O presidente da República Portuguesa já nos habituou às conversas caridosas e bem intencionadas. Em tempo de pandemia precisamos de governantes tesos e não de políticos beijoqueiros e lambanceiros.
Andamos todos cheios de pressa a pedir ao Governo de António Costa que tome medidas para apoio à economia e não deixe morrer as empresas e os empregos. E com razão. Os políticos não são de confiança e quem não se fizer ouvir agora bem pode berrar depois que já vai ser tarde demais. E todos sabemos o quanto a Europa tem as tetas grandes para quem sabe mamar. As ajudas em tempo de crise calham sempre aos mesmos. Nesta altura as grandes empresas com centenas de trabalhadores já têm o pessoal por conta do Estado. Tão fácil como ir lavar as mãos ao Tejo.
É difícil governar em tempo de crise? Claro que é; mas será que não merecíamos melhores políticos quase meio século depois do 25 de Abril de 1974?
O Presidente da República interrompeu a quarentena para visitar a Lezíria Grande e dar uma mãozinha à agricultura. Falou pouco e o seu discurso foi paupérrimo como se não soubesse nada de searas e muito menos de tomates, mas falou o suficiente para dizer que já não voltará a sair à rua tão depressa e que vai respeitar o isolamento em tempo de Páscoa. Só a CAP conseguia que um Presidente da República furasse o isolamento social em tempo de pandemia para ir para o meio do campo falar aos portugueses. De verdade não disse nada, só se mostrou, como se fosse um modelo, uma espécie de ave rara, um artista do circo político. Mas a CAP também não quer mais do que aquilo que o Presidente lhes deu. Para eles a luta política também passa por mostrarem aos portugueses que têm sua Excelência o Presidente da República do lado deles. O resto é com a força de trabalho que cada agricultor há-de ter e com a sorte que os há-de ajudar, se quando for tempo de colheita as fábricas estiverem a laborar ou aceitarem pagar o suficiente pela produção de forma a que a colheita valha a pena.
O nosso problema é que não é só a CAP que vive de negócios e de compadrios deste género com o Estado e com os políticos que o governam e representam. As outras associações fazem o mesmo. Por isso é que andamos todos com o credo na boca a tentarmos que o Governo decrete medidas urgentes para mantermos as empresas saudáveis e garantirmos os empregos. Ninguém está com calma para esperar e ver o que isto vai dar. Estamos todos com medo que os nossos governantes, mais uma vez, fujam com o rabo à seringa e os mais fracos é que tenham que ficar com o vírus da fome e da desgraça.
Em Portugal as pequenas e médias empresas representam 99% da actividade comercial e industrial. São os pequenos negócios que ainda fazem de Portugal um país decente. É por isso que nestas alturas é uma tristeza ver o Presidente da República a fazer jeitinhos em tempo de isolamento, com as televisões atrás de si para garantir o tempo de antena, e no outro dia a fingir que está a sensibilizar os bancos para serem meiguinhos nas taxas de juro. Como se a gestão dos bancos, e a gula dos banqueiros, pudesse ser controlada por uma política de boas vontades e de conversas caridosas. Temos aí o exemplo da Caixa Geral de Depósitos que foi até hoje, a par do BES, o maior escândalo financeiro em Portugal; e só Armando Vara é que está preso e, pasme-se, por tráfico de influências em negócios com um empresário do ferro-velho. JAE.
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