sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A magia da vida dos pequenos empresários *

Uma palavra de elogio aos empresários e empresas premiadas nesta edição do Galardão Empresa do Ano. Uma palavra de apreço pelo trabalho que a NERSANT continua a fazer na nossa região junto da classe empresarial. A NERSANT é, sem dúvida, a maior instituição da região e aquela que melhor nos representa e nos pode ajudar nos piores e nos melhores momentos.
Estou aqui a representar um jornal com 25 anos sempre a crescer que considero, embora escreva e fale em causa própria, um fenómeno de resistência e de vida em Portugal. Não conheço outro exemplo neste país sempre em crise e cheio de gente esperta que se reforma aos 40/50 anos.
Há 13 anos que iniciamos esta parceria com a NERSANT e há 12 anos que premiamos empresas e empresários sempre com a melhor das intenções e quanto mais não seja para dizermos ao mundo que existimos e que temos cultura e uma economia que não é assim tão desprezível como parece face àquilo que temos em Lisboa, entre São Bento e o Terreiro do Paço.
Às vezes olho para trás e arrepio-me. Não é grande coisa o que temos como referência. Não podem culpar O MIRANTE nem a NERSANT. Mas há casos de grande mérito. Infelizmente não são assim tantos que me levem a dizer, hoje e aqui, que podemos dá-los como exemplos de grandes parceiros e de grandes companheiros de caminhada. Mas é trabalho e parceria de que nos orgulhamos apesar das vicissitudes. E embora os tempos estejam difíceis…….. há gente que faz a diferença.

O trabalho para mim é uma paixão. Quando me desapaixono por um trabalho prefiro morrer à fome que continuar a trabalhar num ofício do qual deixei de gostar. Foi num desses momentos de grande paixão por este trabalho de dirigir e editar um jornal que me lembrei de propor o Galardão Empresa do Ano à NERSANT. E ainda me lembro da ideia original que me fez fazer a proposta. Sempre que volto atrás nos anos, e regresso ao tempo da minha meninice, não encontro pelo caminho o homem do talho, o homem da mercearia, o homem da oficina, os homens dos muitos ofícios que fazem crescer uma comunidade e estão por detrás de toda a alma de uma terra.
Aprendi muito cedo a perceber que o sistema capitalista serve-se dos pequenos empresários como o magarefe se serve da faca para matar os animais que lhe chegam ao matadouro.
Lembro-me como se fosse hoje de perguntar como era possível a um pequeno empresário andar sempre a caminho dos bancos para pedir dinheiro para trocar de carro, para pintar a frontaria da casa, para fazer obras na loja. E estamos a falar de pessoas que trabalhavam, e algumas ainda trabalham, 16 horas por dia, sete dias por semana.
Há qualquer coisa de mágico na vida de todos os pequenos empresários das nossas vilas e aldeias. Mágico no sentido em que a vida deles passa tão depressa e é tão assoberbada que eles nem dão pelo facto de envelhecerem sem nunca terem molhado o cu na água do  mar, ou conhecerem a verdadeira Europa do Euro, e serem nos tempos modernos os verdadeiros servos da gleba do sistema.
Eu trabalhei dos onze ao 22 anos atrás de um balcão, de dois balcões para ser mais exacto, e foi lá que eu aprendi tudo o que sei hoje. Tudo. Na altura os camponeses conviviam bem com os homens dos ofícios tradicionais, os escriturários, os bancários, os pequenos burgueses que viviam apenas dos rendimentos. Era um mundo totalmente diferente do mundo de hoje mas tinha esta particularidade que eu chamo mágica porque me galvaniza e não me deixa tranquilo como eu gostava de viver; o sistema capitalista está de tal modo montado que, com mais ou menos evolução, com mais ou menos tecnologia, com mais ou menos ensino superior, com mais ou menos justiça, os pequenos são sempre os escravos dos grandes. E tudo o que ganham, e amealham, vai servir apenas para pagar o caixão na hora da verdade….. Vem uma tempestade e lá têm eles que começar tudo de novo. E quase tudo acaba sempre com um trespasse, quando não é com a falência do negócio, ou com a insolvência, como agora é moda.

Quando nasceu a ideia deste Galardão já o mundo não era assim tão a preto e branco. Mas olhando para trás alguns dos premiados já caíram que nem tordos. E não foi por serem maus gestores ou por não saberem gerir; foi porque vivemos numa economia governada por inábeis, por gente que só sabe fazer política e nunca trabalhou, nunca soube o que era aceitar uma letra, empenhar-se por um projecto empresarial para criar emprego, nunca sentiu a responsabilidade de pagar Segurança Social, ordenados diferenciados, nunca sentiu vergonha de ficar encostado ao balcão de uma entidade bancária a pedir emprestado aquilo que, às vezes, um gerente reles não é capaz de dar nem de confiar tão entretido que está com o seu pescoço de girafa e o seu casaco de camurça.

A ideia deste Galardão nasceu dessa necessidade de homenagear os empresários que prestam serviços à comunidade e ajudam a dar visibilidade à nossa região que é uma das mais ricas do país.
A ideia é gerar amigos, solidariedades, dar valor a quem investe e criar riqueza para não irmos todos de mala aviada para Lisboa, ou para Sintra, ou em última instância para o Litoral seja lá a terra que for, ou aldeia, onde encontremos uma casa barata para viver que não seja onde deixa de haver trabalho e os cogumelos selvagens já não crescem debaixo dos sobreiros ou o rosmaninho debaixo dos pinheiros.
Estamos aqui para premiar empresários e empresas e são eles que devem ocupar este lugar no púlpito. Eles é que são os protagonistas da noite. As escolhas foram feitas com os critérios de sempre e não tenho dúvidas que são os melhores e os mais justos.
Quem nos vê não nos julgue pela aparência. Somos pessoas felizes, persistentes, corajosas e solidárias. Cultivamos o pensamento crítico mas não somos pessimistas, somos realistas. José Saramago disse numa entrevista, pouco antes de morrer, que “ser socialista era uma actividade de espírito”. Ser empresário é uma actividade cívica. Não encontro melhores palavras para homenagear os empresários e as empresas que recebem hoje o Galardão Empresa do Ano.
JAE

*Texto lido na entrega dos prémios Galardão Empresa do Ano realizado no dia 29 de Novembro de 2012 em Alcanena

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