quinta-feira, 10 de março de 2022

A falta de jeitinho também esconde muita arrogância

O apoio aos ucranianos que chegam da guerra não está a ser cumprido como anunciado. Na região, a Nersant apressou-se a oferecer ajuda no emprego enquanto por todo o país a prioridade é oferecer abrigo, apoio médico e alimentar.


As últimas semanas de guerra não foram só na Ucrânia: há uma guerra permanente, embora sem armas de fogo, para sustentar a democracia em Portugal onde ainda se vive muito da “cunha” e podemos ser vítimas a qualquer altura e sem aviso prévio de um banco gerido por um qualquer banqueiro sem escrúpulos, que nos vendem gato por lebre, de um bando de gatunos que nos assaltam em plena rua, de um organismo do Estado que se recusa a pagar o que nos deve, de um Hospital que por falta de profissionais nos deixa morrer numa maca.

Esta semana fui constituído arguido, mais uma vez, só porque não temos medo de exercer a profissão. Da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) vão chegando cada vez mais queixinhas por darmos notícia da má gestão das instituições públicas, mas também por denunciarmos os abusos de autoridade. Quem anda nesta vida leva com o mundo em cima porque, apesar de termos de andar sempre a correr para a PSP e a GNR, e agora para a ERC, ainda temos que manter o ritmo de trabalho porque um jornal não se edita com os textos comerciais e políticos que chegam das mais variadas fontes por correio ou por email.

Muitas vezes fazer a diferença custa os olhos da cara. Vou dar um exemplo; em tempo de guerra, quando por todo o lado há instituições a construírem centros de acolhimento a refugiados da guerra na Ucrânia, a NERSANT aparece na comunicação social pela voz do seu presidente, Domingos Chambel, a anunciar que a associação está disponível para ser intermediária na colocação de mão-de-obra ucraniana nas empresas da região que sofrem com falta de pessoal. Só uma pessoa pouco preparada, sem saber muito bem o que é gerir uma associação empresarial, troca a sua disponibilidade solidária com pessoas que estão a fugir de um país em guerra, para oferecer trabalho em vez de oferecer abrigo, apoio médico e alimentar.

Esta posição da NERSANT não é só falta de jeitinho; é também muita arrogância de quem conquistou o poder pelo poder e acha que pode dizer e fazer os maiores disparates que ninguém vai reparar nem criticar.

Vale a pena recordar que Portugal tem actualmente cerca de 30 mil imigrantes ucranianos, mas já teve 60 mil; quase todos os que se foram embora eram mão-de-obra especializada que Portugal não tinha nem tem ainda. Sou testemunha de vários casos de médicos que trabalharam muitos anos em Portugal como serventes de pedreiros, na recolha de lixo, etc, etc, até conseguirem trabalho na sua profissão na Alemanha ou em França e darem o salto. Sou ainda testemunha de ucranianos que só, quase uma década depois de terem chegado a Portugal, conseguiram deixar o trabalho de limpeza, de operários não qualificados, para exercerem a sua verdadeira profissão e vocação em Portugal. E se aguentaram tanta privação e dificuldades, nalguns casos humilhação, nomeadamente no reconhecimento pelas entidades do estado português das suas qualificações, foi por que constituíram família e raízes em terras lusitanas.

Por último: o Governo português anunciou com pompa e circunstância que a entrada de ucranianos em Portugal fica legalizada de forma automática, o que na generalidade é uma grande mentira; na região do Ribatejo há ucranianos que chegaram há uma dezena de dias e que andam de Pôncio para Pilatos sem conseguirem legalizar a sua situação para poderem candidatar-se ao que lhes foi prometido. Caso para dizer que os paquidermes que habitam as instituições públicas não mudam de pele de um dia para o outro nem que a vaca tussa. JAE.

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