O autor destas linhas tinha 32 anos quando fundou este jornal. Passaram entretanto 32 anos desde a data da primeira edição. Contas feitas e refeitas, o jornal renova-se todos os anos enquanto o pobre escriba faz contas de cabeça à magnitude do tempo.
Esta edição de O MIRANTE assinala mais um aniversário. O MIRANTE nasceu em Novembro de 1987, há 32 anos, exactamente no ano em que o autor deste texto também festejava o seu 32º aniversário. É uma curiosidade que faço questão de partilhar porque estou em cada página da edição deste jornal com o mesmo espírito que estava na primeira edição de há 32 anos.
O jornal nasceu da necessidade de o autor intervir na comunidade. E assim se cumpriu o desígnio. Idealizámos, construímos e depois lançámos no mercado um título que conheceu, até hoje, todas as vicissitudes de um órgão de comunicação social que nunca serviu outros propósitos que a defesa da região e das pessoas da região. Por isso nasceu e cresceu cumprindo ciclos e etapas; ainda temos muito caminho para andar mas já não podemos ignorar o caminho que fizemos.
Há quem garanta que O MIRANTE nasceu em Alverca. Outros que nasceu em Torres Novas. Já me garantiram, olhos nos olhos, que eu era natural de Alhandra e que O MIRANTE era um projecto editorial pago por um capitalista americano. Tenho histórias deliciosas para contar sobre sermos apelidados de comunistas pelos liberais e de liberais pelos comunistas. Já fomos excomungados em muitas reuniões partidárias, lembrados em muitas missas, amaldiçoados por muitos políticos e dirigentes associativos, difamados pelas bocas das pessoas mais insuspeitas da nossa comunidade. É verdade que ao longo dos anos também recebemos alguns elogios mas deixo isso por conta de alguns pecados que cometemos nomeadamente quando trocámos os nomes dos protagonistas das notícias ou fomos injustos a escrever sobre quem não devíamos.
Os 32 nomes referenciados no cimo da capa da edição de aniversário, que sai em conjunto com a edição em que publico esta crónica, são a parte maior do conjunto dos profissionais que aqui trabalham e das empresas que nos prestam serviço. Como é fácil de verificar, na equipa actual há três advogados. Que ninguém julgue que é para fazerem número. Os advogados não escrevem notícias mas defendem quem as escreve. Falo do assunto, não porque seja novidade, mas para chamar a atenção dos leitores mais distraídos para a diferença entre fazer jornalismo e escrever umas coisas nas redes sociais; entre sustentar um jornal que se limita a trabalhar texto de agência ou comunicados oficiais, páginas no Facebook ou no Instagram, e o trabalho de investigar, escrever e publicar, procurando remar contra a maré. Esse é o nosso grande orgulho: vivemos da publicidade e só da publicidade. Esse é também o grande desafio do futuro: até quando uma região tem actividade económica para sustentar um jornal ou, dando a mão à palmatória, temos nervo e somos suficientemente bons a trabalhar para sustentarmos a nossa empresa e os nossos empregos.
Há 32 anos, quando tinha 32 anos, iniciei este projecto certo de que dificilmente o deixaria pelo caminho. Pura ilusão: em 32 anos ajudei a construir um projecto novo, que só agora dá verdadeiramente os seus frutos, mas entretanto fiquei sexagenário. Mais ano menos ano vou ter que mudar de vida como acontece com toda a gente por mais que fujamos do caruncho. Acho no entanto que ainda rendo mais uns anos. Nem que seja a arrastar as asas. Em tempo de aniversário todos os minutos contam para criarmos a ilusão de que vale a pena festejarmos o trabalho e o fruto maduro que nos escorrega das mãos mas que, em contrapartida, já não nos debota o dente. JAE.
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