Um crime no aeroporto de Lisboa está a colocar Portugal ao nível dos países que vivem em ditadura. Oportunidade para lembrarmos também que vivemos cada vez mais ao ritmo dos interesses partidários e de grupo que se sobrepôem aos interesses do país e dos portugueses.
I
Graças ao sentido ético de um médico legista, vários polícias do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) estão acusados do crime de matarem um cidadão ucraniano no aeroporto de Lisboa. A morte já aconteceu em Março, mas o assunto continua a dominar a actualidade de tal forma foram violadas as regras mais elementares de um país com uma democracia consolidada. O crime de que os polícias estão a ser acusados teve solidariedade da justiça portuguesa: a família teve que esperar 80 dias por uma resposta judicial para se constituir como assistente no processo quando o normal são mais ou menos trinta dias. Com esta demora a família pode ter perdido algumas oportunidades de ver a justiça a funcionar na morte de Ihor Homenyuk. A forma como a notícia apareceu na comunicação social indica que o cidadão ucraniano terá sido morto como se mata uma barata. Nesta altura tudo indica que ninguém escapará das suas responsabilidades e que a verdade será apurada em tribunal.
II
O Estado pode transformar-se num monstro quando os seus representantes servem os interesses pessoais, ou de grupo, em detrimento dos interesses do povo e do país. Encontrei para início desta crónica um caso de polícia, grave, que põe em causa mais do que uma instituição, a democracia de um país; oportunidade para chamar também a atenção para os funcionários/militantes dos partidos que à frente das instituições do Estado, devidamente empossados pelo chefe do Governo, não usam bastões para nos eliminarem mas é como se usassem. Quem não for do partido do Governo jamais vai conseguir ter a atenção do presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional, António Valadas da Silva; quem não for do Partido Socialista jamais vai perceber como é que um reputado economista, chamado Francisco Madelino, vai para presidente da Fundação Inatel que é uma organização destinada a organizar o turismo sénior; quem não for militante do Partido Socialista jamais vai compreender como é que Luís Patrão continua a trabalhar no Largo do Rato, em Lisboa, como secretário nacional para a administração do PS, quando todos sabemos que o partido precisa de sangue novo e de se reformar da velha gente que ia levando o país à ruína, com tanto descrédito da sua classe política.
António Valadas da Silva, Francisco Madelino e Luís Patrão são apenas três figuras do PS que retratam bem a situação a que chegamos a nível político. O trabalho deles é continuarem o que Abril nos deu; com uma diferença; eles são abrilistas como dantes se era salazarista; não largam o tacho nem que tenham que rapar o fundo; não entregam o poder nem que para isso tenham que morder um corno; embora vivamos numa República eles são os monárquicos do regime; eles e muitas centenas de outros que vivem daquilo que faz eterno Salgueiro Maia, a quem Cavaco Silva negou uma pensão “por serviços excepcionais e relevantes”, na mesma altura em que concedeu pensão a dois inspectores da extinta PIDE/DGS.
III
Há políticos a usarem bastões como polícias. Vemos isso todos os dias nas políticas dos governos dos últimos anos. Basta estarmos atentos ao que se passa com os fundos comunitários e os apoios do Estado às empresas. Nalguns casos a maioria dos fundos de apoio comunitário não são usados e o dinheiro não sai de Bruxelas. Se ouvirmos os portugueses em inquéritos, como aconteceu recentemente, a maioria não acredita na capacidade do país em aproveitar bem o dinheiro. Quem é que na oposição ao Governo de António Costa se preocupa com estas questões da injustiça e do clientelismo político? Vamos ter que nos render todos aos discursos populistas que começam a minar ainda mais a democracia e afastam os eleitores das urnas de voto? Aparentemente não temos alternativas. JAE.
Sem comentários:
Enviar um comentário