terça-feira, 30 de abril de 2013
Eu amo o 25 de Abril
Eu amo o 25 de Abril. Estou condenado em tribunal, por enquanto, por ter escrito que um político, no exercício das suas funções de político, era o maior idiota político que conhecia; e tenho em cima das costas um pedido de execução do tribunal no valor de 3 milhões de euros, só para contar dois casos que me obrigam a ser jornalista, a medo, em certas ocasiões. Mesmo assim, sabendo que Portugal é um país cada vez mais perigoso para o exercício da cidadania, eu amo o 25 de Abril.
Se um dia me espetarem um punhal nas costas e não morrer da punhalada continuarei a amar o 25 de Abril por tudo o que a Revolução dos Cravos significou para os homens da minha geração que, nessa altura, tinham 18 anos e não frequentavam o liceu e, alguns deles, nem saíam da escola com a 4ª classe.
O Mundo que vivemos hoje é mil vezes mais interessante que o de há 39 anos. Mas há realidades que parecem recuperadas de há meio século. O desemprego cresce a um ritmo galopante mas a maioria dos desempregados prefer morrer à fome que aceitar trabalho que não possa ser feito com luvas de pelica; há gente bem empregada que de um dia para o outro cavalga as costas do patrão como se ele fosse o palerma de serviço à economia portuguesa quando não à economia familiar de cada um dos seus colaboradores; há pessoas que ganham o ordenado mínimo e têm vários cartões de crédito daqueles a quem os banqueiros aplicam taxas de juros de 40%; há milhares de jovens desempregados que não sabem abrir a boca para se apresentarem numa entrevista de emprego.
Eu amo o 25 de Abril mas reconheço que faz falta gente mais bem preparada para governar o país. Esta gente da política, salvo raras e honrosas excepções, não só é idiota como fazem de nós estúpidos e cavalgaduras ao comerem tudo e não deixarem nada como diz o refrão da cantiga do Zeca Afonso. Concordo em boa parte com os pessimistas do regime: esta gente é má demais para levar isto a bom porto. Não falo só dos políticos; falo de todos nós, incluindo a classe jornalística que não sabe criar empregos, quando a forma de comunicar é cada vez mais barata e está ao alcance de todos.
O nosso futuro em liberdade está em risco e os homens livres já têm, neste momento, as mãos atadas embora ainda possam gritar por socorro. Vivemos um tempo que não é para os poetas nem para a poesia. Por isso vou mais uma vez à manifestação do 1º de Maio à Avenida da Liberdade em Lisboa. Vou só ver. Não tenho vocação para desfilar seja em que situação for. Mas sou homem de andar na rua com o punho erguido e não tenho vergonha de confessar que nasci comunista e arrisco-me a morrer anarca.
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