Há pessoas que não me conhecem e falam de mim como se fossem íntimas mandando recados que me fazem sorrir. Há outras que reencontro por aí e, muitas vezes, não dou a atenção que merecem porque tenho o arroz ao lume ou estou cansado para mais do que dois dedos de conversa. Precisava do dobro do tempo para fazer tudo o que gosto e me dá prazer no exercício da profissão. Escrever crónicas é fácil. Ir para a rua em reportagem e desencantar boas histórias é que não é para todos. E eu sou daqueles que começa a ter o cu pesado e falta de paciência. Tirar uma entrevista do gravador é castigo maior que comer cebola cozida; chegar a casa às nove da noite e fazer serão a cavar com a mesma enxada é castigo maior que dor de dentes.
Os casos de tribunal já não me tiram o sono. Habituei-me a ser presa fácil dos políticos que se servem dos tribunais para amedrontarem. Recentemente fui condenado em tribunal pela primeira vez; senti-me tão injustiçado que foi com orgulho que vi o meu nome escarrapachado nos jornais. A justiça já não me assusta tanto; a classe política já não me desilude; o país italianizou-se, como eu, aliás, sempre previ, e daqui para a frente vai ser ainda pior. Quem anda nesta vida ou tem coração ou o melhor é arrumar as botas.
Temos a fama e o proveito de editarmos um jornal que figura entre os dez maiores de circulação nacional. Montámos uma máquina para vinte e três concelhos que nos dá mais visibilidade que os outros jornais conseguem com a sua presença em todo o território nacional. O governo boicotou; nós demos a volta por cima; a crise fez diminuir o investimento publicitário: nós abrimos o passo e estamos a cumprir os objectivos.
Dificilmente resistiremos a um acto terrorista da justiça ou de algum político influente que aposte tudo na nossa insolvência. Por sabermos que o sistema apodreceu não podemos ser ingénuos.
Como sempre, e até que haja mundo, o que não nos mata deixa-nos mais fortes. JAE
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