sexta-feira, 23 de julho de 2021

Correio sentimental em tempo de eleições

 

Quem escolhe as rotundas da sua terra para se anunciar ao povo como o candidato ideal devia ser castigado nas urnas. Não vejo melhor forma de castigar a ignorância.

Esta semana recebemos no correio mensagens interessantes de denúncia de alguns casos políticos, de gestão política, que só podem derivar do facto de estarmos em vésperas de eleições. Quase todos chegaram meio anónimos, embora seja fácil identificar as fontes se formos à procura do rasto das denúncias. Uma delas é do Entroncamento e já tem barbas. Outra é de Fátima e tem sido notícia regular em O MIRANTE. O que se estranha é a falta de coragem para debater estes assuntos nos lugares próprios que são as assembleias municipais (AM) ou as reuniões do município onde a comunicação social local e regional está presente. Na última semana, que coincidiu com a chegada das missivas, realizaram-se sessões da AM nas duas cidades em causa, e ninguém tugiu nem mugiu. O 25 de Abril foi há quase meio século e as novas gerações de políticos não se sentem à vontade para discutirem publicamente os problemas das suas aldeias, vilas e cidades. É triste. Parece que o nosso espírito guerreiro só aparece quando nos apertam as ventas. Não devia ser assim; mas está aí a realidade para provar que é mesmo verdade. Em algumas câmaras e juntas de freguesia governa-se com muita falta de jeitinho e alguma impunidade; e aproveita-se ao máximo a falta de sentido cívico da população ou, em alguns casos, a dependência que as populações têm dos políticos para abusarem da sua confiança.

A prova que uma boa parte da classe política portuguesa está ao nível dos tempos de antanho é a forma como faz publicidade em campanha eleitoral. Que lugar é que os grandes candidatos escolhem para darem a ler as suas palavras de ordem e mostrarem os seus lindos olhos? As rotundas, pois claro. Exactamente o lugar onde não passam pessoas; o lugar ideal para os automobilistas fazerem umas avarias a conduzir e a decorarem a cara e as palavras de ordens dos candidatos. Já vi rotundas com cinco cartazes de partidos diferentes e alguns deles com imagens onde está toda a família candidata à câmara. Quem escolhe as rotundas da sua terra para se anunciar ao povo como o candidato ideal devia ser castigado nas urnas. Não vejo melhor forma de castigar a ignorância. Fazer publicidade nas rotundas já é proibido em cidades do terceiro mundo. Em Portugal é o melhor lugar para os políticos venderem as suas fuças.

A lei eleitoral que está em vigor é à medida das cabeças pensantes que querem mudar o mundo mas só enquanto procuram o sono e pensam nos problemas que estão por resolver há décadas e que lhes dão moleza. Nenhum órgão de comunicação social tem condições para acompanhar uma campanha eleitoral sem se sujeitar a multas pesadas e, até, ao fecho do seu jornal ou rádio. Os nossos políticos sabem isso há décadas. Mas o que fazem os socialistas e os social democratas que vão governando o país alternadamente? Assobiam para o lado. O MIRANTE, tal como tem acontecido nas eleições das últimas duas décadas, só fará notícia em campanha eleitoral quando o homem morder o cão. JAE.

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