto de Santarém, ou da Chamusca, para Lisboa ou Benavente. Mas quando saio de Vila Franca de Xira a caminho da Chamusca, ou de Santarém, também me sinto igualmente a caminho do Sul que é onde construí a minha casa.
O Tribunal de Almeirim é o exemplo da miséria do país em que vivemos. Dez mil processos na gaveta, num tribunal a funcionar em instalações provisórias, que entretanto se tornaram definitivas, é próprio de um país do Terceiro Mundo em que a justiça se faz à catanada. Se cada processo envolver dez pessoas há, pelo menos, 100 mil pessoas da região revoltadas com os governantes e os “filhos da mãe” que controlam o Sistema. O que se passa no Tribunal de Almeirim devia ser suficiente para uma insurreição popular. Só quem não sentiu já na pele o efeito dos atrasos da Justiça é que pode julgar que brinco com as palavras. Se pudesse dava o exemplo.
“Quanto mais um homem prova a sua incapacidade tanto mais apto se torna para governar o seu país”. “Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder...O Poder não sai de uns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma casa, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos” (Eça de Queiroz, Junho de 1871).
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