sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Marcelo, o presidente, e Francisco, o seu saudoso sobrinho e afilhado

 


A reinauguração do Museu da Língua Portuguesa é pretexto para falarmos do Brasil mas também de Portugal, de Marcelo Rebelo de Sousa e do seu sobrinho e afilhado, Francisco Themudo de Castro, que morreu tragicamente num acidente de viação e que era uma pessoa notável de quem esperávamos muito, não fosse o trágico e estúpido acidente em que faleceu.

Marcelo Rebelo de Sousa é o melhor Presidente da República pós-25 de Abril. Julgo que ninguém terá dúvidas. O homem fez um percurso notável até chegar a este lugar com larga maioria de votos dos portugueses. Embora seja um constitucionalista e professor universitário reputado, foi como colaborador e director do jornal Expresso durante nove anos que fez um brilharete, depois como candidato à Câmara de Lisboa e mais tarde como presidente do PSD. Ouvi algumas histórias de pessoas próximas que são uma delícia, que mostram a sua capacidade intelectual e de liderança. Curiosamente estou ligado a uma história dramática na vida de Marcelo Rebelo de Sousa. Um dos seus sobrinhos e afilhados, Francisco Themudo de Castro, que morreu no dia 11 de Junho de 2014, num desastre de mota, era um rosto da Associação Portuguesa de Imprensa (API) e tudo indicava que ia ser o novo presidente da associação mais representativa dos patrões da comunicação social em Portugal preparando-se para substituir João Palmeiro que, na altura, já se eternizava no lugar. Marcelo Rebelo de Sousa apoiava o sobrinho e afilhado, tinha interesse em saber do seu trabalho na associação e as pessoas que mexiam os cordelinhos por fora já ligavam a quem tinha opinião, como era o meu caso, sobre o que pensávamos do seu trabalho e da possibilidade de ele assumir a presidência.

Uma morte num acidente estúpido de mota, em Cascais, no dia 14 de Junho de 2014, deixou-nos mais pobres porque o Francisco, para além de um excelente executivo e dirigente, era uma pessoa cheia de virtudes, que faziam dele um homem e um amigo admirável. Com a sua morte a API perdeu a capacidade de se renovar, ficaram, e ainda lá estão os mesmos de sempre, descuidados, desfalcados, um espelho daquilo que a imprensa local, regional e nacional está a passar com a morte de muitos títulos. Como a API não tem solução, e os grandes patrões não se querem zangar no meio da desordem, criaram entretanto a denominada Plataforma de Meios; os cinco grandes grupos de comunicação social juntaram-se e mandaram às urtigas a associação presidida por João Palmeiro.

Resumindo; apesar dos cemitérios estarem cheios de gente insubstituível, a morte de um jovem de 38 anos, cheio de vontade de vencer na vida, preparado para uma missão, pode mudar para pior o mundo de muita gente. Neste caso mudou mesmo. A morte de Francisco Themudo de Castro foi um duro golpe nas aspirações daqueles que ainda acreditam no associativismo e na liderança de uma associação de jornais que defenda em igualdade de circunstâncias os grandes e os pequenos editores. Um homem faz a diferença no mundo e não precisa ser Gandhy, nem Mandela nem José Mujica; pode chamar-se Marcelo Rebelo de Sousa ou Francisco Themudo de Castro.

A visita do Presidente da República ao Brasil para a reinauguração do Museu de Língua Portuguesa em São Paulo foi um fiasco para a diplomacia portuguesa. A língua portuguesa não se valoriza com museus mas sim com políticas de educação, acordos bilaterais com editoras livreiras e discográficas, com apoios às universidades que tenham protocolos luso-brasileiros. Enfim, o Brasil é só a quinta economia do mundo e Portugal, que lhes empresta a língua, é só o país mais pobre da Europa ocidental, embora tenhamos uma democracia que funciona melhor do que em alguns países de África e da Europa de leste. Mas só às vezes. Ninguém faz nada para mudar o rumo desta relação entre irmãos que se conhecem mas não se falam nem querem saber uns dos outros.

Estive na inauguração do Museu no dia 20 de Março de 2006 e senti orgulho em ser português mas hoje reconheço que foi só um sentimento provocado pela emoção do momento e pela felicidade do reencontro em terras de Vera Cruz. Depois disso já me emocionei muito mais a conviver com brasileiros do Maranhão e do Ceará, mas também do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, alguns tão devotos de Nossa Senhora de Fátima como da memória de Pedro Álvares Cabral. JAE.

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