Sou o homem mais feliz ao cimo da terra. Todos os dias vivo para criar a eternidade. Nestes últimos dias esta neblina foi ouro sobre azul para umas merecidas férias do sol deste Verão que ainda vai a menos de meio. Mesmo a trabalhar, quando a maioria goza férias ou vive dos rendimentos, sinto-me o mais sortudo dos homens. Tenho um jardim à porta de casa; um rio do outro lado da minha rua; e ao fundo do meu quintal começa a zona de charneca ribatejana que é tão grande e diversificada que se confunde, uns quilómetros mais a nascente, com a charneca alentejana.
Apesar de tudo, ou por isso tudo, todos os dias me levanto com o espírito dos meus 22 anos quando estive de malas feitas para emigrar. Em nome dos meus avós e dos meus pais desejo todos os dias que a terra seja pesada a Salazar e aos seus comparsas. Mas em nome do meu trabalho de meio século estou cada vez mais descontente com este país de medíocres e corruptos. Revejo-me em alguns homens políticos de proximidade mas a grande maioria mandou às urtigas os valores conquistados com o 25 de Abril. A maioria dos nossos dirigentes trabalha para o Estado e são donos de empresas: ou são dirigentes públicos e têm interesses privados na mesma área em que trabalham para o Estado. A justiça é um perigo para um cidadão indefeso. A auto-gestão em que se encontra a magistratura portuguesa é mais perigosa para um cidadão do que o excesso de ozono no ar. Morrer de boca aberta a caminhar por aí é muito mais digno do que morrer nas mãos de um juiz ignorante e de uma justiça dos tempos de antanho. Estamos todos a andar para trás. O sistema democrático em que vivemos está desacreditado e este sistema político começa a ser tão duvidoso e perigoso como o de Salazar. Nunca pensei escrever isto e muito menos pensei que podia ter medo de viver no meu país depois do que vi e ouvi aos mários soares da liberdade. JAE
Sem comentários:
Enviar um comentário