Sou um viciado no jogo de cartas. Era adolescente e já me sentava na mesa de jogo ao lado de homens que tinham idade de serem meus pais e tudo tentavam para me fazerem o ninho atrás da orelha. Nessa altura viciei-me para toda a vida no jogo do burro; da sueca; do king e do sete e meio; sempre a dinheiro e com parceiros como o José Joaquim Estorninho que morreu recentemente com 86 anos. Foi nessa época, entre a adolescência e a idade adulta, que o gosto e o vício do jogo constituíram uma das disciplinas mais importantes na minha formação. Aprendi a ganhar e a perder mas mais importante foi a forma como aprendi a ver como os meus parceiros de mesa se comportavam na hora da vitória e da derrota; esse foi o ensinamento mais importante que ainda hoje me faz pensar que contínuo viciado no jogo embora não pratique.
O melhor lugar para conhecer uma pessoa é a uma mesa de jogo. Ter 18 anos e poder bater as cartas na mesa contra adversários que tinham filhos da minha idade foi um privilégio. Sentado numa mesa de jogo sete horas seguidas aprendi a dar valor ao tempo que roubava às minhas leituras; fumando um maço de cigarros durante uma noite de jogatina aprendi a controlar o vício do tabaco; ouvindo dos mais velhos algumas ameaças que incluíam “um murro nos cornos” aprendi a calar a boca quando tenho razão e discuto com pessoas cegas e desonestas.
Um dia vou voltar a jogar as cartas como no início da minha idade adulta. O meu desejo é que seja contra adversários jovens com idade de serem meus filhos. Essa é a minha grande ambição: envelhecer sem ter vergonha do vício de jogar, fumar e beber e, quem sabe, pertencer ao clube do D.I.V.A. ( Departamento de Investigação da Vida Alheia) que é o clube dos homens que se sentam num banco de jardim ao fim da tarde a verem passar as mulheres apontando o dedo a todas as que eles já comeram e às que eles não comeram mas sabem a quem é que elas dão o corpo.
JAE
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