No dia do funeral de Sérgio Carrinho revi um vídeo de uma entrevista ao autarca da Chamusca em que aparece por acidente o ex-presidente da Câmara da Golegã de outros tempos, Manuel Madeira, a dizer de fugida que não queria nada com o jornal. E já não era autarca há pelo menos 15 anos. São dessas boas memórias que um dia vou escrever um livro nem que seja só para memória futura.
Francelina Chambel, 91 anos, foi uma das cinco mulheres que presidiu a uma câmara municipal (do Sardoal) logo a seguir ao 25 de Abril de 1974. A rádio Renascença descobriu-a e fez-lhe uma entrevista na sua nova casa em Cascais, onde contou como foi governar o concelho, durante 17 anos, sem qualquer experiência política e logo a seguir à queda do antigo regime. O Sardoal era a terra do marido. Saiu de Marvila, em Lisboa, onde chefiava uma secção da Segurança Social, e lá foi para o Sardoal. O que fica desta entrevista? Duas frases que pretendem envergonhar os autarcas que passam a vida a organizar festas de meio milhão de euros, a passearem-se de charrete em cortejos com o povo trajado a rigor, à boa maneira de antigamente, a alimentarem empresários taurinos, em muitos casos a gerirem orçamentos milionários em que mais de metade do dinheiro é para sustentar a pesada máquina da autarquia: “Fico horrorizada quando ouço alguns autarcas a dizerem que não fizeram uma única casa no seu concelho”, e assinala “os cinco bairros sociais que foram construídos” durante o seu mandato. Por fim, pede atitudes mais altruístas aos actuais autarcas no exercício do poder “para se esquecerem de si próprios e tratarem bem os outros”.
Já escrevi aqui que não votaria num autarca que não tivesse no seu programa eleitoral a construção de casas de renda acessível ou bairros sociais para os mais desfavorecidos. Não me admira por isso que Francelina Chambel fale deste assunto com veemência, 50 anos depois do 25 de Abril, sabendo que uma pessoa só pode ser feliz se tiver uma casa para viver. Por fim fala dos autarcas “endeusados”, que compram bons carros, lembrando que quando foi para o Sardoal não tinha carro.
Vou viver o próximo domingo a trabalhar, mas para mim já nada é como dantes. O meu trabalho não será em reportagem, por ser dia de eleições autárquicas, mas a organizar a semana para segunda-feira poder regressar à secretária e tratar dos assuntos que ainda não entreguei a ninguém. Confesso, no entanto, que tenho saudades desses tempos em que tinha essa obrigação de fazer fotos e textos nos principais concelhos onde trabalhávamos. Mas não vivo das saudades. Vivo um dia de cada vez e domingo vou viver certamente um dia feliz ganhe quem ganhar. No dia do funeral de Sérgio Carrinho revi um vídeo de uma entrevista ao autarca da Chamusca em que aparece por acidente o ex-presidente da câmara da Golegã de outros tempos, Manuel Madeira, a dizer de fugida que não queria nada com o jornal. E já não era autarca há pelo menos 15 anos. São dessas boas memórias que um dia vou escrever um livro nem que seja só para memória futura. JAE.
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