quarta-feira, 6 de junho de 2012
Tipos venenosos
São 14h25 de segunda-feira e acabei de regressar de uma segunda visita ao centro histórico da cidade de Santarém. Nesta segunda viagem fui apanhado a atravessar o Largo do Seminário com a cabeça baixa a pensar na morte da bezerra. Um amigo gritou-me uma frase conhecida e perguntou-me a sorrir se eu ia a ler o meu futuro nas pedras da calçada que, neste caso, não são pedras mas mosaicos de terceira. Contei a verdade; resolvemos fechar a edição ainda hoje e deixei a minha crónica em casa e tenho mais dois textos para escrever. Perguntava-me como é que iria fazer e o que é que aconteceria se eu desta vez fizesse gazeta. Apontei para a porta do banco que fica logo ali em frente e disse que se falhasse com o gerente, aí sim, a coisa ficaria preta. Quanto aos textos amanhã já ninguém se lembraria deles. No regresso ao jornal, acrescentei, decerto que encontraria a solução mais adequada. Fiquei depois a saber que a direcção que este meu amigo levava era a do edifício da câmara municipal onde tem para receber há uma eternidade mais de milhão e meio de euros; que não sabia o que fazer à vida; que ia lá agora para uma nova reunião e esperava ser bem claro mas que não podia nem devia falar mais do assunto. Contei-lhe duas histórias de pessoas que usaram recentemente artimanhas para envergonhar os políticos e acabaram a receber o dinheiro; mas ele disse que não podia fazer dessas fitas e que esperava encontrar bom senso antes de abrir falência e mandar umas centenas para o desemprego.
Quando nos despedimos disse para comigo: já não preciso de ir a casa a correr à procura do caderno onde tenho o esboço da crónica para esta semana; vou contar que num lugar onde se podem assar sardinhas a meio da tarde, graças aos políticos de Santarém e aos excelentes engenheiros e arquitetos que a câmara sempre teve, neste lugar onde se podem estrelar ovos em cima de mosaicos de terceira, encontrei uma pessoa amiga que em vez de ter o problema de um texto para escrever tem uma dívida aos bancos superior ao meu orçamento para os próximos dez anos e está na mão dos políticos caloteiros de Santarém que o mesmo é dizer está nas mãos do diabo.
Não sei se sabem mas o secretário pessoal do Papa foi apanhado a conspirar preparando à sua maneira a substituição do actual chefe do Vaticano. É uma conspiração (zinha) comparado com o que anda a viver o super ministro Miguel Relvas que foi apanhado a jeito e ainda vai ser crucificado se não abdicar da privatização da RTP. Li a reportagem em Valência, no jornal lá da terra, enquanto esperava o avião. E soube ainda, por um telefonema, que a inauguração da Feira da Agricultura contou com a presença de Cavaco Silva que não teve a honra de apertar a mão ao Moita Flores por este estar de férias, ou doente, ou na semanada em que só trabalha da parte da manhã.
Como já repararam a minha crónica desta semana não era nada de especial. Nem o secretário pessoal do Papa, nem o Moita Flores e muito menos o Miguel Relvas precisam de mim para dizer mal deles; o que não falta por aí são tipos muito mais venenosos do que eu.
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