Há muitos anos que a luta pela sobrevivência e qualidade do jornalismo deixou de ser uma luta entre jornalistas e fontes de informação. A grande luta do jornalismo, hoje e no futuro, é pelo financiamento das empresas.
Para percebermos a miséria do sistema basta lembrarmos que a classe dos jornalistas já nem se organiza em congresso e que o sindicato é um grupo de profissionais que em algumas manifestações parecem ter chegado à terra vindos de Marte tal é a sua falta de capacidade para se adaptarem aos novos tempos e aos interesses dos profissionais da Comunicação Social de que eles próprios fazem parte.
Com o advento da internet e o crescimento dos canais de televisão a forma de fazer jornalismo nunca mais será a mesma. Portugal, como sempre, vive décadas de atraso em relação a outros países desenvolvidos.
Em Portugal funciona um sistema de protecção dos grandes grupos tanto na comunicação social como noutras atividades económicas. Faz parte de uma certa forma de ser português o culto do miserabilismo por um lado e a fanfarronice por outro dos homens que são donos do dinheiro.
Voltando ao princípio: os jornais que viviam da publicidade fácil das agências, organizados em grupos que tanto facturam publicidade como agenciam a comunicação institucional desses mesmos grupos, tão depressa não vão conseguir respirar. Fechou-se um ciclo na economia mundial e a publicidade, que por obra e graça do espírito santo caía das mãos desses grupos organizados, evaporou-se ou migrou para outras plataformas como os novos canais de televisão. Explica-se assim a morte lenta de muita comunicação social e o medo que se instalou na sociedade portuguesa de que um dia destes já ninguém consegue defender-se com as armas com que é atacado.
Corremos o risco de vivermos numa democracia ainda mais musculada com os jornais e os jornalistas de um lado e a classe política do outro a tentar organizar-se contra os jornalistas?
Corremos. Já estamos a sentir isso. Recorde-se que foi um jornal marginal ao sistema (O Crime) que trouxe a público pela primeira vez o caso da licenciatura de Miguel Relvas que o fez cair em desgraça. Os jornais de referência e os principais canais de televisão fazem manchete todos os dias com assuntos de política contrariando tudo aquilo que é, aparentemente, o interesse do mercado que prefere os
assuntos de sociedade. Há uma luta pelo controlo do poder político em Portugal que envolve os grandes grupos de comunicação social do país. Por isso está na hora de descentralizar a administração pública; de acabar com os interesses instalados nos gabinetes de Lisboa; de acabar com os interesses de uma classe política que, embora a guerra verbal, acaba sempre por se proteger a si própria esteja no governo ou na oposição.
Esta edição de O MIRANTE desmente aqueles que dizem e defendem desde há anos que as empresas de comunicação social já não se conseguem financiar com a publicidade. Hoje, tal como ontem, as empresas não podem organizar-se apenas em função de uma equipa de jornalistas. Têm que pensar numa equipa comercial e administrativa/financeira e acima de tudo numa equipa que faça do jornalismo modo de vida. É isso que fazemos neste jornal. Fazemos mais ainda: procuramos que o nosso produto chegue a um número grande de consumidores e que não só seja lido como comentado e/ou criticado.
O problema é que Portugal é um país de tradições e há muita gente habituada a dobrar o joelho nas horas das aflições e a ver os seus milagres realizados ainda que a seguir a ter dobrado os joelhos tenha que dobrar a língua. Esta edição de O MIRANTE prova que Portugal tem regiões muito fortes que podem e devem ser motores de desenvolvimento do país. Prova acima de tudo que sabemos organizar-nos e que se for preciso saberemos defender contra tudo e contra todos os nossos interesses culturais e territoriais. É um luta de David contra Golias? É sim senhor! Em Almeirim há um tribunal que contraria tudo aquilo que é o exercício de uma democracia num país desenvolvido. São os próprios agentes da Justiça que o dizem à boca cheia.
Nada disto seria tolerável se o Tribunal de Almeirim tivesse processos que envolvessem grupos de interesse que se movimentam noutras regiões do país. A interioridade já não é só o Alentejo profundo ou a região de Trás-os-Montes. Em Almeirim, a 70 km de Lisboa, a justiça faz-se por um canudo.
Para premiarmos a aposta dos anunciantes nas páginas de O MIRANTE vamos continuar a investir no jornalismo de proximidade contratando profissionais que estejam o mais possível junto das populações. Vamos continuar a inventar formas de mantermos o baixo preço do jornal em papel e na internet. Vamos continuar a parceria com outros jornais e vamos aumentar o número de postos de venda; a colaboração com organizações populares; vamos continuar a fazer de O MIRANTE um jornal representativo de cada uma das cidades e aldeias do Vale do Tejo onde cada um de nós tem as suas raízes. JAE
Editorial da Edição do 26º Aniversário de O MIRANTE
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