“Portugal é um bordel em autogestão”. De tanto ouvir esta afirmação um dia tinha que a escrever. Ouço-a repetidamente há cerca de duas dezenas de anos e voltei a ouvi-la na passada semana numa reunião de empresários e da boca da mesma pessoa. A frase é muito forte e apetece desligar da conversa quando se ouve alguém a extremar assim o discurso não deixando margem para sonharmos com a luz ao fundo do túnel. Da última vez reparei que os ouvintes, comparsas como eu, estavam mais atentos e menos chocados com as palavras. “Eu não quero nada com o António Saraiva, da CIP, porque jamais aceitarei que o patrão dos patrões portugueses seja um tipo que começou a vida como sindicalista na Lisnave”. Esta é outra das afirmações dezenas de vezes repetida e que, ao contrário do que é habitual, em vez de perder sentido com o passar do tempo ganha cada vez mais actualidade porque os empresários, principalmente os pequenos e médios, estão cada vez mais na mão de meia dúzia de bancos e de uma dúzia de capitalistas. Hoje não é pobre quem tem um emprego certo e ganha um ordenado; é pobre quem tem uma empresa e não sabe como contratar mão-de-obra especializada e como resolver os problemas das dívidas acumuladas.
Duas palavras para os figurões dos políticos que nos governam já que eu acho que isto está mau mas ainda não é verdadeiramente “um bordel em autogestão”. As eleições são uma forma dos políticos disfarçarem as suas más intenções quanto à governação do “bordel”. De outra forma mudavam a lei eleitoral; limitavam os mandatos dos deputados e não só dos autarcas; taxavam mais os ricos e não roubavam das reformas; abriam mais tribunais e não fechavam os poucos que existem; formavam mais juízes e faziam de Portugal um país do primeiro mundo. “Bordel” é uma metáfora injusta para um país que foi pátria de Camões e Salgueiro Maia. Mas que cheira a “pocilga” isso não tenho dúvidas. JAE
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