quinta-feira, 13 de agosto de 2015

“Poesia-me”

"Poesia-me”. A palavra está escrita num mural algures numa cidade que já esqueci o nome. Ainda hoje me sirvo dela. “Não estamos aqui para viver vidas úteis....mas belas”. Esta frase foi roubada de um livro e está escrita na minha testa para a ler quando me vejo ao espelho. Regra geral estou “aqui” quase sempre a fazer o contrário daquilo que os mestres ensinam; “O livro é um mudo que fala; um surdo que responde; um cego que guia; um morto que vive”. Palavras do Padre António Vieira que é autor do Sermão a Santa Iria de Santarém “na opinião do mundo, uma das virgens loucas que por isso excedeu singular e unicamente a todas as virgens prudentes”. A Obra está a ser reeditada mas o Sermão está na internet disponível para todos os que gostam de ler o mais sábio de todos os padres portugueses que foi condenado em 1667 pela Inquisição e privado de pregar em público, além de ser obrigado a passar cinco anos em degredo, em Roma. Um doloroso castigo pois os sermões transformaram Vieira, citando Fernando Pessoa, no “imperador da língua portuguesa”. A punição deu origem a uma amizade epistolar com Cristina Vasa, ex-rainha da Suécia, que foi morar em Roma depois de abdicar do trono. As cartas, muito eróticas, foram recentemente publicadas em livro, no Brasil, e são uma inspiração para qualquer cristão que se preze, vista batina ou calças de ganga.
O relatório diário da Mariana em Agosto é uma desilusão. Gosto de chegar ao fim do dia e ler os recados dos leitores zangados com a má distribuição do jornal, o recado do leitor azedo com a notícia que saiu incompleta, o telefonema anónimo a denunciar algo errado, as ordens dos leitores que muitas vezes entendem, e bem, que nós somos fraca-roupa e que, muitas vezes, ficamos nas covas. Em Agosto pára tudo. Até os telefonemas dos leitores a protestarem ou a sugerirem notícias. Vivemos num país que, como no tempo das vacas gordas, vai de férias em Agosto. Apesar de ter caído o Carmo e a Trindade com a prisão de José Sócrates e Ricardo Salgado, e de Mário Soares, o Papa da nossa democracia, ser visita assídua dos dois, Portugal vai de férias em Agosto e não discute o preço do hotel nem da diária. O Padre António Vieira gostaria certamente de alterar alguns dos seus sermões caso fosse Santo ao ponto de nos fazer uma visita a cada século. JAE

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