Vou cada vez menos ao café. Corro cada vez mais atrás do trabalho e parece que quanto mais faço mais tenho para fazer. Há dias que parecem invisíveis; chego à noite e sinto que dei um salto e nem me lembro do que comi ao almoço. Tenho tempo para fazer uma piscina regularmente, para ir ao campo fingir que percebo de agricultura; de resto estou sempre ligado ao vício como se a minha vida estivesse agora a começar. Saio de casa de manhã e chego pela noite dentro. Convivo pouco e já quase que nem conheço a maioria das pessoas com quem me cruzo. O exemplo serve não só para a terra onde nasci mas para outras que visito regulamente e das quais me sinto filho adoptivo. Foi, por isso, com surpresa que um dia destes entrei num café da Chamusca e ao dar os bons dias pediram-me um beijo. Como eram duas mulheres dei quatro beijos. Tanto no primeiro caso como no segundo foram pedidos de viva voz. Por isso não me esqueci. E por ser tão pouco beijoqueiro parece que vivi um acontecimento. E, no entanto, beijei apenas duas mulheres que me conhecem da infância e que me viram crescer como eu vi nascer os meus filhos.
Não sou do partido do ministro Rui Machete, nem nunca serei, segundo as minhas convicções. Mas não me custa admitir que tenho mais amigos no PSD do que no PS ou no PCP onde tenho as minhas raízes ideológicas tão velhas como os anos setenta. Vem a conversa a propósito do branqueamento político que se anda a fazer dos governos de José Sócrates. Porra! O homem entalou o país e foi o único responsável pela nacionalização do BPN que é o maior escândalo de corrupção depois do 25 de Abril de 1974. Diz ele com toda a calma que a sua decisão foi ingénua e baseada naquilo que sabia. Pudera! Se a minha avó não morresse ainda era viva. Em vez de um livro sobre tortura José Sócrates devia era escrever um livro sobre boas práticas de governação. E explicar como foi possível endividar o país para chegarmos ao ponto em que estamos.
Sócrates é o espelho da nossa classe política. Por muito mal que governem e contribuam para a nossa desgraça como país haverá sempre quem a seguir faça pior ou venha em defesa do que deveria ser indefensável. Mário Soares, na apresentação do livro de Sócrates, fez questão de salientar as altas notas da sua licenciatura. Já não há vergonha. JAE
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