Os lares ilegais na região podem chegar ao número das quatro centenas. Não por acaso alguns países da Europa tratam os políticos portugueses com desprezo.
Os lares ilegais no distrito de Santarém poderão chegar às quatro centenas segundo informação que O MIRANTE obteve junto de fontes da protecção civil. A notícia da passada semana, que apontava para 130, peca por defeito e minimiza um problema que é muito mais grave do que se pensava. O facto deste negócio, que mexe com a saúde pública e os direitos dos mais desprotegidos, passar ao lado do crivo das entidades que cobram impostos e zelam pela segurança de utentes e trabalhadores, diz bem do atraso civilizacional do nosso país. Não é impunemente que os dirigentes dos países mais desenvolvidos da Europa nos tratam com algum desprezo. Estas notícias são assassinas para a nossa classe política que se pavoneia todos os dias nas televisões.
Jerónimo de Sousa disse em Baleizão, no dia em que se assinalou os 66 anos do assassinato de Catarina Eufémia, que o vírus estava a ser pretexto para os patrões explorarem ainda mais os trabalhadores. Só encontro paralelo nestas declarações com aquelas que, antes do 25 de Abril de 1974, anunciavam que os comunistas comiam crianças ao pequeno-almoço.
Estamos de volta ao trabalho, à praia, aos restaurantes e às livrarias. Os números de mortes e infectados com o coronavírus em Portugal esteve muito longe daquilo que aconteceu e ainda acontece noutras paragens. Foram pouco mais de dois meses de confinamento mas o suficiente para que nada volte a ser como dantes. Gerir empresas ou trabalhar por aí será muito mais desafiante mas também muito mais perigoso. Tudo o que aconteceu nestes últimos meses já se vinha sentindo mesmo sem coronavírus. Agora temos que aprender a viver em cima das incertezas e não podemos protestar. Claro que haverá sempre os que vivem do sistema, e cavalgam a sorte de terem empregos dourados, ou uma situação financeira acima dos simples mortais. Outros enriquecerão ainda mais com o advento da crise e as incertezas dos mercados. De verdade estaremos todos no mesmo barco porque ninguém sobrevive num mar tumultuoso mesmo que ocupe o melhor lugar do navio.
Por aqui reina o espírito decidido de quem sabe trabalhar e levar a água ao seu moinho. Para O MIRANTE a montanha pariu um rato quanto aos apoios do Estado em publicidade institucional. Vamos receber 10 mil euros limpos que dão para pagar o gasóleo de três meses de trabalho. Os milhões ficam para as empresas de comunicação social de Lisboa que são cerca de 85% das que se publicam no país e, em muitos casos, se limitam, a nível sócio económico, a fazer informação de carregar pela boca. Não faltam excepções que confirmam a regra, o que prova que não podemos desistir de continuar a sonhar que podemos mudar o mundo nem que seja só na nossa rua.
Nestes últimos dias morreram duas grandes escritoras que conheci pessoalmente. Olga Savary (1933-2020) uma poeta brasileira que me abriu as portas da sua casa no Rio de Janeiro para contar o seu longo percurso de vida literária. Nas duas cassetes da entrevista estão também duas horas de gravação com Ferreira Gullar, outro dos maiores poetas de língua portuguesa, que também me recebeu na sua casa, no bairro do Leblon, para me contar a história da ditadura brasileira do tempo em que escreveu “Poema Sujo”. Maria Velho da Costa (1938-2020) não era a minha escritora de eleição mas tem uma obra poderosa e um percurso de vida que faz a inveja de muitos escritores e intelectuais do seu tempo. JAE.
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