A greve dos CTT seria caso de polícia se vivêssemos num país de gente responsável e solidária. Ao contrário: vivemos num regime político em que, tal como na tropa, quem manda são os sargentos.
A greve dos Correios, que aconteceu recentemente, é um bom exemplo do país em que vivemos e do mau governo da Nação. Os sindicatos, que agora já não estão pressionados pelo PCP, porque a gerigonça acabou, convocaram uma greve pornográfica para uma sexta-feira a seguir a dois dias feriados. Mas, antes dos dias feriados, portanto, antes do inicio de umas férias a meio do mês, alguns concelhos já não tiveram distribuição de correio, como aconteceu na cidade de Santarém, só para dar um exemplo.
A greve, imagine-se, é por causa do pagamento do subsídio de refeições em cartão. Podia ser pelo aumento dos vencimentos, pela política empresarial suicida da administração dos CTT, pela irresponsabilidade dos gestores que mandaram às urtigas o serviço público postal para ganharem dinheiro como banqueiros. Mas não foi por nada disto; o pretexto foi a ninharia, ou seja, o grande objectivo foi prejudicar os cidadãos e as empresas que precisam de um serviço postal de qualidade. A greve é um direito constitucional, mas assim, com pretextos como este, num calendário como o escolhido, faz lembrar um país em auto-gestão. É certo que nunca mais voltaremos a ter um serviço postal como tínhamos antes da privatização dos Correios. E isso é culpa do Governo do PS e do PSD que, sendo partidos de regime, não sabem reconhecer o que são empresas de bandeira, como deveria ser o caso dos CTT, uma empresa lucrativa até cair nas mãos dos privados, que se aproveitam do Estado para fugirem às suas responsabilidades, perante 10 milhões de pessoas carecas de saberem que isto não vai lá com paninhos quentes e abracinhos de Marcelo Rebelo de Sousa.
Não sei se a classe política, de onde começam a emergir novos líderes, como é o caso de André Ventura, não merece o país que temos. Desde Cavaco Silva a António Guterres, dois dos mais conhecidos governantes do regime democrático que sucedeu a Salazar e Marcelo Caetano, nenhum deles teve coragem e inteligência política para fazer a reforma do Estado.
Quem trabalha, e tem que lidar com a administração pública, sabe que, a exemplo do que se passa nas instituições militares, quem manda nos gabinetes dos ministros e na administração central são os sargentos, ou seja, aqueles que controlam a máquina, que defendem com unhas e dentes as suas corporações, que não cedem um milímetro quanto aos seus privilégios e dos seus camaradas de partido. Na maior parte dos casos, os governantes e os seus homens de mão nos organismos do Estado são peças que qualquer sargento ao serviço de interesses corporativos facilmente avaria ou põe na oficina para revisão prolongada. Eles mandam no dinheiro, mas também nas prioridades; são eles que escolhem quem tem acesso ao dinheiro mas também à honra de ser tratado de igual para igual. Na maioria dos casos passamos o nosso tempo de vida na parada do quartel, ao sol e à chuva, como recrutas, à espera da hora do barbeiro, do acesso às camaratas e na esperança de que o dia seguinte não seja de chuva. JAE.
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