Cumprimento todos os restantes amigos e convidados, algumas de quem sou também amigo e admirador, num amplo abraço já que para nós não sois público mas convidados especiais, aliás, muito especiais, tal foi o cuidado que a Joana e a equipa de O MIRANTE procuraram ter na organização da iniciativa e no convite a todas as pessoas que estão hoje aqui presentes, nomeadamente os amigo e familiares das personalidades que os jornalistas de O MIRANTE elegeram.
Aproveito a ocasião para deixar aqui um testemunho que eu acho que não nos fica mal recordar. Noutros tempos, quando éramos mais jovens e mais pobres de espírito e, logicamente, mais sedentos de vida, caminhamos para Abrantes centenas de vezes fazendo o caminho da estrada nacional que é muito difícil mas muito bonito para quem gosta da paisagem e tem amor ao rio.
O médico José Vasco, que era uma figura desta terra, faz parte das minhas principais memórias. E, embora por razões bem tristes, hei-de viver até à eternidade e jamais esquecerei os tempos em que entrava no seu consultório ou ficava cá fora a conviver com os inúmeros doentes que vinham a Abrantes de todas as terras à volta.
Já lá vão mais de trinta anos mas parece que foi ontem. E a figura do medico amigo jamais me sairá do pensamento embora não fosse eu o seu doente.
Fica aqui a homenagem a um homem que eu sei que muita gente ainda lembra como se ainda ontem se tivesse cruzado com ele ou visitado no seu consultório.
Como é do vosso conhecimento O MIRANTE comemorou 25 anos em Novembro. É uma data que nos enche de orgulho embora saibamos que temos muito para fazer. Passo a passo, com mil cuidados umas vezes, arriscando quase tudo muitas outras, fizemos de O MIRANTE um jornal de referência para uma região, um jornal de referência como não há outro na nossa área de influência. Parece fácil manter a qualidade editorial e crescer todos os anos de forma a cumprirmos a nossa missão. Parece mas não é. O MIRANTE foi quase sempre um jornal de referência também pelo volume de publicidade que manteve e que mantém nas suas páginas e em todas as edições. Somos em Portugal o único jornal de referência que não pertence a um grande grupo económico. O único não me canso de repetir. Dito assim parece uma banalidade. Quem sabe o que custa viver e sobreviver num mercado dominado por uma concorrência desleal, num mercado onde a comunicação social é dominada por patrões que ganham dinheiro noutros negócios para perderam nos seus jornais e televisões, quem sabe isto, percebe melhor e entende melhor o significado que atribuo ao facto de sermos um jornal independente, que pode praticar um jornalismo de proximidade sem a canga de um patrão ou de um investidor que precisa do jornal para servir os seus interesses pessoais ou os das suas empresas.
Não há em Portugal outro jornal que tenha um caderno de classificados como O MIRANTE. Não há em Portugal outro jornal, muito menos um jornal regional, que abranja tantos concelhos e tantas freguesias como o nosso. Não há em Portugal outro jornal' rádio ou televisão regional, que tenha no terreno uma equipa de profissionais que trabalhe tão próximo das populações, que alimente tanto as redacções de outros órgãos de informação cujos profissionais estão sentados à secretária praticando o chamado jornalismo de influência, sem levantarem o rabo das suas cadeiras almofadadas.
Não conheço outro jornal em Portugal que dê tanto espaço aos leitores. E mais daríamos se vivêssemos numa região, num país, onde a sociedade civil fosse mais exigente e consciente do seu papel na conquista dos direitos de cidadania.
Não conheço outro jornal que tenha tantos processos em tribunal como O MIRANTE. Caso para dizer que nesta altura temos a cabeça no cepo; e se a justiça ou o sistema de justiça se for degradando como tem sido público e notório de certo que não teremos hipóteses de sobreviver. Não morremos do mal, não cairemos nas muitas batalhas que travamos todos os dias, mas podemos morrer no campo de batalha traídos pela falta de justiça que tanto defendemos a tentamos respeitar no nosso trabalho diário.
Nada de queixinhas. Mas as liberdades conquistadas com o 25 de Abril já não são o que eram. Principalmente para os que teimam em lutar com as armas do trabalho, da independência e assumem a rebeldia na defesa de causas que são tão velhas como a honestidade, sem olharmos aos riscos de vivermos numa sociedade e numa época de lobistas, sindicatos e sindicalistas manhosos.
A forma como nos organizamos, em termos jornalísticos e comerciais, o conceito de empresa jornalística que criamos ao longo dos anos não tem paralelo em nenhum órgão de comunicação social nacional ou regional. Nestes 25 anos de existência já nos viraram do avesso algumas vezes. Uma delas alterando as regras do PP. Só num país de velhos do Restelo que não saem de Lisboa e quando viagem para o estrangeiro não passam de Badajoz. Mais recentemente cortando toda a publicidade que facturávamos junto de entidades concelhias que eram e deveriam continuar a ser uma fonte de receita que ajudasse a pagar o serviço público que prestamos á comunidade. Este último caso só não nos derrubou ainda porque temos bons alicerces Porque estamos sempre preparados para o pior. Porque nunca embandeiramos em arco nem dormimos na forma. Mas seria injusto não referir a traiçãozinha deste Governo em que fomos o alvo principal. O Governo da nação mandou cortar toda a publicidade obrigatória de certos actos públicos, que ajudavam à transparência da coisa publica, e nós, que ao longo dos anos fomos semeando e conquistando a posição que achamos que deve ter um jornal regional, de um dia para o outro ficamos a chuchar no dedo.
