Os jornalistas de O MIRANTE são vizinhos do Tribunal de Almeirim onde os processos não andam nem desandam. Até há pouco tempo todos os advogados eram unânimes: ah tens um processo no Tribunal de Almeirim? Então esquece ou faz um acordo mesmo que seja mau. Por causa da reforma judicial e dos problemas informáticos o país só fala dos advogados e dos processos que estão a por em causa a lei e o Estado de Direito.
Estamos solidários com todos os advogados que têm clientes presos, que não conseguem receber o dinheiro das penhoras, etc, etc, e achamos muito estranho que a ministra da Justiça venha dizer que o que se passa é apenas um incómodo. É lamentável que uma ministra da Justiça fale assim. Mas chegou a hora de perguntar: o Tribunal de Almeirim, e outros que existem por esse país fora, não pertencem ao sistema? Os portugueses que têm os seus processos parados nos tribunais que o sistema pôs no índex são portugueses de segunda? O que se está a passar entretanto para haver futuro não é menos gravoso que haver tribunais de Almeirim por esse país fora? Eu acho que sim. E tiro o chapéu à senhora ministra por ter tido a coragem de arriscar esta reforma.
Os juízes estiveram reunidos em congresso e pediram aumentos de ordenados à senhora ministra. E vão tê-los. Toda a gente se lembra da recente condenação de um homem que roubou para comer num supermercado do Porto. Toda a gente anda a perguntar que Justiça se deve fazer aos juízes que são tão bons a produzir sentenças nos pequenos crimes e nos grandes não têm mãos que cheguem para condenar os poderosos. Mário Soares está na capa do jornal “Expresso” da passada semana a abraçar Isaltino Morais e a confessar que ele foi vítima num país onde os grandes criminosos ficam impunes. Se os juízes não responderem, com mais trabalho e coragem, aos desafios que lhes estão a ser feitos há muitos anos, a democracia portuguesa já foi. Aliás, quem vai ficar na história daqui a muitos anos não é Passos Coelho nem Cavaco Silva; é a Justiça e os seus protagonistas que têm ficado muito mal no retrato. Basta lembrar as prescrições no caso Jardim Gonçalves e o resto que nem é bom falar porque é mau demais. JAE
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