Este texto é um aviso à navegação e também aos navegantes; os CTT vão ajudando a matar a verdadeira imprensa de proximidade e o Governo é conivente porque a exemplo do que faz com o património edificado, a paisagem, a floresta e as nascentes dos rios, deixa tudo por conta dos interesses que manobram nos gabinetes onde trabalham os que não mudam as vírgulas nos textos das leis, mas boicotam as agendas, fazem loby por quem lhes está mais próximo e, se for preciso, ainda inventam ovnis para fazerem desaparecer o trabalho de gente de bem que, entretanto, deixou o lugar por causa do emblema do partido que representava e que perdeu as eleições.
A entrega de um jornal na caixa do correio da nossa casa devia ter a prioridade que tem a chegada das notícias aos centros que investigam tsunamis. Um jornal, mesmo local e com uma dúzia de páginas, é um dos melhores exemplos do exercício de uma democracia: são os cidadãos a exercerem o direito à crítica, o direito ao exercício da cidadania, a fazerem contrapoder ou a legitimarem o poder, o que é tão certo num caso como noutro.
Os CTT são o parceiro mais importante dos jornais locais e regionais. Por isso o Estado pagou o envio dos jornais via CTT a 100% durante muitos anos. Era uma forma de ajudar a acabar com a iliteracia e fomentar a leitura onde não chegavam as notícias dos jornais nacionais. Há casos que se contam, ainda hoje, de pessoas que viam o jornal e sabiam das notícias da sua terra só pelas fotos, uma vez que não sabiam ler; as fotos chegavam para as motivarem a assinarem o jornal da sua terra; as fotos mais importantes eram as da necrologia.
O PS, e Arons de Carvalho, num conluio estranho com a Associação Portuguesa de Imprensa, transformou o investimento do Estado no Porte Pago em menos de metade do apoio. E impôs regras que não lembravam ao diabo, como preços mínimos de assinatura. Coisa ao jeito daquilo que se fazia na antiga União Soviétiva, e ainda se faz hoje em alguns desses países da cortina de ferro.
Como os preços do serviço dos CTT sempre foram negociados à margem dos empresários do sector, por serem apoiados pelo Estado, os preços do envio de um jornal em Portugal são dos mais caros da Europa. Enviar um jornal é mais caro que enviar uma simples carta. A diferença é que as empresas editoras enviam milhares por dia, ou por semana, e têm que ensacar, etiquecar e distribuir por giros o seu produto, um trabalho bem diferente de enfiar uma carta na caixa do correio uma vez, ou meia dúzia de vezes, por ano.
Antes dos milhares de jornais chegarem aos CTT há um trabalho de angariação e de fidelização dos assinantes por parte das empresas de comunicação social. O que os CTT gerem é uma carteira de clientes/leitores/assinantes das empresas de comunicação social, que têm que receber a tempo e horas o produto que esteve na origem do contrato feito entre as duas partes. E é isso que os CTT não fazem com a qualidade que se exige num serviço pago a peso de ouro, pelas razões que já referi.
Portugal é um país pequeno e desertificado; na grande maioria das vilas e aldeias do país não há postos de venda suficientes para que a população tenha acesso à informação como em Lisboa ou nas grandes áreas urbanas, onde se tropeça a cada 100 metros com uma montra de jornais. Ou tropeçava. Daí a importância do Serviço Postal Universal.
O que tem vindo a acontecer nos últimos anos, e não só agora com a pandemia, é um desinvestimento pornográfico na mão de obra que leva a Carta a Garcia. Os Correios fecharam as estações locais, mas também diminuíram substancialmente o número de carteiros. Desde a privatização ficou em causa o cumprimento do serviço público.
Um jornal com três dias de atraso, em relação à data em que chega à banca, perde uma boa parte do interesse para o assinante. Não há sobrevivência possível para os jornais se os CTT não melhorarem o serviço no interior do país.
Nos últimos dez anos fecharam mais de quatro centenas de jornais, alguns de pequenas tiragens, mas muito importantes para as comunidades locais. Outros baixaram as tiragens tornando-se insignificantes. É um tsunami para as empresas editoras mas, para os CTT, que vivem de outros negócios mais chorudos, não se passa nada.
Os jornais de Lisboa são o farol que orienta os barcos no mar quando se aproximam da costa; os jornais locais e regionais, como O MIRANTE, são os barcos em alto mar. Basta comparar o trabalho e perceber quantos jornalistas dos principais órgãos de comunicação social sabem o que se passa fora de Lisboa e dos centros do poder.
Por último: O Governo só pode ajudar a comunicação social se perceber que os jornais locais e regionais são um dos braços armados da democracia; Não precisa de os financiar como financia a RTP e a Agência LUSA que, muitas vezes, mandam bugiar o serviço público quando o trabalho é muito longe do Terreiro do Paço ou da Assembleia da República, onde se movimenta a grande parte dos jornalistas que escreve para as aberturas dos telejornais das televisões ou para as manchetes dos seus jornais. Bastava que governasse bem o dinheiro do Orçamento de Estado e não privatizasse serviços que nos deixam nas mãos dos que anunciam os nossos funerais antes de morrermos. JAE.
Sem comentários:
Enviar um comentário