Podemos não saber nada sobre Cervantes ou Shakespeare e ter uma vida muito produtiva. Mas se não soubermos nada sobre química não beneficiamos de tudo o que foi alcançado pela civilização nos últimos anos.
Cultura é tudo oque fica depois de esquecermos tudo o que aprendemos. A frase é antiga, mais do que sabida e repetida, mas faço questão de a relembrar a mim próprio quase todos os dias. Embora as principais fontes do conhecimento não sejam só a leitura e a escrita, para a grande maioria de nós ainda são a fonte principal da aprendizagem e da sabedoria. A conversa serve para introduzir uma descoberta que me fez ficar ainda mais careca do que já sou. O curioso é que foi durante a leitura do jornal El País, que lia religiosamente todos os dias e que, com a pandemia, tenho descurado assim como outras leituras. Uma entrevista com o cientista e prémio Nobel Roger Kornberg vivia deste título que dá o mote a toda a conversa: “As pessoas resistem à ideia, mas a vida é só química”. Dentro do texto, numa única resposta a uma das perguntas do jornalista, o cientista, filho de outro Nobel da medicina chamado Arthur Kornberg, explica o seguinte: “Você pode não saber nada sobre Cervantes ou Shakespeare e ter uma vida muito produtiva. Mas se você não souber nada sobre química, em minha opinião, não beneficia de tudo o que foi alcançado pela civilização. Os tempos mudaram e a química é a primeira coisa. Há 100 anos sabia-se tão pouco sobre qualquer ciência que você não precisava saber muito de física para ser uma pessoa culta e bem-sucedida. Importava o que você sabia de termodinâmica ou cosmologia? Realmente não. Mas no século XX surgiram a química, a biologia, a bioquímica, a medicina moderna. Há pouco mais de 100 anos, as doenças eram atribuídas a desequilíbrios nos fluidos corporais. Não havia cura para nenhuma doença, havia tratamentos: sangrias, purgantes agressivos. Se há 200 anos você não sabia nada sobre química, biologia ou medicina, não fazia grande diferença na sua vida. Mas hoje faz muitíssima diferença. Acredito que se as pessoas fossem mais bem formadas em química e em biologia estariam menos dispostas a abusar de sua própria fisiologia com drogas, fumo”... ( tradução do Google).
A entrevista, que pode ser encontrada na Internet com uma simples pesquisa, é uma lição para quem passa a vida a julgar que já sabe tudo com a arrogância de quem verdadeiramente não está a ver um palmo à frente dos olhos.
Esta edição de O MIRANTE é acompanhada com uma edição especial com 60 páginas dedicada em grande parte à nossa iniciativa Personalidades do Ano. Dei uma ajudinha mas o trabalho é de toda a equipa editorial e comercial. Falo do assunto porque as escolhas dos jornalistas de O MIRANTE voltaram a proporcionar homenagens a figuras da nossa região que não deixaram o seu crédito por mãos alheias e deram excelentes testemunhos de si e do seu trabalho. Agora é esperar que a pandemia acabe, ou deixe de ser tão perigosa, para lhes entregar pessoalmente as distinções. A cada edição das Personalidades do Ano ficamos mais cientes do nosso papel como jornalistas mas também como agentes de mudança, da mudança que eleva a nossa autoestima e faz do nosso território e das nossas gentes um exemplo que ninguém deve ignorar. JAE.
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