O Outono é a melhor das estações para mudarmos de vida. O Outono tem o rosto do sono; de um dia para o outro estamos no Outono como saímos e entramos involuntariamente nos olhos de uma mulher de 30 anos com umas pálpebras de uma mulher de 60. O Outono é a revolução da Primavera; a escultura que fica da primeira derrota do artista que anda a brincar com a natureza. O Outono chama-se Constância, Aldeia do Mato, Dornes, Azinhaga, Valada, Palhota, Azambuja, Porto das Mulheres, nomes de aldeias e lugares que fazem lembrar os campos do Ribatejo no tempo das antigas searas de aveia, cevada e girassol. O Outono é o rio Tejo renascido com as primeiras águas da chuva que ajudam a limpar as marachas poluídas de todos os banquetes de Verão à beira-rio. O Outono é a estação das palavras mágicas que encontramos no romance “As Bicicletas em Setembro” do escritor Baptista-Bastos.
O Outono é residência oficial da paisagem ribatejana; de um dia para o outro o pôr-do-sol parece que engoliu o arco-íris; depois das colheitas do tomate, do milho e das uvas, as terras do campo ficam quase nuas, com o sexo escondido no restolho, e entre o rabisco que é alimento de muitas e variadas bocas.
O Outono é a melhor das estações do ano para recordarmos os nossos avós; para comermos os últimos figos directamente da figueira; para visitarmos um lar de terceira idade com os bolsos cheios de caramelos;
Este ano festejo o meu aniversário em pleno Outono, quando caem as folhas das árvores, quando as raízes adormecem, quando os cogumelos selvagens começam a valer dinheiro. Para o ano espero comemorar o aniversário no Inverno; e no outro ano em plena Primavera, e no ano seguinte no Verão, e assim sucessivamente de estação em estação até ao Outono final.
*Título inspirado no filme “Primavera, Verão, Outono, Inverno… Primavera” que é um dos filmes da minha vida. JAE
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