Estou aqui a representar um jornal com 25
anos sempre a crescer que considero, embora escreva e fale em causa
própria, um fenómeno de resistência e de vida em Portugal. Não conheço
outro exemplo neste país sempre em crise e cheio de gente esperta que se
reforma aos 40/50 anos.
Há 13 anos que iniciamos esta parceria com a
NERSANT e há 12 anos que premiamos empresas e empresários sempre com a
melhor das intenções e quanto mais não seja para dizermos ao mundo que
existimos e que temos cultura e uma economia que não é assim tão
desprezível como parece face àquilo que temos em Lisboa, entre São Bento
e o Terreiro do Paço.
Às vezes olho para trás e arrepio-me. Não é
grande coisa o que temos como referência. Não podem culpar O MIRANTE nem
a NERSANT. Mas há casos de grande mérito. Infelizmente não são assim
tantos que me levem a dizer, hoje e aqui, que podemos dá-los como
exemplos de grandes parceiros e de grandes companheiros de caminhada.
Mas é trabalho e parceria de que nos orgulhamos apesar das vicissitudes.
E embora os tempos estejam difíceis…….. há gente que faz a diferença.
O
trabalho para mim é uma paixão. Quando me desapaixono por um trabalho
prefiro morrer à fome que continuar a trabalhar num ofício do qual
deixei de gostar. Foi num desses momentos de grande paixão por este
trabalho de dirigir e editar um jornal que me lembrei de propor o
Galardão Empresa do Ano à NERSANT. E ainda me lembro da ideia original
que me fez fazer a proposta. Sempre que volto atrás nos anos, e regresso
ao tempo da minha meninice, não encontro pelo caminho o homem do talho,
o homem da mercearia, o homem da oficina, os homens dos muitos ofícios
que fazem crescer uma comunidade e estão por detrás de toda a alma de
uma terra.
Aprendi muito cedo a perceber que o sistema
capitalista serve-se dos pequenos empresários como o magarefe se serve
da faca para matar os animais que lhe chegam ao matadouro.
Lembro-me como se fosse hoje de perguntar
como era possível a um pequeno empresário andar sempre a caminho dos
bancos para pedir dinheiro para trocar de carro, para pintar a frontaria
da casa, para fazer obras na loja. E estamos a falar de pessoas que
trabalhavam, e algumas ainda trabalham, 16 horas por dia, sete dias por
semana.
Há qualquer coisa de mágico na vida de todos
os pequenos empresários das nossas vilas e aldeias. Mágico no sentido em
que a vida deles passa tão depressa e é tão assoberbada que eles nem
dão pelo facto de envelhecerem sem nunca terem molhado o cu na água do
mar, ou conhecerem a verdadeira Europa do Euro, e serem nos tempos
modernos os verdadeiros servos da gleba do sistema.
Eu trabalhei dos onze ao 22 anos atrás de um
balcão, de dois balcões para ser mais exacto, e foi lá que eu aprendi
tudo o que sei hoje. Tudo. Na altura os camponeses conviviam bem com os
homens dos ofícios tradicionais, os escriturários, os bancários, os
pequenos burgueses que viviam apenas dos rendimentos. Era um mundo
totalmente diferente do mundo de hoje mas tinha esta particularidade que
eu chamo mágica porque me galvaniza e não me deixa tranquilo como eu
gostava de viver; o sistema capitalista está de tal modo montado que,
com mais ou menos evolução, com mais ou menos tecnologia, com mais ou
menos ensino superior, com mais ou menos justiça, os pequenos são sempre
os escravos dos grandes. E tudo o que ganham, e amealham, vai servir
apenas para pagar o caixão na hora da verdade….. Vem uma tempestade e lá
têm eles que começar tudo de novo. E quase tudo acaba sempre com um
trespasse, quando não é com a falência do negócio, ou com a insolvência,
como agora é moda.
Quando
nasceu a ideia deste Galardão já o mundo não era assim tão a preto e
branco. Mas olhando para trás alguns dos premiados já caíram que nem
tordos. E não foi por serem maus gestores ou por não saberem gerir; foi
porque vivemos numa economia governada por inábeis, por gente que só
sabe fazer política e nunca trabalhou, nunca soube o que era aceitar uma
letra, empenhar-se por um projecto empresarial para criar emprego,
nunca sentiu a responsabilidade de pagar Segurança Social, ordenados
diferenciados, nunca sentiu vergonha de ficar encostado ao balcão de uma
entidade bancária a pedir emprestado aquilo que, às vezes, um gerente
reles não é capaz de dar nem de confiar tão entretido que está com o seu
pescoço de girafa e o seu casaco de camurça.
A
ideia deste Galardão nasceu dessa necessidade de homenagear os
empresários que prestam serviços à comunidade e ajudam a dar
visibilidade à nossa região que é uma das mais ricas do país.
A ideia é gerar amigos, solidariedades, dar
valor a quem investe e criar riqueza para não irmos todos de mala aviada
para Lisboa, ou para Sintra, ou em última instância para o Litoral seja
lá a terra que for, ou aldeia, onde encontremos uma casa barata para
viver que não seja onde deixa de haver trabalho e os cogumelos selvagens
já não crescem debaixo dos sobreiros ou o rosmaninho debaixo dos
pinheiros.
Estamos aqui para premiar empresários e
empresas e são eles que devem ocupar este lugar no púlpito. Eles é que
são os protagonistas da noite. As escolhas foram feitas com os critérios
de sempre e não tenho dúvidas que são os melhores e os mais justos.
Quem nos vê não nos julgue pela aparência.
Somos pessoas felizes, persistentes, corajosas e solidárias. Cultivamos o
pensamento crítico mas não somos pessimistas, somos realistas. José
Saramago disse numa entrevista, pouco antes de morrer, que “ser
socialista era uma actividade de espírito”. Ser empresário é uma
actividade cívica. Não encontro melhores palavras para homenagear os
empresários e as empresas que recebem hoje o Galardão Empresa do Ano.
JAE
*Texto lido na entrega dos prémios Galardão Empresa do Ano realizado no dia 29 de Novembro de 2012 em Alcanena
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