quinta-feira, 28 de abril de 2022

Um discurso fascista no 25 de Abril e a fuga do presidente do INIAV

Nos 48 anos do 25 de Abril fui ouvir um discurso fascista a Benavente. Entretanto deixo aqui a última novidade sobre o presidente do INIAV que é acusado de ter boicotado um projecto para a região em que se perderam cerca de seis milhões de euros de fundos comunitários

A poeta uruguaia Cristina Peri Rossi recebeu recentemente o prémio Cervantes que ganhou em 2021. Aos 81 anos a escritora admitiu que o prémio lhe dá jeito para pagar a renda da casa e confessou que receber o prémio não é fazer concessões aos seus ideais de vida e sociedade. Cristina Peri Rossi exilou-se em Espanha em 1972 fugindo à ditadura política no seu país. A sua obra é vasta e incomum. É da sua autoria um dos poemas mais belos que já li e que publicamos nesta página.

Lembrei-me de Cristina Peri Rossi em Benavente no dia 25 de Abril ao ouvir um discurso público de uma autarca dos novos partidos que tentam ganhar espaço aos partidos tradicionais da nossa democracia já com quase 50 anos. Não falo em nomes, nem em siglas, mas não perco a oportunidade de deixar aqui escrito, preto no branco, que há gente que ignora propositadamente o nome de Salgueiro Maia, não sabe dar valor ao facto de termos conquistado a liberdade com cravos, e não com armas, faz o discurso do miserabilismo e da desgraça como se o Tarrafal, a PIDE, a discriminação racial e de género, entre outras injustiças, tivessem sido uma ficção.

Benavente organizou a sessão na rua, em frente ao edifício da câmara municipal, numa tarde de sol que pareceu de encomenda para as comemorações. Ouvir um discurso fascista num dia em que se festeja a liberdade não é para todos os estômagos. A verdade é que houve quem fizesse a diferença pela positiva e isso é que é importante realçar. Nem todos os concelhos dão importância às comemorações do 25 de Abril mas em Benavente e Santarém, onde tive oportunidade de marcar presença, o povo saiu à rua, ouviu-se e sentiu-se mais uma vez o clamor da madrugada que todos esperávamos.


Numa notícia desta edição damos conta da vinda a Santarém do presidente do INIAV, Nuno Canada, que participou numa conferência sobre um projecto ligado à gestão e valorização agronómica/energética dos fluxos gerados na actividade pecuária. O MIRANTE quis aproveitar a saída da toca de Nuno Canada mas o presidente do INIAV fugiu do jornalista como se estivesse a fugir da polícia. António Costa devia saber que tem um empregado público a gerir uma instituição que merecia um dirigente à altura, que não tivesse medo de falar daquilo em que está envolvido, assim como de responder publicamente aos políticos que lhe chamam incompetente. JAE.


História de um amor

Para que eu pudesse amar-te
os espanhóis tiveram de conquistar a América
e os meus avós
de fugir de Génova num cargueiro apodrecido

Para que eu pudesse amar-te
Marx teve de escrever O Capital
e Neruda a «Ode a Leninegrado».

Para que pudesse amar-te
em Espanha houve uma guerra civil
e Lorca morreu assassinado
depois de ter visitado Nova Iorque.
Para que eu pudesse amar-te
teve Vírginia Woolf de escrever Orlando
e Charles Darwin
de viajar ao Rio da Prata.

Para que eu pudesse amar-te
enamorou-se Catulo de Lesbia
e Romeu de Julieta
Ingrid Bergman filmou Stromboli
e Pasolini Saló ou os Cento e Vinte Dias de Sodoma

Para que eu pudesse amar-te,
Luís Llach teve de cantar «Eis Segadors»
e Milva os poemas de Brecht.

Para que eu pudesse amar-te
alguém teve de plantar uma cerejeira
na cerca da tua casa
e Garibaldi de lutar em Montevideu.

Para que eu pudesse amar-te
as crisálidas fizeram-se mariposas
e os generais tomaram o poder.

Para que eu pudesse amar-te
tive de zarpar num navio da cidade onde nasci
e tu de resistir a Franco.

Para que nos amássemos, por fim,
ocorreram todas as coisas deste mundo

e desde que nos amamos
persiste uma grande desordem.

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