Nos últimos tempos falhei encontros importantes; com o Adelino Gomes em Abrantes; com o Otelo em Santarém; com o Tiago Guedes no Cartaxo. Estou sempre a falhar encontros importantes porque o meu sonho é cada vez mais estar em todas ao mesmo tempo e depois poder escrever, ou não, conforme a minha vontade. Faço bem a gestão destes desencontros porque tenho hábitos diários de leitura e viajo com alguma regularidade. O prazer de ler diariamente um bom livro, ou de abrir caminho, regularmente, numa nova viagem, são experiências que compensam o pesadelo do trabalho diário que muitas vezes é quase um castigo. O livro é mais sagrado; ficamos mais eternos cada vez que encontramos a matéria com que se fazem os sonhos. As viagens são os abdominais da vida; sem o desconcerto, e o desconforto de tudo o que nos acontece, antes e durante uma viagem, nunca conheceríamos os segredos do olhar das rainhas quando olham os servos com que se deitam.
De um livro quero aquilo que se pode ouvir num “jardim japonês”: “Ao minuto de gozo do que chamamos Deus, fazer silêncio ainda é ruído”. ( Adélia Prado). De uma viagem espero sempre a absolvição por tudo o que de mal fiz a mim próprio e me faz sofrer de todas as maleitas do século que vão desde o stress à falta de sono. E em cada viagem vou pedindo como quem esmola: “Ó meu corpo, protege-me da alma o mais que puderes. Come, bebe, engorda, torna-te espesso para que ela me seja menos pungente” (Maria Noel). JAE
Nota Final: Morreu José Manuel Cordeiro; empresário, dirigente associativo e, imagine-se, político. Se todos os políticos fossem como ele este mundo seria bem mais justo. A lembrança do seu nome chega para o homenagear; tenho a certeza que ele aprovaria, na hora da despedida, palavras simples e gestos comedidos.
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