quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

“Peregrinos de Fátima”


Recentemente os jornais de Lisboa ditos de referência queixaram-se nas páginas uns dos outros do boicote à colocação de publicidade nos órgãos de informação que o Governo considera que exageram nas más notícias.
O caso não é inédito mas merece reflexão. A grande maioria dos jornais de Lisboa vive em boa parte da publicidade do Estado ou dos grandes grupos económicos. Se a conjuntura política e económica é desfavorável e eles têm que ser os mensageiros da desgraça basta que lhes calhe um primeiro-ministro hipersensível às notícias e às críticas para eles não se fazerem rogados e escreverem o que lhes vai na alma.
A excessiva concentração de jornais na cada vez menos populosa Lisboa, e a missão que todos querem continuar a praticar fazendo jornalismo de proximidade, ou seja, à porta dos membros do governo e das instituições governamentais sedeadas na capital, só pode acabar um dia à batatada ou, na melhor das hipóteses, na falência das empresas e no desemprego.
É certo e sabido que o Governo vai atender a algumas queixas. Mas não é menos certo que outros para chegarem aos seus objectivos e salvarem os seus jornais vão ter que dobrar a espinha. Outros morrerão no seu posto e desses o futuro um dia dirá se ficaram na história.
O que é vergonhoso é a promiscuidade do sistema. Com os jornais regionais e com as empresas de comunicação social regional vale tudo menos tirar olhos. Os jornalistas da cidade (leia-se Lisboa) olham para os jornalistas do campo (leia-se província) como se fossem todos marroquinos. E o Governo tem na lei obrigações com a comunicação social regional que nunca cumpriu nem pouco mais ou menos. Mas, como vozes de burro não chegam ao céu, há-de continuar a não cumprir sem que isso ofusque o voo de um pirilampo.
Concentrados entre a Assembleia da República e os degraus da porta do primeiro-ministro, os jornais e os jornalistas de Lisboa vivem momentos difíceis. Mas o pior ainda está para vir. Estejamos atentos porque é bem possível que este Governo, a exemplo de outros, consiga continuar a conquistar os melhores jornalistas para assessorias nos vários ministérios enquanto os patrões da comunicação social vão tentar a cada dia que passa continuar a editar os seus jornais recorrendo a estagiários e a um ou outro jornalista sénior desalinhado.
A fazer fé no país que os últimos governantes têm vindo a afundar, e continuando a acreditar nos mesmos jornalistas de sempre que vão fazendo o papel de “peregrinos de Fátima”, juntemo-nos todos, ribatejanos e alentejanos, beirões e algarvios e cantemos em uníssono: “de pé ó vítimas da fome….”
Este texto foi escrito no dia da imprensa (15 de Dezembro) depois de ter assistido em Lisboa à homenagem a António Pedro Ruella Ramos director do extinto Diário de Lisboa. Apesar de não ter sido convidado, mas sabendo do que a casa gasta, apareci e não me arrependo. Francisco Pinto Balsemão, que fez o elogio do seu amigo, confirmou mais uma vez as razões que fazem dele a figura mais prestigiada e influente do mundo dos media.


O Filipe a Soraia e a Tatiana vão passar o Natal a casa dos pais. Depois vão ter que voltar ao Centro de Acolhimento da Barquinha. Para eles o Natal é a Justiça divina. Pobre país que não sabe amar as suas crianças.

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