quarta-feira, 18 de julho de 2012
Impostores e abéculas importantes
Uma crónica de Verão incluiria no meu caso a história de sucessivas idas ao teatro e ao cinema. Longos períodos nas livrarias a adorar livros como jamais adorei santas; alguns mergulhos do paredão da praia do Estoril ou umas visitas mais raras à praia do Meco e às várias praias da Caparica; um, dois, três mergulhos no rio Tejo, e uma sesta na maracha ali para os lados da Chamusca e da Golegã; umas massagens de reflexologia e de shiatsu; viagens de curta duração a Nápoles, Florença, Madrid, Paris e Amesterdão. Enfim, tenho mil projectos para realizar ainda a tempo de aproveitar a energia do corpo, e a força do espírito, que prometem desaparecer com o avançar da idade. Para quem não sabe tenho quase sessenta anos e sei que a falência dos meus órgãos está para breve. Se não aproveitar enquanto duram, bem posso ser o melhor da minha rua; o mais feliz dos jornalistas da minha terra; o mais terrível dos escribas do meu bairro, que o meu fim será igual ao do gato da minha vizinha que confiou demasiado no meu cão julgando que ele era a cara do dono.
O meu sonho como jornalista era, e é, fundar uma televisão regional. Já não me levanto de manhã a pensar que vou trabalhar no maior jornal da região que, ainda por cima, tem um sítio online que é ferramenta de trabalho de muita boa gente, assim como um canal de vídeos. Agora, que sei como é que o “Correio da Manhã” e “A Bola” vão criar os seus próprios canais de televisão, não sonho com outra coisa; e todos os dias de manhã me levanto da cama com um salto sabendo, no entanto, a cada dia que passa que o soalho vai ceder mais tarde ou mais cedo.
Acho extraordinário, em tempo de crise, as lojas das nossas cidades e vilas fecharem às 19 horas. Noutros tempos, quando o dinheiro se multiplicava facilmente, trabalhava-se de dia e de noite. Agora, que é preciso mostrar trabalho, e entrar na competição com as grandes superfícies, os lojistas e os comerciantes falidos fecham a meio da tarde e deixam as cidades às moscas e as suas montras entaipadas como se vivêssemos no melhor dos mundos.
A maior parte das universidades portuguesas são escolas de carteira e lápis. Um negócio chorudo e entregue a gente pouco escrupulosa. Este caso da licenciatura de Miguel Relvas é próprio de um país de doutores e engenheiros. Há por aí muita gente com licenciatura comprada ao mesmo preço da de Miguel Relvas. A única diferença é que pagaram mais caro e devem ter esperado mais tempo.
Por mim Miguel Relvas pode começar já a mostrar trabalho em Mestrado. E logo a seguir em Doutoramento. Este é o país em que os presidentes da República indultam criminosos refinados; e condecoram todos os anos alguns dos mais importantes impostores do regime, quando não é o caso de serem apenas simples abéculas. Vivemos num país de equívocos e de monopólio das televisões e de meia dúzia de grupos económicos. Miguel Relvas é o mais inocente dos ribatejanos no Governo desde o 25 de Abril. A prova é que fizeram dele um malfeitor por causa de uma licenciatura que, como tantas outras, e de tão boa gente, foi conseguida exactamente com os mesmos expedientes. É um espanto a abertura de noticiários televisivos com este tema. Vigiar o sistema e exercer a cidadania é uma coisa; caça às bruxas é outra bem diferente.
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