quarta-feira, 14 de março de 2012

Se tivesse medo comprava um cão


Um dia fui convidado para participar num jantar conferência de um grupo maçónico. Aceitei com naturalidade porque queria encontrar-me com alguém de quem precisava de um favor para a edição do livro de poesia de José Niza que O MIRANTE editou em Abril de 2008.
Fui apresentado a muita gente ilustre por um igualmente ilustre professor e presidente de uma grande instituição da cultura portuguesa. Não pedi nada mas ofereceram-me várias vezes amizade e disponibilidade. Olhe este é o Joaquim e este é o fulano de tal, e se um dia precisar de alguma coisa é só dizer caso esteja ao nosso alcance. Em dois ou três casos percebi que o cumprimento foi o da praxe. Noutros tantos notei respeito e atenção por mim e pela pessoa que me apresentava. Noutros já nem me lembro mas sei que foram tão importantes como importante é saber o que vai agora e nesta hora pelo Tejo abaixo.
O orador convidado foi falar dos novos paradigmas da comunicação e a certa altura agarrou no seu telemóvel e começou a simular ligações à CNN, France-Press, Reuters, Sky News, SIC, RTP, etc, etc, querendo com aqueles exemplos lembrar que um cidadão com um pequeno aparelho já podia saber o que se passava nos quatro cantos do mundo sem sair do seu quarto ou do seu escritório. E para levantar bem alto o poder das tecnologias deu o exemplo daquilo que meia dúzia de bloguistas, contratados com intenção de divulgarem uma calúnia, podiam fazer pela honra e pela honorabilidade de um homem. Com o profissionalismo que anda aí pelas redacções basta que meia dúzia de bloguistas divulguem em paralelo uma mesma notícia falsa que os mais insuspeitos órgãos de comunicação social caem na armadilha que nem anjinhos, avisou com todas as palavras Francisco Pinto Balsemão, o mais insuspeito dos empresários da comunicação social portuguesa.
Curiosamente o orador deste jantar foi recentemente vítima deste tipo de ataques mas muito mais sofisticados do que ele próprio podia supor há quatro anos. O que prova que, mesmo nas novas tecnologias, os empresários têm muito que aprender com os polícias.

A sociedade em que vivemos está organizada para servir os homens que têm garganta funda e dominam a arte do circo. Está a ficar complicado encontrar na vida pública tipos coerentes, que trabalhem para uma causa e que não andem a comer em várias panelas ao mesmo tempo, que sejam homens de trabalho, ou de negócios, que assumam publicamente as suas virtudes e defeitos e que não se escondam atrás de uma linguagem de fala-barato, de supercristãos ou de superdemocratas. Há gente na vida pública que diz uma coisa hoje e amanhã já está a fazer outra. E o mundo continua a girar à volta deles com um arco-íris ao longe dando tamanho e dimensão às grandes mentiras e às pequenas tiranias.
Por mim bem pode espernear e mandar coices. Só desisto se atacarem à traição. Enquanto for dono do meu juízo não levantarei um dedo para responder às ameaças veladas que chegam pelo telemóvel ou pela internet de forma anónima. Se tivesse medo comprava um cão.

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