Infelizmente não estamos sozinhos. Para mal do país as pessoas também estão a perder uma boa parte das suas reformas. E muita dessa gente só se reformou depois de uma vida de trabalho e de descontos chorudos para o sistema. Ao contrario de outros que se reformaram com 40 e poucos anos e esses sim merecem ser penalizados se é que alguém merece que o Estado falte com aquilo que prometeu seja lá ele quem for e tenha lá a idade que tiver já que as leis são para cumprir e não para que os políticos façam delas gato sapato.
É um grande desafio editar um jornal como O MIRANTE, semanalmente no papel e todos os dias na Internet É com muito orgulho que mantemos a qualidade editorial do nosso jornal e continuamos a conquistar os anunciantes da nossa região.
Para nós não chega sermos um exemplo a nível nacional e um projecto jornalístico cheios de desafios que atrai muitos daquelas que acham que a solução para as más notícias está na capacidade e no poder para matar o mensageiro.
Quem lê o nosso jornal todas as semanas e o recebe a um preço literalmente abaixo do seu custo, acha normal e esfrega as mãos de contentamento. E nós agradecemos. É para isso que trabalhamos todos os dias. Corremos por nossa conta e assumimos os riscos por inteiro. quando não chegarem os 7 dias de trabalho, as 12 horas por dia começamos a trabalhar de noite como os morcegos. E se houver alguém que conheça outra forma de resolver um problema de uma empresa que não seja com mais trabalho e com mais suor e inspiração então temos que repensar toda a nossa vida porque os deuses devem estar loucos e quanto a nós não deverá ser caso para menos.
Os números da marktest que atestam a influência dos jornais junto dos leitores, não nos deixam mentir. O MIRANTE é o primeiro jornal entre todos na sua área de influência ao nível da fidelidade e da afinidade. Nem o os jornais mais populares, por mais sangue que deitem das suas páginas ou ao contrário, por mais gente influente que escreva nas suas colunas, conseguem roubar-nos a liderança nos 23 concelhos onde somos e queremos continuar a ser o jornal da terra.
Por isso é que estamos aqui. Por isso é que temos a independência e a autoridade para premiarmos pessoas como o Senhor José Bioucas, ou o Senhor Joaquim Santana só para falar agora dos mais antigos e dos mais vividos dos premiados deste ano.
Um dia já distante o Bispo de Santarém, depois de ser entrevistado por dois jornalistas de O MIRANTE, perguntou-lhes, para fazer conversa, o que é que eles iam fazer a seguir. Quando lhe disseram que iam trabalhar para a redacção ao lado de outros camaradas jornalistas o Bispo abriu a boca de espanto e perguntou se era mesmo verdade que eles trabalhavam a tempo inteiro no jornal.
Há dias uma colega foi facturar a uma empresa aqui bem perto de Abrantes . O cliente, rendido à simpatia e ao profissionalismo da colega, perguntou-lhe com o dedo apontado quanto é que o patrão lhe pagava porque ele dobrava a parada.
Só precisava que ela soubesse mexer bem num computador e que lhe desse banho porque ele já tinha caído já duas vezes na banheira.
Um dia alguém mandou parar o carro de um nosso colega, também lá onde nem o diabo se lembra que vive gente, e desabafou com ele pendurado na janela da viatura; Vocês por aqui, é pá é uma alegria ver um carro de O MIRANTE . O vosso jornal é leitura de toda a gente deste lugar onde nem os políticos vêm em tempo de campanha eleitoral.
Temos mil histórias para contar desta vida de andarilhos e de escrita pela noite dentro. Não temos tantos quilómetros nas pernas como os músicos dos Quinta do Bill, nem tantas horas de olho fino como o Nené a ver para que lado marram os toiros, Nem sabemos tanto de politica como a deputada Carina Oliveira, que tem a escola da Assembleia da Republica, Jamais conseguiremos ser jornalistas de proximidade como o Dionísio Mendes é presidente de câmara; Nunca chegaremos aos calcanhares do Mário André a deitar a mãe a uma dificuldade, por muito anos que vivamos nunca mais conseguiremos apanhar o passado antifascista e cheio de referências culturais, nos tempos difíceis que vêm de outros séculos da Euterpe Alhandrense, e por muita música que possamos ouvir e instrumentos que aprendamos a tocar ficaremos sempre de boca aberta a ver como se organizam em termos empresariais e associativos o Conservatório de música de Ourém e Fátima e o Sport Clube Operário de Cem Soldos. Por último: o Juventude Amizade e Convívio é um caso raro de êxito no desporto, principalmente feminino, e nós somos todos uns trambolhos se nos tirarem o ofício da escrita ou, noutros casos, a capacidade de ajudarmos a duplicar negócios com a publicidade que vendemos para o nosso jornal.
O jornalismo de proximidade obriga-nos a viver o ofício com paixão, e a trabalhar os textos e as imagens de forma aprofundada, tentando fugir ás rasteiras das nossas fontes, procurando e aprendendo sozinhos a cumprirmos as mais elementares regras da nossa profissão, sabendo que todos os dias nos cruzamos, na rua, ou por aí, com as pessoas que são alvo das nossa notícias ou que, de uma maneira ou de outra, estão retratadas no nosso trabalho.
Os prémios Personalidade do Ano, a par do Galardão Empresa do Ano que organizamos em conjunto com a NERSANT, são a nossa aposta e o nosso compromisso com a região onde vivemos e trabalhamos, e com as pessoas que ajudam a transformar a região e a fazermos o caminho do progresso, seja lá isso o que for, e demore lá os anos que demorar a fazer-se sentir nas nossa vidas e nas vidas dos nossos filhos e netos.
* Discurso lido na cerimónia de entrega dos prémios Personalidade do Ano realizada no Cine Teatro S. Pedro em Abrantes no dia 21 de Fevereiro de 2013
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