É mais que certo que a grande maioria das pequenas e médias empresas vai morrer na praia mas o combate ao coronavírus vai ser bem sucedido. Pretexto para escrever sobre angústias no aeroporto de Lisboa.
A profissão de jornalista é uma das profissões mais entusiasmantes do mundo. Quem leva a sério a profissão está sempre a aprender e a levar lições de Humanidade e Civilização. Tive acesso a dados que demonstram que a pandemia do coronavírus pode não ser a tragédia que todos estamos à espera. Nada está provado cientificamente mas a sabedoria dos homens a trabalharem em conjunto nos grandes laboratórios vai encontrar certamente o antídoto que todos queremos para voltarmos a ter de volta uma vida normal. Não é por isso que até lá não temos que seguir cuidados especiais ficando em casa. Não é o meu caso. Sinto-me no dever de trabalhar todos os dias e de contribuir com o meu trabalho para que o mundo seja cada vez mais um lugar melhor para vivermos. E faço parte da gestão de uma das pequenas empresas deste país que pode ficar pelo caminho se não soubermos reinventar o negócio.
Nos últimos dias assisti no aeroporto de Lisboa a um drama que passou despercebido à comunicação social. Um grupo numeroso de brasileiros, apanhados pelos efeitos da pandemia no fim de uma viagem pelo mundo, com regresso a casa marcado no aeroporto de Lisboa, dormiu dias seguidos no chão, à entrada do aeroporto de Lisboa, sem possibilidade de usarem as casas de banho ou sequer encherem uma garrafa de água.
Tratados que nem porcos (ouvi esta expressão dezenas de vezes como grito de revolta), alguns deles sofrem de doenças oncológicas, outros são diabéticos e outros viajavam com crianças. Nada demoveu os responsáveis do aeroporto para acudirem aquela gente que durante os últimos dias choraram baba e ranho à espera de uma vaga num avião. A Embaixada e o Consulado do Brasil em Lisboa estiveram em parte incerta e nunca foram interlocutores no terreno de forma a diminuírem as angústias, as lágrimas e os perigos de contágio do coronavírus. Num desses dias ajudei a dar assistência a um homem que desmaiou e caiu no chão como morto. Os gritos de aflição da mulher a chamar um médico iam criando uma revolução nos senhores que controlavam a fila há dias seguidos. Os dois paramédicos que vieram em auxílio do homem levaram-no para o interior do aeroporto mas a mulher do homem ficou na rua à espera. A polícia, em número razoável, garantia o descanso dos donos das companhias aéreas e dos responsáveis do aeroporto de Lisboa. No meio desta anarquia, destas organizações preparadas para facturarem a correr e antes de prestarem o serviço, apareceu um homem, chamado Ricardo Amaral, presidente de uma associação de brasileiros, que 12 horas por dia fez o que pôde e o que estava ao seu alcance. No último domingo, depois do pequeno tumulto com o desmaio do homem, disse, visivelmente agastado, que ele próprio era doente oncológico e que estava ali desde o primeiro dia, exposto e disposto a morrer pelos compatriotas. Os índios habituais, que vestem do tecido da bandeira do Brasil, ainda hoje estão em parte incerta (na quinta-feira, dia de saída desta edição para as bancas, certamente que alguns ainda estarão à espera de uma solução para o seu regresso a casa).
Falta contar que tinha amigos a sofrerem desta desordem e pude confirmar que alguns deles gastaram o dinheiro que tinham e não tinham para recomprarem passagens aéreas que de nada lhes serviram porque continuaram em terra.
Quem trabalha em comunicação e gosta desta arte de ajudar a construir diariamente o mundo em que vivemos deve actualizar-se e ler o artigo do jornalista João Garcia, no jornal Expresso de 21 de Março, com o título “Um vírus a infetar o jornalismo”, e o de J.M.Nobre Correia no jornal Público, edição de 9 de Março, com o título “Por onde andam os jornalistas” JAE.
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