Portugal tem uma lei vergonhosa que impede que os melhores sejam escolhidos para nos governarem. Não há político honesto que não saiba que a nossa democracia não resiste à mediocridade instalada, mas todos assobiam para o lado e fingem que não se lembram que o 25 de Abril já foi há meio século.
Quando a imprensa regional e local tinha importância, na generalidade, temos que recuar pelo menos três dezenas de anos. Dez anos depois já se notava a diferença ainda para pior. Depois da Troika a vida das empresas editoras de jornais nunca mais foi a mesma. Os políticos, desde que José Sócrates tomou conta do Partido Socialista em 2004, começaram a fazer saldos dos seus estados de alma e venderam tudo o que havia para vender porque a máquina de produção de mentiras e actividades criminosas passou a trabalhar 25 horas por dia e com alta tecnologia. Destruir o edifício da comunicação social foi um dos objectivos mais escandalosos; sem jornalistas não há jornalismo e sem jornalismo ninguém é escrutinado, seja a receber dinheiro em envelopes em plena avenida da Liberdade, em Lisboa, seja nas empresas dos países onde o dinheiro não tem rosto nem deixa rasto.
É mais que sabido nos meios políticos, incluindo entre todos os políticos do regime com cargos importantes, seja a nível nacional ou local, que ainda há muita gente ligada a escritórios de advogados a receberem do Sistema para darem como concluída a extinção do Banco Português de Negócios (BPN), fundado em 1993, depois nacionalizado em 2008, onde terá começado a longa jornada de crimes que ainda hoje dura e que envolveu quase toda a elite dos políticos e dos banqueiros portugueses (evidentemente só uma pequena minoria foi descoberta e alguns pagaram com a vida essas aventuras criminosas). Muito antes do escândalo do BES visitei um gabinete de um banqueiro do tamanho de um campo de andebol, e nas paredes havia apenas um quadro com um grande cifrão a servir de decoração. E não direi que era obra de artista, mas sim uma boa reprodução numa moldura quase vulgar.
Não percebo como é que os líderes dos governos empossados têm que escolher a pior escória da política para formarem governos, sabendo que isso se deve ao facto de os ministros e os secretários de estado não poderem ter empresas em nomes deles. Esta falha na lei obriga os líderes a optarem pelos mais astutos, por aqueles que têm as sogras e os sogros, o cão e o gato, a gerirem o património e assim ficam livres não só para ocuparem imerecidamente lugares no governo do país, como depois para se servirem da política e enriquecem à boa maneira dos países do terceiro mundo. Os Homens sérios, que se recusam a fazerem figura de ótarios e esconderem o seu património para poderem ser membros de um Governo do país, rezam pela alma dos seus avós e aconselham os filhos a irem trabalhar para países onde, pelos menos, há vergonha.
Oliveira Salazar morria outra vez se voltasse à terra e percebesse como os políticos portugueses governam Portugal desde o dia 25 de Abril de 1974, como quase todos se dividem e andam desavindos, ao jeito das famílias sempre à briga para governarem a casa onde se aplica o velho ditado: onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão.
Os funcionários superiores do Estado que chegaram ao poder depois de saírem da política, que não fazem ponta de corno e ganham milhares de euros por mês, mais os gestores incompetentes da administração da coisa pública que obedecem apenas a quem tem dinheiro e manda nisto tudo, fazem de Portugal um país bom para envelhecer, comprar umas viagens às ilhas, aproveitar as tardes de Primavera/Verão para jogar as cartas, e as de chuva no Outono/Inverno para ir ao ginásio, e quando chegar a hora da partida apanhar um avião e ir até à Suíça para uma clínica onde pratiquem a Eutanásia. Deus me livre perder este sentimento de revolta e envelhecer num lar em Portugal a ver e a ouvir a televisão, nomeadamente aqueles canais que entrevistam os adeptos do Benfica, do Sporting e do Porto nas vésperas dos jogos, e logo a seguir passam 15 minutos de imagens de guerra ou de apreensão de drogas, quando não é de crimes passionais.
Comecei a escrever esta crónica falando do sector da imprensa em Portugal que é hoje mais pobre que Job, embora já tenhamos um patrãozinho chamado Cristiano Ronaldo que pode baralhar as contas a muita gente. Mas alguém acredita que o maior jogador de futebol de sempre tenha unhas para gerir jornalistas e gerar dinheiro sem depois vender uma parte aos Árabes, e outra aos chineses, que já são donos da nossa energia e do mais que nem sabemos? JAE.
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