quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Uma espécie de empresários
Há duas dezenas de grandes empresários na nossa região que construíram tudo a partir do quase nada. São gente na casa dos setenta anos e a grande maioria é um exemplo a seguir. Eles são ricos mas continuam a fazer vida de pobres. Já não têm a agilidade e a força física dos trinta anos mas continuam a ser os carregadores de todas as maçadas das suas empresas. E não é difícil encontrá-los numa feira a varrer o chão de uma sala de exposições, a mudar os móveis, a limpar o pó, a assumirem o lugar atrás de um balcão ou de uma secretária como se a vida empresarial, para eles, estivesse agora a começar. Conheço muita gente desta raça que trabalha 16 horas por dia e continua a recusar mais do que alguns dias de férias por ano e ainda trabalha ao sábado e ao domingo. E não é por ganância; é vício pelo trabalho; orgulho de quem não quer perder a face; satisfação de ver a sua empresa a crescer e a dar emprego aos da sua terra. Muitas vezes é trabalhar, trabalhar, trabalhar, com medo que se perca de um dia para o outro aquilo que demorou anos a construir e, em cima disso, a vergonha pública do insucesso que leva muitos ao suicídio ou a uma vida desregrada que quase sempre acaba pior que num suicídio.
Conheço muitos destes empresários e conheço alguns dos seus filhos. Estes últimos, sem excepção, são o inverso dos pais. Atendem do lado de trás de um telefone. Falam com pessoas que têm a idade dos seus pais como se estivessem a falar com miúdos da escola. Cantam de galo enquanto demoram semanas, e às vezes meses, a responderem a uma simples solicitação. Do outro lado do telefone, sempre do outro lado do telefone, dizem que não gostam de dar a cara, que têm mais que fazer, que não têm tempo a perder, que vão daqui a pouco para o estrangeiro. Claro que muitas destas respostas chegam através das suas secretárias. Eles são pessoas muito importantes e estão muito ocupados a tratarem de assuntos inadiáveis. De verdade na maior parte dos casos estão ao telefone com as namoradas, a verem revistas de carros, a consultarem sítios na internet com informações que vão desde as financeiras até aos lugares mais indicados para namorar com meninas de programa.
Todos os dias devo uma homenagem a muitos homens empresários que conheço que me serviram ou servem de referência. Não conheço, pelo menos que me lembre, na altura em que escrevo este texto, um dos filhos deles que me mereça uma palavra de elogio. Ao contrário: a imagem e a informação que tenho deles é a de meninos ricos, soberbos, vaidosos, que vestem roupa de marca mas por debaixo da roupa cara têm sempre umas cuecas cagádas.
Passou uma eternidade desde que a população de Foros de Salvaterra começou e acabou de construir uma casa nova para a Marília e os seus filhos. “Pedimos desculpa por não termos construído um palácio”, escreveram num comunicado distribuído à população os voluntários que se substituíram ao Estado e aos organismos que têm a obrigação de ajudar os mais desprotegidos. A Segurança Social, a CPCJ e o Governo, todos representados em parte por uma técnica chamada Clara Carregado e uma governante de seu nome Idália Moniz, devem ser as pessoas mais felizes do mundo na companhia dos seus queridos filhotes.
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