quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Um dia especial


A crise continua a ser matéria para muita preguiça. Não resisto a escrever sobre a minha vida em tempo de crise. Na segunda-feira passei a manhã de empresa em empresa à procura de material para montar meio hectare de terra com um sistema gota a gota. Só numa empresa fui atendido por quem efectivamente queria vender o produto. Em quatro balcões fui tratado sempre com alguma simpatia mas sem notar qualquer esforço em segurarem-me como cliente. Acabei a comprar onde efectivamente foram solícitos, deram os melhores preços e prometeram ser mais rápidos a entregar a mercadoria.
Em todos os balcões recambiaram-me para outros. Achei curiosa a forma das pessoas que estão ao balcão serem úteis na informação ao cliente; mas fiquei a perguntar-me: quando o Correio da Manhã ou o Diário de Notícias vêm ao mercado de O MIRANTE roubar os nossos anunciantes, prometendo o que não conseguem dar como nós damos, será que o sector comercial de O MIRANTE também baixa os braços e deixa correr o marfim?

Em tempo de crise não percebo como quase toda a gente vai de férias em Agosto; como se mantém a mesma postura na gestão de um negócio sabendo que as vendas estão a cair e o dinheiro não entra em caixa de forma a chegar para cumprir os pagamentos graúdos à Segurança Social e ao Fisco, incluindo o pagamento do IVA facturado que as empresas só recuperam dos clientes muitos meses ou anos depois.
Depois desta viagem em nome da rega gota a gota encontrei-me à entrada da redacção do jornal com um homem que acaba de fechar uma das lojas mais antigas da cidade de Santarém.
Ia a caminho do parque de estacionamento não pago junto à Igreja de Santa Clara. Meia hora de conversa e nas suas palavras o Centro Histórico de Santarém ficou ainda mais deserto e em ruínas.

Na passada semana fui almoçar a um daqueles restaurantes antigos da zona histórica onde não entrava há uma eternidade. Nada de novo: uma sopa, um prego e uma cerveja ao balcão. Passaram duas pessoas pelo restaurante naquela meia hora. Ficou a memória dos símbolos do Benfica por todo o lado e o agradecimento do patrão na hora de pagar. E um especial “obrigado também pela visita” que registou a minha ausência de muitos anos.
Na terça-feira almocei em Alhandra no restaurante Voltar ao Cais. É o lugar e o restaurante que todos gostávamos de ter ao lado da porta de casa. “Ninguém sabe agradecer como uma senhora”; foi um dos pensamentos da altura que durou até à hora de escrever esta crónica. Nas cerca de duas horas de refeição o leito do Tejo subiu mais de meio metro num contraste gritante com o que conheço mais habitualmente do convívio com o rio.
Voltarei ao cais para voltar a ter um dia especial.

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