A lição que os ucranianos estão a dar aos russos, defendendo uma pátria antiga e uma independência conquistada há tão pouco tempo, é uma lição que não podemos esquecer.
Esta semana o jornal festeja mais uma etapa parecida com a de um aniversário. Sinto isso todos os momentos do ano em que publicamos cadernos ou suplementos especiais que fazem a diferença e mostram a vitalidade do nosso projecto editorial.
De verdade, o que publicamos esta semana é só mais uma edição especial dedicada às Personalidades do Ano com algumas das 60 páginas dedicadas a duas dúzias de assuntos que fizeram manchete ao longo de 2021. Ficam a faltar outras tantas por falta de espaço e de capacidade técnica e logística para imprimir um jornal acima das 60 páginas.
Esta sensação de festa, sempre que trabalhamos na edição de um suplemento ou caderno especial, é uma marca do tempo em que se trabalhavam suplementos para sobreviver; hoje já não é assim; mas não faz mal que pensemos assim e que trabalhemos todos os dias como se estivéssemos agora a começar; de verdade nada está garantido; nem a própria vida nós temos na nossa mão se formos descuidados e não soubermos e conhecermos bem o chão que pisamos.
A invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia, e a guerra que agora começou na Europa, foi o pretexto para escrever sobre O MIRANTE e a sensação de que os 34 anos que já levamos de trabalho parecem 34 dias. Dos muitos documentos que guardo, de todas as histórias que contei nestas páginas, há vários aerogramas de Angola e Moçambique de jovens militares que morreram a combater por Portugal e por Salazar e pelos interesses mesquinhos de uma elite portuguesa que não soube perceber a mudança dos tempos. Quando os li há muitos anos, e entrevistei as mães desses militares mortos e hoje esquecidos, percebi melhor o que foi a minha sorte em ter atingido a maioridade num tempo em que já não havia guerra do Ultramar.
A lição que os ucranianos estão a dar aos russos, defendendo uma pátria antiga e uma independência conquistada há tão pouco tempo, é uma lição que não podemos esquecer. Ler e ouvir que os políticos suecos e finlandeses estão a apoiar a compra de armas para que os ucranianos se possam defender dos russos é cruel mas, ao mesmo tempo, uma alegria por perceber que afinal a Europa existe e os políticos que nos governam sabem ser solidários nas horas difíceis. Quem sabe esta crise seja um bom pretexto para que a Europa acabe com as políticas que permitem aos oligarcas russos, e a tantos outros fascistas e criminosos, a lavagem de dinheiro e todas as actividades mafiosas que passam pelas offshores e pelas facilidades em movimentarem dinheiro sujo.
Não há nada que justifique o uso das armas e a invasão de um país, depois do Holocausto, depois da guerra do Iraque, num tempo em que os refugiados da Síria morrem como baratas de fome e de frio.
Nestes dias de guerra na Ucrânia a Amnistia Internacional está a pedir ajuda financeira para acudir a 27 mil crianças que foram abandonadas no campo de al-Hol, na Síria, e que ainda sobrevivem com sede, fome e vítimas de discriminação, violência e assassinatos. Crianças estigmatizadas, detidas arbitrariamente e separadas à força das suas famílias. As televisões portuguesas não mostram mas basta desviar os olhos para outras televisões ou abrir a internet e pesquisar sobre estes assuntos. JAE.
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