A crónica desta semana poderia ser só a recomendar alguns textos desta edição que obrigaram os jornalistas a vestir a bata de médicos; ou a contar o que tem sido a nossa vida de trabalho com a organização do Galardão Empresa do Ano e, já de seguida, a edição do suplemento sobre as nossas Personalidades. Fica a nota e, já agora, dois apontamentos só para fazer o gosto ao dedo.
Ando a coleccionar parábolas e frases que me ajudem a perceber os tempos que vivemos. Duas delas que servem de exemplo e que cito de cor; aquele que dorme na estrada ou perde o chapéu ou a cabeça; quando morre um homem nobre apaga-se uma luz no firmamento.
Não sei para que serve a partilha mas gosto de pensar que quem me lê viaja por lugares que nada têm a ver com os meus caminhos; as palavras têm esse condão de nos abrirem os olhos para realidades e pontos de vista literalmente diferentes. Nas últimas semanas, com o agravamento do confinamento, começaram a chegar histórias de guerra que incluem vidas perdidas e dramas familiares que só conhecemos dos filmes e dos romances. Os políticos vão dizendo que o SNS está a resolver os problemas diários da pandemia, mas o que eles não dizem, nem contam, são os dramas que derivam do excesso de doentes nos hospitais e tudo o que está associado à falta de profissionais de saúde e à exaustão dos que trabalham 24 horas por dia.
Ninguém assume, mas há relatos que garantem que morre muita gente porque não há tempo, nem médicos ou enfermeiros, para tantos doentes graves e que a escolha sobre quem morre e quem vive é uma realidade há muito tempo.
Enquanto vivemos um estado de emergência, sem precedentes, os dirigentes políticos discutem lideranças e golpes palacianos, como é o caso do CDS e do PSD, dois partidos do arco governativo entregues a políticos fraquinhos e aparentemente com pouco carácter.
Escrever não é governar. Mas há alturas na vida de um jornalista em que apetece saltar para a luta no terreno por percebermos o quão fraquinhos são alguns protagonistas que delapidam o futuro das pessoas quando gerem os interesses do país, nacionais, regionais ou locais. É nessas alturas que recorro à memória de grandes conversas com um grande jornalista desportivo, que tinha casa na região, que trabalhou mais de meio século em jornais; dizia-me ele que o sonho da sua vida sempre foi ser treinador de futebol. E contou-me tintim por tintim as vezes em que esteve perto de concretizar o sonho no seu clube do coração. A lição desta confissão ficou gravada. E a forma como ela foi dita e explicada ajudou a perceber melhor que o jornalismo não pode nem deve ser um trampolim para qualquer actividade que misture alhos com bugalhos. Quem é jornalista uma vez fica jornalista uma vida inteira. E se é bom no que faz tem sempre trabalho na sua profissão. Infelizmente há muita gente que se aproveita do prestígio da profissão para concorrer a lugares políticos ou aceitar lugares de assessoria, bem remunerados, tirando proveito daquilo que sempre criticou no exercício da profissão de jornalista. Este meu amigo jornalista, que escreveu certamente centenas de manchetes nos jornais onde trabalhou, tinha um sonho que certeiramente lhe turvou a vista algumas vezes. O facto de ter morrido jornalista, e não treinador de futebol, só abona em seu favor. Um dia falo dele noutro contexto e presto-lhe homenagem. JAE