Aretino (nasceu em 1492 e morreu em 1556) foi o poeta satírico cujo talento fez do Pasquino uma verdadeira instituição. Com esse nome era conhecida uma estátua mutilada, grega de origem, que até hoje existe num canto de rua da Piazza Navona. As pasquinadas de Aretino, regularmente afixadas ao soclo da estátua para deleite de toda a população da cidade de Roma, acabaram por se transformar numa instituição. Parodiando os almanaques astrológicos muito em voga na época, Aretino fazia previsões humorísticas e julgamentos cáusticos sobre figuras e acontecimentos do dia. Impressos em folhas soltas, eram vendidos nas ruas, contribuindo decisivamente para popularizar o nome do poeta e formar-lhe a reputação de satírico terrível.
Aretino afirma-se como um emancipador da classe dos escritores condenados a viver única e exclusivamente da generosidade dos mecenas, sendo por eles relegados amiúde à mesma condição dos lacaios e serviçais de condição inferior. Se faço o que faço, e por tais meios, é porque eu perseguia a emancipação de toda uma classe; tomei a peito o rebaixamento dos escritores, obrigados a viver de caridade e de esmolas; e mostrei-lhes o caminho da independência”, escreveu o poeta de “Sonetos Luxuriosos”. Foi assim considerado “o precursor do jornalismo moderno por ter feito os poderosos do seu tempo temerem a força da palavra, a palavra que molda a opinião pública e é capaz de abalar tronos ou legitimar reis”.
Nos últimos tempos, duas figuras medonhas da política local, cujos nomes não cito por serem parecidos com os figurões da época de Aretino, referiram-se a O MIRANTE como o Pasquim da região. A comparação encheu-me de orgulho. Mas o orgulho não paga multas em tribunal a quem chama os bois pelos nomes em letra de imprensa. Até nisso os tempos são outros para pior. Aretino morreu como um príncipe rodeado de cortesãs, protegido pelas doações em dinheiro que chegavam de Inglaterra, Portugal e Hungria. Até o Barba-Roxa, o temível pirata de Argel, lhe enviava presentes em dinheiro.
Falta contar, entre muitas coisas, que ele era considerado um mestre na chantagem pela forma como sabia ridicularizar e denegrir os figurões da época que se recusavam a pagar-lhe. A diferença para os dias de hoje também é medonha: Os jornalistas que ainda levam a profissão a sério um dia vão pagar do seu bolso para voltarem a escrever folhetos clandestinos de forma a poderem gozar, à boa maneira do antigo Pasquim, a vida corrupta dos Cardeais do nosso tempo. JAE
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