As corridas de toiros em Portugal têm um director de corrida que não manda nada. E os artistas fazem o que querem, para um público cada vez menor e menos entusiasmado com o espectáculo.
As corridas de toiros em Portugal, na grande maioria das praças, são uma brincadeira comparadas com os espectáculos na vizinha Espanha. Todos os aficionados sabem bem disso e os empresários sabem melhor do que ninguém; e os toureiros estão carecas de saber. Por isso é que em Espanha já há muitas cidades onde as touradas estão proibidas embora a aficion seja a sério e haja dez vezes mais aficionados que em Portugal.
As touradas são um espectáculo perigoso, que se gosta ou se detesta, como o boxe, por exemplo, e nos tempos que correm tornou-se bárbaro aos olhos da grande maioria da população por causa dos fracos empresários, e da falência do espectáculo como um todo, que não deixou de ser popular mas deixou de interessar ao povo.
Está na cara de qualquer republicano que matar o toiro na arena ou castigá-lo com os arpões das bandarilhas é coisa doutros séculos. Qualquer pobre de espírito que vá ver uma tourada percebe que não há leis a sério para cumprir dentro e fora de tábuas; que cada artista faz o que quer; que o director de corrida, vulgo “inteligente”, é uma figura de faz de conta, não manda nada nem vai querer mandar porque no outro dia é substituído por outro tão inteligente como ele mas mais permissivo aos abusos.
Os toureiros portugueses, na grande maioria, são gente boa mas militam nos partidos monárquicos e na cabeça deles, por exemplo, as mulheres jamais podem ter, em sociedade, os mesmos direitos dos homens, nem sequer como artistas da Festa: são os marialvas dos novos tempos; grandes artistas, sem dúvida, mas convencidos que são os herdeiros de um mundo que se mantém igual àquele que os avós viveram.
Não quero ser injusto com os artistas, principalmente com alguns que conheço, mas há muitos cuja mentalidade não é mais tolerante que a dos anti-taurinos, essa gente igualmente boa que de forma pornográfica se deixa enjaular a 70 metros da entrada da praça de toiros do Campo Pequeno, em dia ou noite de corrida. Se tivesse que protestar contra alguma coisa, enjaulado daquela forma, matava-me de vergonha.
Tourear é uma arte grande, corajosa, para poucos privilegiados. A arte de tourear, e de pegar o touro de caras, ou de cernelha, podia ser Património Mundial da Humanidade se o toiro fosse toureado sem sangue, os toureiros fossem admoestados em público quando são inábeis e violentos com o animal e o director de corrida tivesse autoridade para mandar prender ou expulsar da praça os artistas que infringissem as regras do espectáculo. JAE
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